Mapeamento no Grande Bom Jardim identificará pontos de transmissão de Covid-19

Região conta com 396 óbitos e 5.782 casos confirmados, conforme boletim da Secretaria Municipal da Saúde divulgado no dia 12

Escrito por Natali Carvalho , natali.carvalho@svm.com.br
Legenda: O GBJ é um território formado por cinco bairros da Capital, sendo eles Canindezinho, Siqueira, Bom Jardim, Granja Lisboa e Granja Portugal.
Foto: Camila Lima

Diante do crescente número de casos e óbitos pelo novo coronavírus no Grande Bom Jardim, uma equipe técnica em geoprocessamento foi criada e apresentará um estudo, em até 15 dias, com um mapeamento sobre as áreas de potencial contágio para a doença. Este foi um dos resultados da reunião ocorrida na manhã desta sexta-feira (19), entre o Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 no Grande Bom Jardim (GBJ) - criado em abril de 2020 -, a Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (DLIS) e a coordenadoria da Infraestrutura da Regional V.

O GBJ é um território formado por cinco bairros da Capital: Canindezinho, Siqueira, Bom Jardim, Granja Lisboa e Granja Portugal. A região possui 223.813 habitantes, 396 óbitos e 5.782 casos confirmados. Somente nos últimos 15 dias, o número de infectados foi de 600, segundo Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), divulgado no último dia 12. Em reportagem do Diário do Nordeste do dia 7 de março, a área já tinha mais mortes do que cidades como Juazeiro do Norte e Sobral.

bom jardim
Legenda: Os homens acusados de integrar o grupo de extermínio atuavam no Grande Bom Jardim.
Foto: Fabiane de Paula

Por isso, segundo Adriano Almeida, sociólogo e integrante do Comitê Popular GBJ e membro da Rede DLIS, existe a necessidade de um diagnóstico cartográfico. Pois, segundo ele, no momento que forem identificados os pontos de transmissão na região, as ações de controle sanitário promovidos pela Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) serão mais eficientes. 

“Essa equipe técnica multiprofissional e intersetorial fará a composição cartográfica de informações sobre as comorbidades sociais e as vulnerabilidades urbanísticas do território do Grande Bom Jardim. Tem caráter de urgência e emergência esses dados especializados, que possam orientar e subsidiar a intervenção de ações de controle sanitário”, explica.

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De acordo com o professor e sociólogo da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Eduardo Machado, “a população local do Grande Bom Jardim está sofrendo muito”. Por isso, a sociedade civil local se organizou para criar um comitê para enfrentar a Covid nesse território. Essa organização está dialogando com a Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, demandando uma atuação prioritária e ações do poder público.

“Nesse contexto, o comitê percebeu ser necessário realizar um diagnóstico nesse espaço, para analisar maiores pontos de transmissão e famílias atingidas. Se criou um grupo de trabalho para gerar esse diagnóstico territorial. Serão informações espacializadas para que se possa definir formas de intervenção”, afirma. Ele acrescenta ainda que “essa experiência é inovadora e pode ser muito importante para democratizar a gestão pública, se houver realmente uma participação conjunta do Estado”, conclui.

Quem fará parte do Grupo de Trabalho:

  • Arquiteta urbanista Professora Dra. Clarissa Freitas do Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal do Ceará (UFC),
  • Os sociólogos: Eduardo Gomes Machado, professor titular e coordenador do projeto de extensão Diálogos Urbanos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e Adriano Almeida;
  • Os geógrafos Edivânia Marques, professor Dr. Victor Régio da Silva Bento, da Universidade Federal do Acre (UFAC), e doutoranda Regina Balbino da UFC;
  • Psicólogo social Rogério Costa;
  • ​Coordenadoria de Infraestrutura da Regional X e V.

Saiba quais os indicadores que farão parte do mapeamento:

  • Pontos críticos de aglomeração;
  • Delimitação físico-geográfica de cada um dos cinco bairros;
  • Localização espacial das unidades de saúde presentes na área do GBJ;
  • Delimitação socioespacial da área de atendimento das unidades de saúde;
  • Indicação dos fluxos para cada unidade de saúde;
  • Localização espacial de unidades de saúde que não estão no território do GBJ, mas que atendem população local do GBJ e indicação dos fluxos;
  • Indicação socioespacial e linha do tempo dos dados de adoecimento e óbito, com delimitação por bairro e, se possível, por comunidade;
  • Identificação de comunidades/ruas/quadras/áreas críticas, por bairro;
  • Localização da feira e área de abrangência de consumidores;
  • Localização de supermercados;
  • Localização de obras de construção civil;
  • Localização de escolas municipais, estaduais e áreas de abrangência;
  • Espacialização da localização de moradia/comunidade/bairro de pessoas testadas positivas ou que vieram a óbito por covid 19;
  • Identificação das vias mais comuns de fluxo de transporte público/bicicleta/a pé;
  • Identificação dos pontos espaciais de moradias (quantas pessoas por cômodo) e áreas com alta densidade demográfica;
  • Identificação espacial de áreas sem saneamento, especialmente rede de esgotamento sanitário;
  • Identificação espacial de famílias em situação de extrema pobreza;
  • Identificação espacial de famílias chefiadas por pessoas sem escolaridade;
  • Identificação espacial de famílias com comorbidades, sobretudo hipertensão e diabete.
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