Fortaleza tem apenas 6,7% de áreas verdes

Segundo especialista, a baixa quantidade resulta na poluição do ar e da água na Capital e na má qualidade de vida

Escrito por Theyse Viana - Repórter ,
Legenda: De acordo com o Plano Plurianual (PPA) do Município, Fortaleza possui uma média de 8m² de área verde por habitante. O índice não atinge sequer a quantidade mínima de 12m² recomendada pela Organização Mundial da Saúde
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Na fumaça dos carros, no asfalto. No concreto dos muros, nos móveis empoeirados de casa. Em cidades grandes e sempre em horário de pico como Fortaleza, o cinza se replica em cada canto, coabita com os citadinos os cômodos, as ruas e avenidas, de uma urbe sufocada. O respiro, assim, pode residir à beira de um mar cercado por edifícios ou nas áreas verdes espalhadas em parques e vias da Capital, que, atualmente, ocupam apenas 6,7% do território da cidade - "número ainda insuficiente para a manutenção da qualidade de vida", como reconhece o texto do Plano Plurianual do Município (PPA).

De acordo com o documento, que prevê as ações governamentais na cidade para os próximos quatro anos, Fortaleza possui uma média de 8m² de área verde por habitante. O índice não atinge sequer a quantidade mínima de 12m² recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e está ainda mais distante do ideal. Segundo dados da OMS, o objetivo é que cada metrópole tenha 36m² de área verde - ou, aproximadamente, três árvores - disponíveis para cada morador.

A meta mínima, porém, só deve ser atingida na Capital cearense em 2021, segundo prevê um dos sete eixos abordados pelo PPA. Conforme o documento, cerca de R$ 1,39 bi do orçamento total será destinados à proteção do meio ambiente e dos recursos naturais das áreas urbanas, "que vêm sofrendo, historicamente, um processo de degradação".

Índice

Para o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, as consequências do baixo índice de áreas verdes na cidade implicam não só na obtenção de "níveis bastante baixos de biodiversidade de fauna e flora", mas também na má qualidade do ar e na diminuição dos recursos hídricos disponíveis à população.

"Diminuir as áreas verdes é contaminar e destruir reservas estratégicas de água doce em regiões secas. Além disso, sobretudo em Fortaleza, essa degradação causa o assoreamento dos canais, fazendo com que poucas chuvas levem a cada vez mais intensos episódios de deslizamentos e inundações", analisa o geógrafo da UFC.

Outro desdobramento do déficit de áreas verdes, que cruza a qualidade de vida da população, como aponta Meireles, é que "elas são fundamentais para se inserir ambientes de lazer, educação ambiental e pesquisas" na cidade. O geógrafo Jeová Meireles ressalta ainda que "contar árvores nos canteiros centrais como áreas verdes é importante, mas o que realmente funciona e precisa ser pensado como solução são áreas com cobertura vegetal contínua, como o Parque do Cocó e Sabiaguaba".

Recuperação

Dentre os "projetos de recuperação e ampliação das áreas verdes" a serem implementados pelo PPA, já no próximo ano, estão a promoção de ações de educação ambiental e a revitalização e arborização de 25 logradouros públicos. O Plano prevê ainda a ampliação e recuperação da cobertura vegetal do Município, por meio do plantio de 120 mil mudas em 2018. Até 2021, planeja a Prefeitura, Fortaleza deve contar com mais de 62 milhões de m² de cobertura vegetal - 33% a mais do que os 22,4 mi previstos para 2018.

As soluções, contudo, como frisa Jeovah Meireles, devem ser mais complexas e abrangentes. "É necessária uma reestruturação das margens de lagoas e canais, a retirada de construções inadequadas e ligações de esgoto clandestinas em áreas de risco e, principalmente, ter uma fiscalização rígida. Daqui a pouco, a cidade ficará tão incômoda que seremos obrigados a tomar essas decisões", pontua o professor.

A Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) afirmou que Fortaleza tem avançado no que diz respeito às metas estabelecidas em relação à área verde. Destacou a regulamentação e criação de 23 Parques Municipais na Cidade, pelo prefeito Roberto Cláudio, que também aumentou a Zona de Proteção Ambiental (ZPA) do Plano Diretor, o que significou um incremento de 1,8 milhões de metros quadrados de área verde regulamentada na Cidade.

Dessa forma, conforme a Seuma, a meta foi alcançada ainda em 2015, quando atingiu-se a marca de 8m2 de área verde por habitante. A cobertura vegetal da cidade passou de 4m² de área verde/hab em 2005 para 8m² de área verde por habitante em 2015. Por fim, informou que, de maio de 2014 até este ano, já foram plantadas por meio do Plano de Arborização mais de 85 mil árvores, plantadas e doadas.

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