Creches: lugar de aprendizado e desenvolvimento infantil

Os centros de educação infantil são espaços fundamentais para o progresso afetivo e intelectual das crianças

Escrito por Karine Zaranza - Repórter ,

Estímulos como música, movimentos, contação de histórias, cores e brincadeiras, além da socialização, são a base da educação infantil. É brincando que a criança aprende e apreende o mundo. A creche para crianças de até 3 anos deixou de ser significado só de cuidado ou assistência social há algum tempo. É lugar, sobretudo, de educação e desenvolvimento.

Por isso é que, depois de uma origem de assistência social ligada às mães trabalhadoras, a creche passou a ser encarada como educação para a criança a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996. Desde então, tem-se tentado reverter uma defasagem histórica em relação à educação infantil. O Censo Escolar 2015 mostrou que desde 2010, há uma crescente nas matrículas em crianças em idade de creche no Brasil.

Tudo isso é reflexo do entendimento de que é necessário, quanto antes, estimulação adequada das crianças. "Antigamente existia um índice maior de represamento no 1° ano do Ensino Fundamental. Pesquisas mostram que uma criança que frequentou creche consegue atingir melhores metas, como a consolidação da alfabetização e o não abandona no ensino fundamental e médio", explica a Doutora em Educação e Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Neide Monteiro Veras.

Para a especialista, antes, as crianças eram deixadas à margem do processo e tinham seu desenvolvimento afetado, principalmente por ser a faixa etária de grande importância. "A educação tem que ser holística, trabalhando o psicomotor, linguagem e o afetivo. Na creche isso acontece com muito mais potencialidade porque existem pessoas formadas para trabalhar esse desenvolvimento", defende.

Tempo pedagógico

Na rede municipal, o eixo-norteador pedagógico é a brincadeira e integração. A coordenadora da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (SME), Simone Calandrine, ressalta que desde a hora que os pequenos chegam às unidades, existe uma rotina em que todas as ações fazem parte do processo de aprendizagem. Ela também ressalta que os professores são formados e passam por formação continuada todo mês.

"Eles aprendem quando tomam banho a importância da higiene, as partes do corpo. Quando há a contação de história, vem a linguagem. A roda de conversa desenvolve a oralidade. Até na hora do lanche é trabalhada a autonomia ao estimular que eles comam só", reforça ela sobre a rotina das atividades.

Muito embora a grande maioria dos pais procure a creche como espaço de cuidado e segurança para os filhos, aos poucos eles começam a perceber que há muito mais: há educação. E a interação com a família é fundamental. "Não se pode falar de educação infantil sem família e sem afetividade. A responsabilidade é compartilhada entre família e escola", reforça.

No Centro de Educação Infantil no Bom Jardim, a pedagoga Adriana Lima Barbosa é responsável pelas crianças do Infantil II. Para ela, o desafio de formar os pequenos cidadãos é grande. "É uma das fases mais importantes porque trabalha todo o sistema integral das crianças. O desafio é estar disposto a enfrentar as dificuldades cotidianas com muita leitura e jogos pedagógicos", ressalta ela que tem o maior orgulho de ver João Guilherme Rabelo, 2 anos, independente.

A mãe, Ângela Maria Silva, confessa que sempre desejou que João entrasse na creche. "Procurei muito um lugar para colocar ele com um ano, mas não consegui vaga. Agora estou feliz porque noto ele mais autônomo, sociável e falante".

Resultados

A realidade é semelhante para quem matriculou o filho na rede privada. A farmacêutica Caroline Benevides confessa que nunca desejou uma babá e via na creche o espaço ideal para cuidado, socialização e desenvolvimento de Pedro Vinícius, 1 ano e meio. "Na primeira semana já notamos que ele tinha uma rotina de horários. Na segunda semana veio com palavrinhas novas. Hoje despertou atenção para os livrinhos. Em casa eu olho a agenda e tento relembrar com ele nos fins de semana as brincadeiras e atividades. Assim vou interagindo em casa o que ele vive na escola", conta a mãe, entusiasta da educação infantil.

Na Creche Escola Caminho do Saber, Pedro Vinícius brinca com os outros coleguinhas, aprende a dividir os brinquedos, dança e adora desenhar e experimentar atividades como circuito sensorial. A professora Marilia Medeiros, responsável pelo Infantil I, conta que o menino apresentou desenvolvimento na fala, na parte motora e sociabilidade . Para um bom desempenho, ela reforça a necessidade de montar uma rotina com atividades lúdicas e criativas. "A alegria é ver os sorrisos no rosto e todo o desenvolvimento que eles vão apresentando", confessa.

Rede Ampliada

Em Fortaleza, a rede municipal teve uma ampliação. Em 2013, era 156 unidades de educação infantil e 14.520 matriculas. Em 2015, foram 201 unidades e 23.409 matrículas. Mesmo assim, ainda existe uma demanda por creches muito grande. A coordenadora da Educação Infantil da SME, Simone Calandrine, diz que o desafio é a universalização da educação infantil e a garantia da qualidade do atendimento. "Antes não tínhamos mapeamento dessa demanda. Agora, sabemos que essa demanda é pulverizada, com maior necessidade em regionais com maior concentração de pessoas, como a Regional V e VI. Apesar de temos ampliado muito, ainda tem muita gente esperando", reconhece ela. Para a Doutora em Educação Neide Monteiro Veras, se, há 30 anos, o trabalho tivesse sido feito para garantir o acesso à creche, muitos problemas do Ensino Fundamental e e Médio já estariam resolvidos. "É preciso determinação política para resolver o problema", defende.

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