Estudo aponta carência de 9,6 mil vagas em creches; Prefeitura contesta número e garante incremento

A procura pelo serviço cresce a cada ano, mas estudo do Cedeca mostra que houve redução no orçamento da Educação Infantil. A Prefeitura assegura que, para 2020, a oferta será ampliada em 7.400 novas matrículas

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Foto: Foto: Camila Lima

A demanda reprimida em creches para crianças de 0 a 3 anos, em Fortaleza, é de 9.689 vagas, de acordo com um estudo produzido pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), divulgado nesta terça-feira (14). Se 2019 "herdou" 7.725 vagas não atendidas, a entidade recomenda a abertura de 1.964 novas vagas por ano, de 2020 até 2024, considerando um aumento gradual nas buscas por matrículas.

O objetivo é alcançar a meta do Plano Municipal de Educação (PME), que prevê que 50% das crianças com até três anos estejam matriculadas em creches, até 2025. Porém, na Capital, o Cedeca indica que 62,9% das crianças nesta faixa etária estão fora das creches. A entidade aponta necessidade do preenchimento imediato, "urgente e necessário", de todas as vagas reprimidas para dar conta da demanda.

Dados da Secretaria Municipal de Educação (SME), obtidos pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que, em 2019, 22.042 crianças foram matriculadas na etapa creche, na Capital. O Município conta com 256 equipamentos de educação, sendo 161 Centros de Educação Infantil (CEIs) e 95 creches parceiras.

Orçamento

A SME garantiu que, para 2020, a oferta de vagas em creche será ampliada em 7.400 novas matrículas, com a construção de 37 Centros de Educação Infantil, em bairros como Ancuri, José Walter, Barroso, Papicu, Parque Dois Irmãos, Sapiranga, Canindezinho e Granja Lisboa, entre outros. "Fortaleza já registrou o acréscimo de 118 unidades de Educação Infantil em apenas seis anos, o que representa um crescimento de 80% no número de equipamentos", acrescenta a pasta.

Quem espera uma das novas unidades são as mães do bairro Parque Santa Maria, na Regional VI. Segundo a operadora de telemarketing Cristiana Oliveira, após sucessivos adiamentos, uma nova creche deve ser inaugurada no mês de março no bairro.

O equipamento já está cercado de expectativas. "Muitas famílias dependem da creche nova, porque a que tem já atende a vários bairros e não tem como elas procurarem outra. Estamos aguardando resposta da Prefeitura pra saber como vai ser", diz Cristiana.

O bairro foi inclusive território de uma tragédia. Em maio de 2018, quatro crianças que estudavam no CEI Professora Laís Vieira - que funcionava em uma casa alugada - caíram em uma fossa da unidade enquanto brincavam durante o recreio. A aluna Hannah Evelyn, de quatro anos, não resistiu. As demais crianças ficaram feridas. O episódio lançou as atenções sobre a condição estrutural dos estabelecimentos de ensino para as crianças.

O levantamento "Análise da Educação Infantil em Fortaleza: orçamento e direito à creche", contudo, também mostra que a Prefeitura de Fortaleza reduziu em 11,3% o orçamento da Educação Infantil, entre 2017 e 2018, embora a procura por vagas cresça a cada ano. Em 2017, os investimentos somaram R$ 163,7 milhões; já em 2018, caíram para R$ 145,3 milhões.

No entanto, a SME esclarece que "não reconhece a base de dados utilizada na análise do Cedeca" e que "nunca houve tanto investimento" na área da Educação Infantil. "Entre 2017 e 2019, Fortaleza acumula investimento total de R$ 550.000.000,00 na Educação Infantil. A Secretaria reconhece que ainda há muito que avançar, na área da Educação Infantil, por isso continuará empreendendo esforços na ampliação e melhoria do parque escolar", completa.

Segundo o assistente técnico do Cedeca, Renam Magalhães, embora o número de matrículas para crianças tenha crescido, não foi suficiente para cobrir a demanda.

"Você não assegura o direito porque não tem orçamento suficiente para ações infraestruturais. Isso acaba impactando na hora em que as famílias buscam os CEIs e vai aumentando a fila. Quando a Prefeitura não garante a matrícula, também impacta as mães. Elas queriam deixar os filhos na creche para trabalhar porque são mantenedoras do lar", avalia Magalhães.

Recuo

A nota técnica do Cedeca também nota que o orçamento para construção, reforma e ampliação de CEIs decresceu de R$23,5 milhões para R$14,5 milhões, entre 2017 e 2018. Porém, em atualização com dados do Portal da Transparência, aferidos já neste ano, constata-se que a mesma verba teve decréscimo para R$10,8 milhões, em 2019. Ou seja, na somatória dos dois anos houve redução de 54%. O Cedeca considera que "o quadro é um evidente desrespeito ao que preconiza o Plano Municipal de Educação".

O estudo foi elaborado a partir da Ação Civil Pública (ACP) ingressada pelo Cedeca e pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), contra a Prefeitura de Fortaleza, em fevereiro de 2019. Segundo Renam Magalhães, as partes aguardam manifestação do Poder Judiciário e as audiências que discutirão o tema.

Sobre a demora no atendimento às vagas nas creches, a SME informa que o tempo médio de espera varia conforme os bairros onde as demandas por vagas surgem e tem relação também com a sazonalidade da procura, de acordo com o mês da solicitação.

A Secretaria de Educação enfatiza ainda que na rede municipal "todos os esforços necessários são realizados para que as solicitações de matrículas sejam efetivadas no menor tempo possível".

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.