Feiras de rua resistem e acontecem diariamente em diferentes bairros
Atualmente, há 65 pontos na cidade onde ocorre o comércio ambulante durante todos os dias da semana
"Você quer escolher ou quer que eu escolha? Aqui o cliente é quem manda". "A acerola é dois contos, mas pra você eu faço três latas por R$ 5,00". Estas frases, tão típicas do modo cearense de negociar, ainda são comuns de se ouvir por toda a Capital, em suas 65 feiras livres que ainda resistem à concorrência com os supermercados e oferecem os produtos mais variados durante os sete dias da semana.
É assim que o feirante Adonias Barbosa ganha a vida há 52 anos. "Todos os dias eu monto minha barraca numa feira diferente. Faço isso desde que eu tinha 13 anos", orgulha-se.
Para ele, neste mais de meio século, o funcionamento dos comércios ambulantes não sofreu grandes alterações, mas há uma diferença fundamental. "O que mudou foi a falta de clientes, com os vários mercantis que apareceram", lamentou Seu Adonias enquanto vendia suas frutas no Mercado dos Pinhões.
Produtos
A alguns quilômetros dali, na Cidade 2000, José Gonçalves oferecia os mesmos produtos na feira do bairro. Apesar da diminuição da clientela ao longo dos anos, o vendedor não reclama. "Atender bem é o segredo. A gente tenta ser amigo do cliente", disse o comerciante.
Entre uma venda e outra, o feirante contou que trabalha em quatro lugares durante a semana. Mas a rotina é puxada. "Levanto às 3h da manhã para ir à Ceasa (Centrais de Abastecimento do Ceará). Sustento minha família com isso aqui", ressalta.
Para os comerciantes, os clientes têm nas feiras livres a vantagem de comprar produtos mais frescos que os dos supermercados. Além disso, quem compra pode ainda barganhar o valor dos produtos. "Aqui o cliente pechincha bem. E a gente atende quando dá. O importante é agradar pra ele voltar", afirma José Gonçalves.
O feirante ainda ressalta, no entanto, que nem sempre os preços são mais baratos. "Isso depende da safra. A acerola está mais cara porque vem de Petrolina por causa da seca", explicou o feirante.
Safra
Quem compra, não reclama. "Aqui tem coisa que agrada mais. E o preço é sempre bom, ainda mais na safra", defende a professora Idel Vasconcelos, que semanalmente sai do Cocó, onde reside, para a feira da Cidade 2000. Para ela, outro diferencial é o do atendimento. "A gente também é bem tratado. É sempre bom comprar aqui", completa a professora.
O bioquímico José Sanches também defende as feiras de rua. Ele frequenta há mais de 40 anos o comércio instalado no entorno do Mercado dos Pinhões. "Gosto de vir sempre aqui porque as frutas são frescas e têm mais variedade. O preço às vezes compensa também", disse o bioquímico.
Outra característica das feiras livres é o ecletismo dos consumidores. Pessoas de todas as idades e classes sociais disputam o espaço e pechincham os preços com a mesma desenvoltura na busca do produto desejado entre as opções existentes, que incluem, além de frutas e cereais, carnes, roupas, produtos de limpeza, cosméticos e até consórcio de moto.
Regionais fazem fiscalização
As feiras são controladas pelas secretarias regionais correspondentes à área onde atuam. Na Secretaria Executiva Regional (SER) II, por exemplo, todos os comerciantes das nove feiras da área são cadastrados. A fiscalização é realizada por uma equipe composta por 12 agentes.
Já a SER III informou que o ordenamento nos 11 locais onde há o mercado livre é feito por Lei espontaneamente. "Cada feira livre da SER III conta com fiscais fazendo o controle e a fiscalização nas questões ambientais, sanitárias e de controle urbano", explicou o órgão em nota.
Enquanto isso, na Regional IV, além das oito feiras existentes, é feito também o controle no entorno da Igreja de Fátima no dia 13 de cada mês. Para solicitar autorização voltada a trabalhar nas feiras livres, o interessado deve comparecer à sede de cada Regional.
Enquete
Qual a vantagem das feiras livres na cidade?
"O bom daqui da feira é que a gente recebe tudo à vista. Eu também vendo algumas coisas para pagar em até sessenta dias, mas só faço isso para pessoas conhecidas".
Aridelson Freitas
Feirante
"Eu gosto da feira porque as frutas e verduras vendidas são mais frescas e acho os preços mais em conta. Só acho que os vendedores deviam ter mais cuidado com a limpeza desses locais".
Gisela Barroso
Costureira
Germano Ribeiro
Repórter