Conjunto Ceará II e Aeroporto têm maior taxa de letalidade da segunda onda da Covid-19 em Fortaleza

Embora haja menos mortes proporcionais em relação à quantidade de doentes, a segunda onda já tem número maior de mortes do que a primeira, na Capital cearense

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Conjunto Ceará II é o bairro com maior proporção de mortes entre a população doente.
Foto: José Leomar

Mesmo com menor letalidade em relação à primeira onda, o Conjunto Ceará II continua sendo o bairro com maior proporção de mortes de Fortaleza. No primeiro período da pandemia, a área teve índice de 53,93%, quando 48 dos 89 infectados morreram. No segundo momento, a taxa acumulada é de 36,30%. Até o dia 13 de maio, 49 dos 135 doentes faleceram.

O indicador se refere aos óbitos ocorridos entre a população infectada e se torna relevante para avaliar a severidade de uma epidemia, de acordo com o Ministério da Saúde. Os dados são de levantamento do Diário do Nordeste a partir dos boletins da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

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O segundo lugar na maior letalidade é o bairro Aeroporto, com 12%. Por lá, 15 dos 125 infectados não resistiram às complicações da doença. Na primeira onda, a área ficava em quarto lugar, com 30% de letalidade (16 dos 53 contaminados faleceram).

A redução mais expressiva na letalidade ocorreu em bairros que, na primeira onda, foram mais afetados pela doença, como aqueles da antiga Regional I. Uma das hipóteses dos especialistas é que, como grande parte da população já foi exposta ao vírus, restam poucos indivíduos suscetíveis.

O bairro Floresta, por exemplo, é o sexto lugar em letalidade na segunda onda, com 7,23%. Na primeira, porém, ele era o segundo, com 39,37%. Outras áreas com queda expressiva no indicador foram o Aracapé (de 31% para 5,4%) e o Jardim Cearense (de 26,17% para 5,47%).

As reduções, contudo, não indicam que a pandemia foi menos grave na segunda onda, mas que, proporcionalmente, morreu menos gente do que o esperado diante do grande aumento de infecções vivenciado no início de 2021.

“A segunda onda, mais longa, já conta um número maior de mortes do que a primeira”, explica o boletim da SMS.

Segundo a plataforma IntegraSUS, de março a setembro de 2020,  morreram 4.011 pessoas por Covid-19 em Fortaleza. De 1º de outubro a 13 de maio, segundo a SMS, foram 4.253.

O epidemiologista e gerente de Vigilância Epidemiológica da SMS, Antônio Silva Lima Neto, pondera que, em áreas economicamente vulneráveis, há pessoas “com comorbidade muitas vezes não controlada (como diabetes)” e que “não conseguiram fazer o isolamento adequado”, fatores de risco para transmissão e complicação da Covid-19.

O especialista defende a necessidade de “um colchão social muito forte” que dê conta das demandas de assistência social dessas comunidades.

DESRESPEITO AO ISOLAMENTO

Fernando Antonio Guimarães, secretário-geral do Conselho Comunitário do Conjunto Ceará, conhece bem essa realidade. Segundo ele, não há diferença no comportamento da população entre as duas ondas. “O pessoal não respeita o distanciamento. Mesmo no lockdown, tinha um grupo que jogava bola toda noite, a Polícia passava, dispersava. Daqui a pouco, estavam jogando de novo”, conta.

Legenda: Bairros mais vulneráveis precisam de maior apoio assistencial para encarar isolamento, diz especialista.
Foto: José Leomar

Em relação à doença, ele percebe que a demanda vem diminuindo nos quatro postos da comunidade, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, nas últimas semanas, embora ainda haja “muita gente à procura de atendimento”.

A Covid não acabou. A gente pede pra população ficar em casa, mas controlar a ansiedade é difícil. A situação financeira está complicada, tem muita gente desempregada, que perdeu a estabilidade. Não adianta combater a doença se você tá com fome”
Fernando Guimarães
Secretário-geral do Conselho Comunitário

Além de ações em assistência social, sobretudo diante do aumento da população em situação de rua que se instalou nas adjacências, o representante defende o fortalecimento da rede de saúde local, mantendo as equipes de atendimento completas e a realização rotineira de exames.

MONITORAMENTO DA DOENÇA

O gerente de Vigilância Antonio Lima explica que, a partir da interpretação dos dados epidemiológicos, a SMS direcionou todos os 116 postos da Atenção Básica para atender a casos suspeitos da doença. “Em qualquer um, o paciente pode coletar e receber a primeira atenção”, garante.

Além disso, afirma que a gestão municipal busca, através da identificação geográfica de zonas de maior transmissão, fortalecer a vigilância epidemiológica e o rastreamento mais eficiente de contatos para tentar “interromper minimamente a transmissão”.

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