Programa de empreendedorismo capacita e incentiva o protagonismo de mulheres do Grande Bom Jardim
Em formato 100% online, nova edição do Trilha Florescer auxilia 38 empreendedoras do bairro a estruturarem seus negócios
Mudar a própria realidade, fazendo o negócio tão sonhado “ir pra frente, florescer”. É isso o que mais deseja a atual dona de casa Nadine Souza, de 34 anos. Ela é uma das 38 moradoras do Grande Bom Jardim selecionadas para participar da segunda turma do programa de empreendedorismo feminino Trilha Florescer.
Desenvolvido pelo projeto de negócio social Somos Um, o Trilha Florescer valoriza os nano e micro negócios, fortalecendo o comércio local. Visa, sobretudo, capacitar e incentivar o protagonismo de mulheres por meio do empreendedorismo. É o que Nadine mais busca.
Por nunca ter empreendido, diz sentir o peso de “todas as dificuldades” para dar o primeiro passo e entrar oficialmente no ramo de decoração de festas. Por isso, resolveu seguir a dica de uma amiga e se inscreveu no programa.
“Saber como investir, como proceder na área financeira, na área de divulgação. O empreendedorismo aborda várias áreas e eu não sei de nada. Então, pretendo aprender, abrir a minha mente, fazer florescer os meus projetos a partir do que eles [do programa] têm pra me ensinar”.
Hoje, Nadine decora apenas festas dos dois filhos, de amigos e familiares. Também ajuda o marido a fabricar cintos, mas sem nunca perder de vista o objetivo de “expandir muito esse projeto que tenho no meu coração. É um sonho que eu sempre tive de colocar pra frente porque eu gosto muito de decoração, de ver o brilho nos olhinhos” de quem tem a festa decorada.
Nascida e criada no Grande Bom Jardim, Ledla Maria Gomes Silveira, 25, viu a mãe - que confecciona bonecas de pano e roupas infantis - participar da primeira turma do Trilha Florescer, em 2020. Este ano, quis viver a mesma experiência.
Mãe de dois filhos, Ledla já possui um pequeno empreendimento, uma confecção de roupas femininas. No entanto, sente a necessidade de adquirir mais conhecimentos para expandir o negócio e ficar mais capacitada para lidar com as burocracias inerentes à atividade.
“Comecei esse negócio no fim do ano passado e busquei a Trilha Florescer pra me capacitar melhor. Eu mesma que fabrico [as roupas] e vendo. Quero saber precificar as peças direitinho, pra não trabalhar de graça, saber onde vender, como capacitar outras pessoas. Eles ajudam muito a gente nesse quesito e é isso o que eu quero”.
Ledla também deseja aprender no curso como utilizar as redes sociais da melhor forma possível. “A rede social é uma vitrine, então você tem que saber se posicionar, como se comportar com o cliente, saber vender, não mostrar o preço, mas o valor [da marca]”.
Programa em expansão
Por meio de uma plataforma digital, Ledla, Nadine e outras 36 mulheres com veia empreendedora podem assistir aulas gravadas e ao vivo da Trilha Florescer, desde a última segunda-feira (14). E participar de oficinas, workshops, webinários e mentorias sobre o passo a passo da jornada empreendedora, com partilhas de experiências durante quatro meses.
Devido à pandemia de Covid-19, o formato da programação deste ano é 100% online. O que possibilitou a participação simultânea de mais mulheres. Na edição do ano passado, 23 mulheres do Grande Bom Jardim foram capacitadas, após seleção que avaliou suas intenções empreendedoras.
O Florescer foi realizado mais uma vez com moradoras do bairro, pois é lá onde já são desenvolvidas várias frentes de trabalho, justifica a fundadora e CEO do Somos Um, Ticiana Rolim.
A Somos Um tem feito várias ações no Bom Jardim porque o IDH do bairro é muito baixo, pelo índice de violência alto e pela vulnerabilidade do bairro mesmo. Também porque temos um parceiro forte, o padre Rino [Bonvini], do Movimento de Saúde Mental [Comunitária do Bom Jardim] que tem capital social muito forte no bairro”
Devido à grande procura, o programa de empreendedorismo deverá alcançar mulheres residentes de toda Fortaleza, até setembro. “A próxima turma que a gente for abrir, lá pra agosto, setembro, será para toda Fortaleza. Não vamos mais selecionar por bairro, mas pelo perfil socioeconômico e pelo perfil de intenção empreendedora”. Mais informações sobre a turma serão divulgadas até o fim da próxima semana nas redes sociais do projeto Somos Um.
O formato digital do Florescer é uma iniciativa do braço de educação da instituição. Como o curso é fácil de replicar, em breve, a Somos Um deve fechar parcerias com empresas e governos. “A gente está sendo procurado por empresas, por exemplo, que têm revendedores e trabalham com mulheres na periferia vendendo os seus produtos. Essa empresa pode querer fazer o [Trilha] Florescer e a gente dá o curso pra essas mulheres. E também para política pública”.
Mais que empreender
Para Ticiana Rolim, os resultados do Trilha Florescer vão além da questão financeira. “A Florescer vem para apoiar as mulheres a serem livres, felizes e a ocuparem seu lugar no mundo”.
Com o olhar de mulher e moradora do Bom Jardim, Ledla visualiza no Florescer uma oportunidade de o público feminino local ganhar protagonismo no mundo dos negócios, ainda majoritariamente associado ao masculino.
“[O programa] vem muito para ajudar nós, mulheres, que normalmente somos muito colocadas para baixo pelos próprios companheiros. Para fortalecer não só o empreendedorismo, como a nossa autoestima, de mostrar que a gente é mulher e que a gente também pode empreender”.