Na Capital, leitos de UTI Infantil para Covid na rede pública triplicam em 1 mês; ocupação é de 100%

Até 25 de dezembro de 2020, havia oito leitos concentrados no Hospital Infantil Albert Sabin. Ontem (25), a unidade contava com 24 - todos ocupados

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: A demanda por leitos de UTI Infantil aponta para uma maior frequência de casos graves da Covid-19 entre crianças
Foto: Natinho Rodrigues

Com o avançar da pandemia, as demandas a serem atendidas se multiplicam, por vezes, em um ritmo mais rápido que as intervenções necessária. É o que se percebe na disponibilidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Infantil para Covid-19.

Em Fortaleza, os leitos desse tipo estão reunidos no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), e até o dia 25 de dezembro de 2020, a unidade contava com oito vagas. Destas, seis estavam ocupadas, o que representa 75% do total. Um mês depois, os leitos triplicaram, e o Hias agora conta com 24 vagas na UTI Infantil. A ocupação, porém, está em 100%. Os dados foram registrados na plataforma IntegraSUS, mantida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) e atualizada às 21h04 de ontem (25).

A demanda por leitos desse tipo aponta para uma maior frequência de casos graves da Covid-19 entre crianças, o que, na visão do infectologista pediátrico Robério Leite, se dá em função da evolução da pandemia. "Mesmo que as crianças tendam a desenvolver quadros de Covid mais leves, ou mesmo assintomáticos, existem aquelas crianças que por um motivo ou outro, embora tenham alguns fatores de risco pra complicação, vão desenvolver quadros graves que necessitem de UTI. E aí a gente começa a trabalhar com proporções. Se eu aumento o número de crianças infectadas, é porque estão mais expostas", pondera.

O médico acredita que é possível que o Ceará já tenha variantes do coronavírus mais transmissíveis em circulação, o que abre espaço para um aumento dos casos graves entre crianças.

"A pandemia é assim. Quando se tem aumento no número de casos, todos os outros eventos aumentam, inclusive o percentual de casos graves. E isso vale pra qualquer faixa etária", acrescenta.

Entre esse grupo de pacientes mais jovens, quando se trata da evolução para casos graves, há dois cenários possíveis. Um deles, conforme descreve Robério Leite, é frequente entre os pacientes adultos e resulta em um quadro respiratório grave em decorrência da própria infecção por Covid-19, na fase aguda.

Diagnóstico

Em outra possibilidade, as crianças desenvolvem uma síndrome clínica pós-infecciosa, chamada de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica. "Isso ocorre depois de quatro a seis semanas da infecção da criança pela Covid. E o momento em que ela se infectou foi com ou sem sintomas. Não se sabe exatamente por que, mas ela funciona como um gatilho para que, algumas semanas depois, aquela criança desenvolva uma inflamação descontrolada, que pode levar a alterações cardíacas com choque, arritmia. Isso a gente tem visto", alerta.

A chance de um caso mais grave foi o que tirou o sossego dos pais do pequeno Wallace Heitor, de apenas 2 anos de idade. No último sábado (25), o menino começou a apresentar intensa falta de ar, e foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Autran Nunes. Lá, foi identificada a suspeita de infecção por Covid-19 ou por uma pneumonia bacteriana.

Sem o diagnóstico fechado, uma vez que o resultado do exame de Covid-19 ainda não foi liberado e a UPA está com o aparelho de raio-x quebrado, a criança continuou internada na unidade. Na manhã de ontem (25), Wallace apresentou uma piora e precisou ser intubado às pressas. Para dar continuidade ao tratamento, ele deve ser transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Infantil. Porém, no momento, não há leitos disponíveis em Fortaleza.

"Cada minuto que se passa, ele tá piorando mais. Cada vez que eu vou lá, ele está pior. Os médicos estão atendendo ele muito bem, mas falaram que ele precisa de uma UTI. Eles estão tentando conseguir, mas está sendo negado em todos os lugares porque está lotado de criança também", conta Erivan Rosa, pai de Wallace Heitor. Na porta de entrada da UPA, Erivan espera pelos breves momentos em que pode receber notícias sobre o estado do filho, que continua internado e acompanhado pela mãe. "Preciso de um leito urgentemente para o meu filho. Senão é esperar pelo pior. Só Deus mesmo pra salvar", lamenta. Segundo o pai, o pulmão de Wallace já está "muito comprometido".

Após o caso ter sido acompanhado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), segundo Erivan, o pequeno Wallace foi transferido para um leito do Hospital Infantil Albert Sabin no fim da noite da última segunda-feira (25).

Diante da falta de vagas disponíveis para o atendimento necessário na rede pública, o infectologista pediátrico cita possíveis alternativas para atender à demanda crescente.

"Se o sistema público por si só não dá conta de imediatamente providenciar um aumento de leitos de UTI, porque realmente tem uma limitação nesse sentido, a gente pode tentar contar também com os leitos de terapia intensiva privada", diz.
Ele reforça que o Sistema Único de Saúde (SUS) envolve também a rede suplementar, e, portanto, as unidades de convênios.

"Então, eventualmente, pode ser preciso que o SUS contrate leitos particulares, como já aconteceu em outras situações, quando a capacidade dele esgota pra prover novos leitos. Essa seria uma alternativa que sempre está na lista de opções dos administradores da saúde pública", avalia.

Cuidados

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado informou que, no Hias, todas as crianças diagnosticadas com Covid estão sendo devidamente assistidas e recebendo tratamento adequado em ala isolada. "A faixa etária das crianças é a partir de 3 anos de idade e o apoio ao atendimento infantil está sendo ampliado em parceria com o Hospital Infantil Filantrópico (Sopai)", diz.

Em relação aos cuidados necessários, Robério Leite enfatiza que é preciso ter atenção a sintomas específicos que podem indicar a evolução para casos graves. Os sinais incluem febre elevada e persistente por mais de três dias, vômito frequente, dor abdominal persistente ou algum grau de desconforto respiratório, destaca o médico.

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