MPCE recebe 433 notificações sobre vacinação contra Covid-19; mais de 300 são de irregularidades

Denúncias de fura-filas registradas desde o início da imunização incluem namorada de deputado, prefeito de cidade turística e o cantor Wesley Safadão

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Vacinação no Centro de Eventos
Legenda: O MPCE recebeu mais de 300 denúncias de irregularidades na vacinação, caso dos fura-filas
Foto: Thiago Gadelha

“A contratada está desviando vacinas para parentes que sequer residem na cidade. Na data de hoje, a irmã e o cunhado dela que moram em Juazeiro postaram fotos sendo imunizados (aqui), desrespeitando os critérios de vacinação”. A denúncia foi feita por morador de um município próximo a Juazeiro do Norte, no Cariri, ao Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

Pedindo anonimato, por temer retaliações, denuncia com nome e sobrenome uma funcionária de Secretaria Municipal da Saúde que estaria favorecendo parentes até de fora do município.

Esta foi apenas uma das 433 notificações relativas à vacinação contra a Covid-19 feitas ao Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) até o dia 24 de setembro. Mais de 300 delas são denúncias de irregularidades, caso dos fura-filas.

Mas há também reclamações sobre a demora para a chegada de vacinas ou situações mais específicas, como não ter autorização para antecipar dose e conseguir voltar ao país onde estuda como bolsista universitário.

“Chegam casos de vários tipos, e depois seguimos para verificar irregularidades, se de fato houve beneficiamento. Mas há outros em que pode ter havido erro de preenchimento, ou mesmo a antecipação de vacina não ter havido, mas alguém suspeitou. Tudo depende de checar”, afirma o promotor Eneas Romero, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde (Caosaúde), do MPCE.

Vacinação no Centro de Eventos
Legenda: Segundo o MPCE, o fluxo de denúncias era maior no primeiro semestre, quando a vacinação estava em fases de grupos prioritários
Foto: Halisson Ferreira

Eneas explica que o fluxo de denúncias era maior no primeiro semestre, quando a vacinação estava em fases de grupos prioritários.

“Quando temos, mais recentemente, denúncias de fura-fila por estar fora da faixa etária, é até mais fácil de chegar, pois basta cruzar a idade da pessoa com o calendário de vacinação”.

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Namorada de deputado teria sido beneficiada

É dessa forma que o MPCE está investigando a denúncia de que a namorada de um deputado estadual teria se vacinado no mês de junho sem que houvesse qualquer critério para estar no período (comorbidade, profissional da linha de frente etc).

A jovem denunciada é estudante universitária e “digital influencer”. O Ministério Público, no entanto, não confirmou se já houve averiguação dessa denúncia.

Wesley Safadão e Thyane Dantas
Legenda: Thyane Dantas e Wesley Safadão foram indiciados pela Polícia Civil pelo crime de peculato em inquérito que apurou a vacinação irregular do casal
Foto: Reprodução/Instagram

Safadão, Thyane e mais cinco são indiciados por peculato 

Também entrou no radar o caso do cantor Wesley Safadão e da esposa dele, Thyane Dantas. Eles e mais cinco pessoas foram indiciados pela Polícia Civil pelo crime de peculato em inquérito que apurou a vacinação irregular do casal.

O Ministério Público irá se pronunciar, assim como fez nos casos de Juazeiro do Norte, onde foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal para apurar denúncias de que funcionários da Secretaria da Saúde teriam furado fila para se vacinar.

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Prefeito de Jijoca de Jericoacoara e secretária pagarão multa de R$ 88 mil

O caso mais avançado, até agora, foi em Jijoca de Jericoacoara, onde o prefeito e a Secretária de Saúde teriam furado a fila de vacinação. Lindbergh Martins e Joila Carneiro foram o segundo e terceiro a serem imunizados no município, mesmo sem fazer parte do grupo prioritário da 1ª fase da campanha.

Eles assinaram, em abril, um acordo de responsabilização, pelo qual terão que pagar, em multas, o montante de R$ 88.400. “Não deixa de ser importante, pois é um reconhecimento da irregularidade”, afirma Eneas Romero, do Ministério Público estadual.

 

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