O que se sabe sobre a eficácia das vacinas aplicadas no Ceará contra a variante Delta?

Secretaria da Saúde confirmou a presença da variante no Estado

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Teste
Legenda: "As variantes são conjuntos de mutações virais que geram uma vantagem evolutiva dentro do processo de infecção", explica o imunologista Edson Teixeira.
Foto: Christof Stache/AFP

O Ceará identificou os primeiros casos da variante Delta da Covid-19 em viajantes advindos do Rio de Janeiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já informou que ela é mais contagiosa que as demais variantes já identificadas. Neste cenário, soma-se à preocupação com os riscos, um questionamento: as vacinas aplicadas no Estado são eficazes contra a Delta? 

Segundo o farmacêutico microbiologista Felipe Magalhães, todos os imunizantes têm demonstrado eficácia contra a Delta em diferentes níveis até agora, apesar de apresentarem uma pequena diminuição em suas competências em relação à formulação original do coronavírus.

As variantes dos vírus são criadas, pelo próprio vírus, para fugir do sistema imunológico, isto é, do sistema de defesa que, nesse caso, as vacinas também são componentes. E, à medida que essas novas cepas vão surgindo, a gente vai tendo que fazer testes para determinar a eficácia”
Felipe Magalhães
Farmacêutico microbiologista

Pfizer e AstraZeneca

Um estudo da Universidade de Oxford e do Imperial College London, divulgado no último dia 21, indica que a primeira dose da Pfizer/BioNTech e da Oxford/AstraZeneca apresenta 30,7% de efeito contra a variante Delta, com alternância entre 25,2% a 35,7%.

Já a segunda dose eleva esse percentual em até três vezes em combate à Delta. A AstraZeneca fica em 67%, com resultados variantes entre 61,3% a 71,8%. No caso da Pfizer, o índice chega a 88%, variando entre 85,3% a 90,1%.

CoronaVac

O Instituto Butantan anunciou que, durante testes de laboratórios, a CoronaVac apresentou bons resultados contra a Delta, mas ainda será detalhado o estudo. No último dia 21, a instituição informou que está promovendo uma série de pesquisas para avaliar se a CoronaVac é realmente eficaz contra a variante.

“São medidas que visam exatamente dar o atual panorama e ajudar a tomar as medidas compatíveis para fazer a contenção, se isso for necessário”, ressalta o presidente do Instituto, Dimas Covas.

Janssen

No início do mês de julho, a fabricante Johnson & Johnson expôs que a vacina Janssen é eficaz no combate à cepa Delta, produzindo uma resposta imunológica de, pelo menos, oito meses.

O imunizante “gera uma forte resposta de anticorpos neutralizantes que não diminui, mas que, na verdade, observamos uma melhora com o tempo”, informa o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Janssen, Mathai Mammen.

Sputnik V

Diante da promessa de que a Sputnik pode ainda chegar ao Ceará, existem também dúvidas sobre o imunizante. De acordo com o Instituto Gamaleya, órgão do Ministério da Saúde da Rússia - desenvolvedora da vacina -, o imunizante Sputnik V é 90% eficaz contra a variante Delta da Sars-Cov-2.

Conforme o desenvolvedor Denis Logunov, a vacina apresentou um menor declínio de eficácia contra a Delta do que qualquer outra vacina com resultados de eficácia publicados sobre a variante.

Esquema vacinal deve ser completo

Felipe Magalhães, farmacêutico microbiologista, informa ainda que a completude do esquema vacinal, como é proposto pelos fabricantes, é de extrema relevância para garantir maior eficácia. “É super importante, tanto pra própria pessoa quanto pra comunidade, para que a gente consiga fazer um bloqueio da transmissão do vírus”.

A partir do momento que você só toma a primeira dose [exceto a Janssen, de dose única], você não atinge a imunidade plena, então você tem mais chances de adquirir aquela doença e mais capacidade de transmitir”
Felipe Magalhães
Farmacêutico microbiologista

Para o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, tudo relacionado ao coronavírus é muito novo. “As coisas vão acontecendo e os pesquisadores vão estudando e tentando desvendar esses mistérios”.

O especialista pontua também que, além da nova cepa ser mais transmissível que as demais, “alguns estudos demonstraram que o período de incubação dela é menor, ou seja, ao ter contato com essa variante, o paciente rapidamente já apresenta sinais e sintomas da Covid-19”, explica.

Além disso, Edson indica apreensão em relação às taxas de mortalidade da variante, apesar de ainda não haver dados sobre isso. “Há uma preocupação, visto que estamos em um momento de retorno das atividades econômicas, de abertura, de contato maior entre as pessoas e, se você tem uma variante que é mais contagiosa, ela pode muito rapidamente elevar o número dos casos e isso fatalmente impactará nos serviços de saúde”.

Cuidados redobrados

Na tentativa de evitar a proliferação viral, o professor da UFC destaca que é necessário redobrar os cuidados de prevenção da doença, com o uso obrigatório de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social sempre que possível.

É claro que precisamos acelerar também, o mais rapidamente possível, esse processo de imunização, visto que em Fortaleza só temos em torno de 20% das pessoas com a segunda dose. No interior, muitas outras cidades nem isso conquistaram ainda. Nós temos que ter vacinas suficientes para começar a vacinação em quem ainda não foi vacinado e completar a vacinação naqueles que já receberam a D1”
Edson Teixeira
Imunologista e professor da UFC

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