Coronavírus é encontrado em amostras de esgoto de mais de 70 bairros de Fortaleza; veja mapa
Monitorar concentração do vírus da Covid nos resíduos da cidade pode servir para prever incidência de casos
Do trato respiratório ao intestinal, o coronavírus pode percorrer o corpo humano inteiro. É o que indica o estudo da Agência Nacional de Águas (ANA), que encontrou concentrações do vírus em amostras de esgoto de mais de 70 bairros de Fortaleza, ao longo de junho.
O monitoramento foi feito em 10 pontos da cidade (veja lista abaixo), entre 6 e 26 de junho, e todos apresentaram “concentração intermediária” do Sars-CoV-2 – entre 4 mil e 25 mil cópias do novo coronavírus por litro.
Seis dessas estações recebem esgoto de pelo menos 919.500 fortalezenses, segundo a ANA. As estimativas dos demais pontos não foram divulgadas.
- ETE José Walter
- Canal Pluvial Eduardo Girão
- Estação Elevatória Barra do Ceará
- Estação Elevatória Antônio Bezerra
- ETE Conjunto Ceará
- Estação Elevatória Reversora do Cocó (Hospital da Unimed)
- Estação Elevatória Praia do Futuro II
- Estação Elevatória Pajeú (s/ pop. contribuinte) (Hospital Leonardo Da Vinci)
- Interceptor Leste (Meireles/Mucuripe)
- Estação de Pré-Condicionamento (Pirambu)
Estações de um bairro podem receber resíduos de vários outros locais. No total, então, de acordo com levantamento do Diário do Nordeste, pelo menos 71 bairros de Fortaleza já tiveram amostras positivas para presença do Sars-CoV-2 no esgoto.
André Bezerra, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do estudo em Fortaleza, destaca que “foram contempladas áreas ricas e pobres, devido à associação grande entre a incidência de Covid e essa vulnerabilidade social”.
Identificar infectados assintomáticos
A análise dos resíduos pelo projeto Rede de Monitoramento Covid Esgotos é realizada em parceria com universidades brasileiras desde o início do ano, mas os primeiros dados sobre a capital cearense foram divulgados nessa quarta-feira (8).
Em Fortaleza, o estudo é coordenado por André, em parceria com Vânia Melo, professora do Departamento de Biologia da UFC; e com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que realiza as coletas de amostras em campo.
O objetivo do estudo, segundo a ANA, é “identificar tendências e alterações de ocorrência do vírus ao longo da curva epidêmica, nas diferentes regiões; e alertar precocemente sobre o início (ou aumento súbito) da circulação do vírus em locais de maior concentração de pessoas”.
André explica que a ideia é tentar antecipar o agravamento da pandemia numa área antes da explosão de casos sintomáticos.
Muitas pessoas demoram a manifestar sintomas, então há dificuldade de estimar qual de fato é a população infectada. Mas elas usam vaso sanitário, excretam o vírus nas fezes, e conseguimos com isso identificar.
O pesquisador reforça que, por meio da estimativa da população assintomática, é possível ter ideia da subnotificação de casos e “ajudar as autoridades de saúde em relação às medidas de combate” à doença.
Posso me contaminar com coronavírus do esgoto?
A resposta é não. André Bezerra explica que não há risco de transmissão do coronavírus e, portanto, de infecção pela Covid-19 por meio de fezes, já que “o que se encontra são fragmentos de vírus inativo, que não pode infectar por contato”.
A identificação do “RNA” viral nos esgotos, então, é útil apenas para estimar a presença viral nas diversas localizações da cidade, ao longo das semanas.
Os boletins com resultados sobre Fortaleza serão produzidos pelo grupo de trabalho local a cada duas semanas, e enviados à ANA. A ideia dos pesquisadores é iniciar diálogo com as secretarias locais, para uso dos dados nas ações de enfrentamento à Covid-19.