"Hoje me sinto no limbo": gestantes que tomaram Astrazeneca vivem medo por não completarem vacinação

O imunizante foi suspenso pelo Ministério da Saúde após suspeita de efeito adverso grave no Rio de Janeiro

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
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Legenda: Plano Nacional de Imunizações (PNI) suspendeu vacinação do grupo com a segunda dose até segunda ordem.
Foto: Shutterstock

Após a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 Oxford/AstraZeneca em gestantes e puérperas, orientada pelo Ministério da Saúde, mulheres grávidas - que já tomaram o imunizante como primeira dose - relatam sensação de desamparo em torno da falta de informações sobre a finalização do esquema vacinal com a D2.

A orientação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) é seguir o Ministério da Saúde, que suspende a vacinação com o imunizante e autoriza a aplicação da D2 com AstraZeneca apenas 45 dias após o parto.

Para a jornalista Ludmila Wanbergna, 37 anos, que está no sexto mês de gravidez e tomou a D1 com a AstraZeneca no dia 15 de abril, o temor de não ter completado a imunização é algo presente no seu cotidiano.

“A gente sabe das consequências do coronavírus pras gestantes, né? Tanto pra mim quanto pro meu bebê... então, eu fico me sentindo completamente desamparada, abandonada, porque nem a Prefeitura de Fortaleza nem o Governo do Estado se posicionam com relação a isso”, pontua.

O que a gente precisa é de informação, de uma posição pra que a gente não fique no abandono, porque hoje eu me sinto no limbo”
Ludmila Wanbergna
Jornalista

Wanbergna diz que, inclusive, se dirigiu a um posto de saúde no bairro São João do Tauape, durante esta semana, após notar que havia sido agendada para a segunda dose no Saúde Digital. No entanto, quando chegou ao local, não conseguiu receber a vacinação, pois só havia a AstraZeneca disponível.

“[Assim], me orientaram a ir no Centro de Eventos porque lá tinha Pfizer. Chegando lá, eles disseram que não podiam vacinar com a Pfizer porque o Governo do Estado não tinha nenhuma nota técnica a respeito [disso] e isso é muito desesperador”, esclarece.

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Legenda: Ludmila Wanbergna ao receber a primeira dose da AstraZeneca no Centro de Eventos, em Fortaleza.
Foto: Arquivo Pessoal

A luta para completar sua imunização se baseia na adoção de um novo protocolo pela prefeitura do Rio de Janeiro, liberando a segunda dose da Pfizer/BioNTech para as mulheres grávidas que tomaram a D1 com a AstraZeneca. A jornalista acredita que possa ser uma saída viável para o problema.

“Eu torço que [para que] isso também seja adotado aqui para que a gente possa se proteger, e a gente tenha a chance de ter o nosso bebê já imunizado quando ele nascer… é isso que eu quero muito de coração e desejo que seja feito”, reflete.

Tristeza e solidão

Por conta dos riscos de contaminação, Ludmila relata também a tristeza de não poder dividir os momentos da gravidez com as pessoas importantes de sua vida. “Eu não recebo visita de ninguém, ou seja, todo aquele convívio social que você gostaria de viver, compartilhar sua gestação com a sua família, com os seus amigos não é possível”.

Viver a gestação em situações normais já é muito difícil e você viver uma gestação durante uma pandemia é muito difícil, a gente fica se sentindo insegura. Eu não saio de casa pra absolutamente nada, a não ser pra consultas e exames”
Ludmila Wanbergna
Jornalista

A situação de medo também é enfrentada pela psicóloga Verlene Alves, 31 anos, gestante que tomou a primeira dose da AstraZeneca no dia 20 de abril. “Eu tenho medo que esse atraso possa prejudicar a efetividade da vacina, porque existe uma janela de 12 semanas de uma dose para outra”.

A situação leva a psicóloga a uma série de questionamentos. "Será que eu estou passando imunidade para o bebê só com a primeira dose? Ficar tanto tempo de uma dose para outra pode perder essa efetividade da vacina? O que eu gostaria que fosse feito é que a segunda dose fosse da Pfizer", diz.

Além disso, Verlene explica que já adquiriu a Covid-19 durante a gestação. “Então eu sei o quanto é ruim e delicado você passar pela doença numa situação de vulnerabilidade maior que é a gestação”.

Riscos da Covid-19 na gestação

De acordo com a ginecologista e obstetra Mayna Moura, as gestantes e puérperas apresentam um risco maior de gravidade em relação à Sars-Cov-2, pois “própria gestação apresenta alterações fisiológicas para o organismo dessa mulher, o que pode proporcionar uma alteração no estado de coagulabilidade do sangue dela, alterações no sistema imunológico, [com uma] maior suscetibilidade a infecções”.

A especialista explica ainda que a Covid-19 também proporciona alterações significativas no organismo, podendo causar “alteração no crescimento do bebê dentro do útero, baixo peso dos bebês quando nascem e aumento da chance de sangramento tanto durante a gestação quanto durante o parto e pós-parto”.

Existem estudos que já estão comprovando que existe uma passagem de células de defesa através do leite para o bebê das mães que foram vacinadas, então é um estímulo a mais para que essas mulheres tomem a vacina: proteger a si e transmitir proteção para o seu bebê”
Mayna Moura
Ginecologista e obstetra

Orientação oficial

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) informou que, por enquanto, segue as orientações do Plano Nacional de Imunizações (PNI) e que, neste caso, as imunizações com a segunda dose no grupo estão suspensas até segunda ordem.

Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza expôs, em nota, que “as gestantes e puérperas (incluindo as sem fatores de risco adicionais), que já tenham recebido a primeira dose da vacina AstraZeneca/Oxford/Fiocruz, deverão aguardar o término do período da gestação e puerpério (até 45 dias pós-parto) para a administração da segunda dose da vacina”.

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