Falta de medicamentos de intubação pode afetar "todos os hospitais do Ceará", alertam distribuidoras
Alta demanda na segunda onda de Covid e retenção dos estoques pelo Ministério da Saúde geram desabastecimento do “kit intubação” no Estado
A preocupação com o colapso do sistema de saúde do Ceará tem ido além da disponibilidade de leitos de internação: o risco de desabastecimento de medicamentos do chamado “kit intubação” afeta toda a rede hospitalar, pública e privada, de acordo com o Sindicato do Comércio Atacadista de Medicamentos (Sincamece).
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O diretor da entidade, Flávio Timbó, afirma que as secretarias estadual (Sesa) e municipal de Fortaleza (SMS) têm sido alertadas, desde o ano passado, sobre a possibilidade de falta de drogas anestésicas e neuro bloqueadoras, indispensáveis à intubação de pacientes com Covid.
Nessa quarta-feira (24), Sesa, Sincamece e outros atores do fluxo de medicamentos no Ceará se reuniram para tratar da demanda. A pasta estadual requisitou o estoque de 26 distribuidoras, para “evitar o desabastecimento” nos hospitais cearenses.
Em nota emitida na manhã desta quinta-feira (25), a Sesa afirmou que a requisição “não afeta as aquisições de outras unidades de saúde públicas e privadas”, de modo que estoques já reservados seguirão o destino normalmente.
A Sesa pontua, ainda, que “se planejou para ter quantidade garantida de medicamentos para tratamento da Covid-19, mas os municípios estão solicitando empréstimos emergenciais em grandes quantidades devido ao momento crítico da pandemia”.
Medicamentos com baixo estoque
Os fármacos cujo estoque tem situação mais crítica são o propofol, midazolam, cisatracúrio, rocurônio e pancurônio, que são anestésicos e neuro bloqueadores, como explica Flávio Timbó. “A Sesa às vezes compra estoque para um ano, e recebe para um mês, devido à demanda. Se a Sesa está com dificuldade pra adquirir, imagine os municípios”, avalia.
O diretor do Sincamece explica que tanto as distribuidoras de medicamentos como as unidades de saúde públicas e privadas mantêm um “estoque de segurança”, extrapolando em duas ou três vezes a necessidade prevista. O problema é que o avanço desenfreado da pandemia sufoca as redes.
“A falta de produtos é mundial. A indústria não tem capacidade produtiva nem de insumos para atender o mercado. Toda a rede hospitalar do Ceará e do Brasil corre risco de desabastecimento, pública ou privada. O risco é iminente: a qualquer momento pode faltar em qualquer hospital”, alerta Flávio.
"Descoordenação" do Governo Federal
Outro fator, frisa o gestor, é a “descoordenação” do Ministério da Saúde no combate à pandemia. “Ele faz retenções de produção de medicamentos direto na indústria. Havia uma carga de propofol fabricada com destino ao Ceará, o MS vem e retém. Porque não se programou. E isso prejudica os estados”, pontua.
O Diário do Nordeste questionou o Ministério da Saúde sobre quando e por que são feitas essas requisições, para onde são direcionados os medicamentos requisitados e se a Pasta federal mantém diálogo com a indústria farmacêutica, as distribuidoras e as secretarias estaduais para organizar o fluxo.
Em nota, o MS garantiu que “começou a entregar, desde terça-feira (23), mais de 2,8 milhões de unidades de medicamentos de intubação orotraqueal (IOT) para todo o Brasil”, e que os envios “devem continuar ao longo dos próximos sete dias”, à medida em que as farmacêuticas entregarem os estoques.
“A logística híbrida com a integração pública e privada permitirá que os medicamentos estejam nos estabelecimentos de saúde em menos de 72 horas. O cronograma de entregas é feito pelo Ministério da Saúde com base no monitoramento realizado nos estados e municípios, em parceria com Conass, Conasems e Anvisa”, finaliza o documento.