Casas militares abandonadas geram insegurança
Imóveis antes ocupados por servidores do Exército e Aeronáutica, nos bairros Cidade dos Funcionários e Praia de Iracema, estão deteriorados. Segundo moradores, estruturas são usadas como esconderijo para prática de crimes
Rua Doutor José Furtado, em frente ao número 1760, no bairro Cidade dos Funcionários. Regional VI de Fortaleza. Na Praia de Iracema, todo o quadrilátero composto pelas vias Historiador Raimundo Girão, 23 de Outubro, Tigipió e Historiador Guarino Alves. Regional II. Locais quase opostos da cidade se encontram, porém, num ponto em comum: são todos, hoje, endereços de ninguém, condomínios inteiros abandonados pelo Exército e pela Força Aérea Brasileira.
No primeiro bairro, a construção em ruínas é cercada por terrenos baldios, e chama atenção porque, apesar da presença de um portão quebrado, emendado por correntes enferrujadas, e das cercas de arame farpado completamente danificadas, duas placas em pontos distintos da “fachada” seguem fixadas: “Exército Brasileiro – Área Militar – Proibido entrada”. O acesso, porém, pode ser feito tranquilamente por qualquer pessoa disposta a cruzar o matagal que se acumula.
Nem é preciso entrar, contudo, para constatar a situação de abandono: nos locais em que antes ficavam os cômodos, hoje sobram paredes quebradas, janelas e telhados arrancados, sombras na tintura antes coberta por medidores de energia elétrica, e apenas as marcas de grades possivelmente saqueadas. Pichações completam, ainda, o cenário dos quatro blocos de casas declaradamente pertencentes ao Exército, atualmente em situação de completo abandono e em ruínas.
Espaços
De acordo com operários que trabalham em uma obra em frente ao condomínio fantasma, porém, um grupo de militares vistoria o local uma vez por semana, em busca de impedir a ocupação indevida do espaço. Mesmo assim, ainda de acordo com os trabalhadores, homens entram e saem do local em plena luz do dia, seja para colher frutas em árvores de dentro do terreno, seja para dormir ou até fazer do espaço um local para o consumo de drogas.
Em outro ponto da Capital, na Praia de Iracema, situação muito semelhante se repete – mas, dessa vez, em imóveis pertencentes à Força Aérea Brasileira. De fora, não é possível contabilizar, mas a estimativa é que dezenas de residências que deveriam ser ocupadas por famílias de membros da Aeronáutica também estão abandonadas.
O segurança João Leno, 37, afirma que já presenciou, da varanda de casa, diversas invasões aos imóveis – e que, além da insegurança, a questão tangencia a saúde pública. “É péssimo, horrível. Eles assaltam aqui no bairro e correm pra se esconder, porque sabem que ninguém vai pular o muro pra ir atrás. Todo dia eles entram aí pra se drogar, fazer de tudo”, descreve o morador, vizinho do condomínio há, pelo menos, oito anos. Segundo ele, o abandono só aumentou a insegurança das redondezas.
“Moravam umas dez pessoas aí, a gente até tinha contato com os militares, se sentia mais seguro. Mas já faz bem um ano que isso aí tá desse jeito”.
Outra moradora da Rua 23 de outubro, que preferiu não ser identificada, confirmou que episódios de violência são comuns na região. “Os ‘mirins’ roubam e correm tudo aí pra dentro. Já saquearam tudo, levaram medidor de água, janela, tudo. A insegurança é total”, relata.
Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) se limitou a responder que “as referidas casas são patrimônio do Comando da Aeronáutica e serão demolidas ao término de procedimento administrativo interno”. Em relação aos episódios de insegurança por causa dos imóveis, a instituição afirmou que realiza rondas diárias para mitigar eventuais problemas de invasões e depredações dos referidos imóveis.
O Exército foi procurado para informar o motivo do abandono dos imóveis, se há algum projeto para o espaço, desde quando deixou de ser utilizado e como a instituição realiza a segurança patrimonial. Até o fechamento desta edição, o Exército não respondeu a nenhum destes questionamentos.
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), em nota, informou que uma equipe do 13° Distrito Policial (DP) foi até os imóveis abandonados, na Cidade dos Funcionários, para apurar as informações sobre crimes cometidos por suspeitos, que utilizam esses imóveis como esconderijo, e as apurações estão em andamento. A nota também informava que não há registro de ocorrências no imóvel supostamente abandonado, na Praia de Iracema (AIS 1).
A Polícia Civil ressalta ainda “que a manutenção e conservação desses imóveis são de responsabilidade do proprietário. Vale ressaltar que, conforme previsto no artigo 1.275 do Código Civil, os donos desses imóveis podem perder a propriedade em caso de abandono”.