Messejana completa 260 anos nesta quarta-feira (1º); entenda a história da fundação do bairro
Historiador Felipe Neto traça os percursos que justificam a data, outrora alvo de contradições
Um dos bairros mais tradicionais de Fortaleza, a Messejana completa, nesta quarta-feira (1), 260 anos de existência. A data, conforme o historiador Felipe Neto – morador e estudioso da localidade, graduado pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) – remete à época em que Portugal precisava ampliar a presença administrativa no Ceará e adotou a medida de fundar vilas onde existiam aldeamentos de índios. Messejana foi uma delas, juntamente a outras, como Parangaba e Caucaia.
Existe uma lei em Fortaleza (nº 10.440, em vigor desde 2016) que oficializa a efeméride, embora o processo no qual ela se deu tenha enfrentado algumas questões importantes. A principal delas esteve relacionada à própria data de fundação do lugar.
“Algumas pessoas defendiam o dia 18 de março de 1663 como o possível momento da formação do bairro, mas é uma construção infundada. Há um vasto material de pesquisa histórica, especialmente no Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, em que consta o dia 1º de janeiro de 1760 como a data correta”, explica Felipe.
De acordo com o estudioso, é possível também encontrar no Instituto a ata de fundação do bairro, indicando a data e o modo como tudo aconteceu – incluindo realização de cerimônia e eleição de representantes. “A formação da aldeia que hoje conhecemos como aldeia de Palpina, e que deu vazão ao povoamento que depois formaria Messejana, só aconteceu nos idos de 1690. A fundação da vila, dando forma, administração e formalidade ao lugar, se dá apenas em 1 de janeiro de 1760. É a partir daí que nossa região é reconhecida como Messejana, um centro organizado e populacional”.
Processos
Residente no bairro desde 1981, a ex-vereadora Toinha Rocha (Psol) já havia apresentado na Câmara Municipal de Fortaleza, em 2014, o Projeto de Lei Ordinária 272/14, que oficializava a data em que se comemora a fundação e o aniversário de Messejana, estabelecendo o Marco Central na Praça da Igreja Matriz.
Segundo ela, “foi pelo motivo de defender uma questão histórica mesmo, e não algo relativo à demarcação política”. O feito promoveu intensos debates acerca do período correto de celebração. Para Felipe Neto, esse movimento de enfatizar a relevância da efeméride é valorizar os próprios percursos do bairro.
“Messejana foi um município independente de Fortaleza até 1921. Éramos uma cidade. Fomos grandes produtores de cana de açúcar. Os sítios daqui também foram os primeiros a libertar os escravos. Recebemos, em 1824, uma seção da Confederação do Equador nas posses da família do escritor José de Alencar. Falando nele, tem também a figura do romance ‘Iracema’. Ou seja, o bairro tem todas essas especialidades e as pessoas precisam saber que há um marco que determina isso e que ele é importante. É necessário respeitar nossa própria cultura.
Relevo
Há quase 40 anos morador do lugar, o historiador ainda reflete sobre a atual situação do espaço que reside. Na visão dele, ainda se enfrentam grandes entraves, como falta de saneamento básico e questões relativas ao centro de Messejana, que precisa ser repensado.
“Lá, existe um grande grupo de trabalhadores que atuam nas praças e não têm nenhuma segurança. Além disso, ainda não há uma creche pública infantil, e existe também o problema crônico da lagoa. Desde 2004, com a inauguração da urbanização, não houve nenhuma intervenção séria no local. Vamos, assim, lutando e dizendo às administrações que essas intervenções precisam ser feitas”.
Por outro lado, reconhece a importância da reforma no terminal de ônibus e da construção de mais escolas da rede pública de ensino. Mas ainda é pouco para um local tão singular. “A Messejana precisa ser vista com carinho e é por isso que, nós, no nosso campo, defendemos a questão cultural, identitária e social, para que ações sejam realizadas em conformidade com a importância do bairro para a história de Fortaleza e do Ceará”, conclui.
Saiba Mais: Em 2014, escrito pelo vereador Edmar Freitas, foi publicado o livro “Messejana”, saído pela Coleção Pajeú, coordenada pelo poeta Gylmar Chaves. A obra conta toda a história do bairro, descortinando interessantes narrativas acerca do lugar e refletindo sobre as fronteiras entre os tempos antigos e a modernidade. Pode ser lido por meio de link online. Link para o livro