Encontrada a ave mais antiga do País
Fóssil da espécie Enantiornithes foi apresentado ontem por pesquisadores da Urca e da UFRJ
Nova Olinda. A ave mais antiga do Brasil foi encontrada na Chapada do Araripe. O achado fóssil da espécie Enantiornithes, foi anunciado ontem, por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca) e Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O material possui cerca de 115 milhões de anos e é da formação Crato. Trata-se do registro mais completo de todo o antigo continente de Gondwana. Essa espécie de ave era conhecida anteriormente apenas em poucos afloramentos da China e Espanha.
Com isso, os pesquisadores afirmam que há um aumento da distribuição paleobiogeográfica das aves de cauda longa Enantiornithes, até o momento apenas conhecida em fósseis da China. O novo achado abre as portas para um importante entendimento da evolução das aves da espécie na América do Sul. A descoberta amplia os registros das aves mesozoicas, com penas preservadas.
O doutor em Paleontolologia da UFRJ, professor Ismar de Sousa Carvalho, destaca o nível de conservação do jovem e pequeno pássaro, e excepcionalmente o nível de detalhamento que pode ser estudado do material. O fóssil apresenta longas penas na cauda, corpo, bico e parte dos olhos, além dos ossos das asas.
O material foi divulgado oficialmente ontem, na UFRJ, no Estado do Rio de Janeiro. Uma pesquisa desenvolvida pela UFRJ, em parceria com o Geopark Araripe, identificou o fóssil na Mina Pedra Branca, em Nova Olinda.
O pesquisador Idalécio Freitas, da Urca, um dos responsáveis pelo achado, e o chefe do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Artur Andrade, estiveram, ontem, no Rio de Janeiro, para participar da solenidade de apresentação da descoberta do pássaro.
Segundo o colaborador técnicos do Geopark Araripe, Ypsilon Félix, integrante da equipe de pesquisadores, esse foi o fóssil mais completo de ave encontrado durante as pesquisas realizadas no local. Há algum tempo, o material vinha sendo estudando. Para ele, esse novo achado, sem dúvida, enriquece o potencial paleontológico, que já é muito forte na Bacia Sedimentar do Araripe, como também valoriza a história de como contar a origem do planeta por meio dos fósseis.
"A Bacia tem essa tamanha grandeza de deter em sua área fósseis, com partes importantes preservadas, variedade e quantidade", diz ele.
No caso dessa ave, conforme o consultor, pela sua raridade, é duplamente significativo. Em agosto deste ano, o Cariri sedia o 26º Congresso Brasileiro de Paleontologia, com os maiores pesquisadores da área da paleontologia do Brasil e países do mundo. "Nada melhor do que o sediante de um evento no próprio terreiro da ciência, no campo da Bacia Sedimentar do Araripe, possa ser realizador de um encontro da área e o mais importante do País", afirma.
Preservação
O consultor técnico esteve coordenando, por dois anos, o projeto dos Jovens Paleontólogos, do Geopark Araripe, que atuava com a conscientização dos operários das minas de extração do calcário, na preservação dos fósseis. Com isso, conseguiram mais de 700 peças, posteriormente doadas ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. Ele destaca a preciosidade dos fósseis para o entendimento na vida do planeta. Em relação às aves, há uma peculiaridade, por possuírem estrutura delicada, com plumas e tecidos orgânicos.
"No caso específico deste pássaro, da Era Mesozoica, porém, os fósseis são conhecidos por serem mal preservados e que geralmente não possuem detalhes completos da anatomia e de como eram suas penas", completa Ypsilon Félix.
Elizângela Santos
Colaboradora