Esplanada foi o primeiro hotel cinco estrelas
O declínio começou em 2004, quando passou do grupo Otoch ao grupo português Dorisol Hotels
Durante uma década - período em que esteve desativado - o antigo Hotel Esplanada, situado no início da Avenida Beira-Mar, no cruzamento com a Avenida Barão de Studart, ostentou imponente beleza. A sua derrocada teve início em 2004, quando o hotel foi vendido pelo grupo Otoch, proprietário do empreendimento, para o grupo português Dorisol Hotels, com a proposta de que o prédio fosse soerguido e modernizado para posteriormente abrigar o Dorisol Grand Hotel Fortaleza.
A previsão era de que o novo hotel começasse a funcionar em setembro de 2005. Mas, após ter o cronograma adiado quatro vezes consecutivas, foi hipotecado pelo Banco do Nordeste (BNB), devido ao não pagamento das parcelas do financiamento por parte do grupo português. A partir de então, vários grupos interessados surgiram. Mas todos desistiram, devido ao tamanho da conta a ser paga, destaca no blog "Fortaleza em fotos", a socióloga Fátima Garcia.
A histórica edificação, datada da década de 1970, foi o primeiro hotel cinco estrelas de Fortaleza. Na época de sua inauguração, em 1978, era o edifício mais alto da Praia de Iracema. O arquiteto e urbanista Delbergue Ponce de Leon recorda que o projeto do Hotel Esplanada é do arquiteto Paulo Cazé, do Rio de Janeiro. Na época, o prefeito era Vicente Fialho e o governador César Cals de Oliveira. Com 73 metros, gabarito máximo de altura permitido para construção de prédios na orla até hoje, dispunha de 230 apartamentos, distribuídos em 18 andares.
Foi erguido pela construtora Santo Amaro, de Belo Horizonte. "Foi um marco, mas destoava dos demais pela altura", salienta Leon. O prédio, agora, está com os dias contados para ser demolido. A sua implosão, por meio de procedimento mecânico, começou a ser feita na última terça-feira (18) e deverá durar em torno de oito meses. Aos que já tiveram oportunidade de viver na edificação restará apenas o saudosismo dos bons momentos gozados no local.
Como seu pai era gerente residente, Luiz Gustavo Sola Torres, 35, hoje também gerente de hotel, viveu praticamente toda a adolescência lá. Ele conta que ficou surpreso quando recebeu a notícia da implosão e lamentou o triste fim daquele que já foi um dos hoteis mais importantes da cidade. "É uma pena, porque ele tem uma grande histórico, faz parte da memória da hotelaria de Fortaleza", destaca. Na opinião de Torres, o prédio ainda teria espaço para hotelaria, pela excelente localização em que está situado.
"Morei lá dos 9 aos 18 anos. As recordações que tenho são as melhores possíveis. Como o meu pai era gerente, a gente morava lá, em dois apartamentos, e tinha direito a usufruir de tudo do hotel. Gosto bastante de daquele lugar. Quando eu fiquei sabendo que iam demolir, fiquei triste. Não sei se hoje compensaria reformar, mas se tivesse sido feito na época que foi vendido teria valido a pena, porque a estrutura dele é excelente", frisa.
Chefes de estado e atores globais estão entre os famosos que se hospedaram no antigo Hotel Esplanada. Um dos momentos mais marcantes foi quando a Xuxa, então rainha dos baixinhos, ocupou a suíte presidencial. "O hotel praticamente parou por causa dela, uma multidão ficou do lado de fora. Eu fiquei impressionado com a quantidade de gente", afirma. Outro hóspede ilustre foi o ator americano Roger Moore, que interpretou James Bond no filme 007.
São fatos que, a partir de julho do ano que vem, quando a implosão mecânica está prevista para ser concluída, deverão permanecer só no imaginário daqueles que presenciaram estes fatos históricos. O pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, mais conhecido como Nirez considera a implosão do prédio uma estupidez. "Aqui o pessoal tem mania de comprar casas e prédios para derrubar e fazer outro igual no local. Não tem sentido. A grade dele está toda completa, inteira, o que deve estar ruim é o acabamento. Mas por aqui é assim, se derruba para fazer outro", lamenta.
Ainda não há projetos para o espaço. Em junho deste ano, o empresário Ivens Dias Branco comprou o prédio com intuito de torná-lo residencial. Mas, segundo Geraldo Magela, diretor técnico da Incorporadora e Construtora M. Dias Branco (Idibra), ainda não tem nada definido.
Luana Lima
Repórter