Capacete para tratamento de Covid-19 desenvolvido no Ceará tem eficácia comprovada em testes

Seis pessoas testadas não precisaram ser entubadas por conta do auxílio do dispositivo

Escrito por Redação ,
Legenda: O Elmo prevê a utilização de um mecanismo de respiração artificial não invasivo.
Foto: Camila Lima

Os resultados preliminares dos testes com o Elmo, o capacete de respiração assistida para tratar pacientes de Covid-19 desenvolvido em Fortaleza, são positivos de acordo com o superintendente da Escola de Saúde Pública e idealizador do dispositivo, Marcelo Alcântara. Dentre os dez pacientes analisados, internos do Hospital Leonardo Da Vinci (HLV) em quadros moderados ou graves de Covid-19, todos apresentaram melhora significativa. Seis pessoas testadas não precisaram ser entubadas por conta do auxílio do dispositivo. 

“Os testes com o Elmo mostraram que ele funciona para o que ele se propõe, que é oferecer oxigênio, oferecer uma pressão ao redor da face do paciente, que auxilia a respiração, com isso melhora a capacidade respiratória e a ajuda a prevenir que o paciente precise de uma intubação e de um leito de UTI, por exemplo, com respirador. O Elmo não utiliza respirador, ele utiliza oxigênio e ar comprimido. Isso pode ser dado em uma enfermaria, em uma unidade que não precisa ser UTI, e com isso, realmente, beneficiar, até mais da metade dos pacientes”, comemora Marcelo Alcântara.

O projeto que iniciou há 8 meses entrou na fase de testagem em junho. “[Os testes] foram aplicados no Hospital Leonardo da Vinci, que era um hospital que estava destinado exclusivamente a pacientes com Covid-19, em internados que usavam oxigênio. Então não eram pacientes com quadro leve, eram pacientes com quadro moderado a grave, mas que tinham condições de usar o Elmo”, explica o idealizador do projeto.
 
Em julho, Maria Irismar, 70 anos, fez parte desses pacientes escolhidos para testar o equipamento. A idosa chegou a ter 70% dos pulmões comprometidos pela infecção causada pelo novo coronavírus, e ficou 13 dias internada em razão da doença. “A minha saturação estava em 88%. Tive Covid-19 que comprometeu 70% do meu pulmão, tive pneumonia, foi muita coisa, mexeu com todo o meu organismo. Me perguntaram se eu queria porque ainda estava na fase de testes e eu achei que seria a salvação. Usei dois dias, o primeiro dia usei  quatro vezes, e no segundo foram duas. Melhorava muito a minha respiração. Depois, não precisou mais. Fiquei 13 dias internada, no 10º dia me passaram o capacete. Não fui pra UTI por causa do capacete”, relata a idosa. 
 
Para o o superintendente da Escola de Saúde Pública e idealizador do projeto, conseguir disponibilizar esse novo equipamento pode fazer uma grande diferença na vida de quem tem problemas de oxigenação para além da doença pandêmica. 

Equipamento 

O capacete funciona como um mecanismo de respiração artificial não invasivo, é o explica Marcelo Alcântara, e age de dois modos. "Ele dá um gás fresco, que pode chegar a 100% de oxigênio, com segurança, e ele dá uma pressão que a gente chama de positiva, que ajuda a fase inspiratória e mantém o pulmão aberto na fase de saída do ar sem que colapse. Ao mesmo tempo, por ser um sistema fechado, ele não contamina o ambiente", explana. Desse modo, o sistema permite a melhora na respiração e diminui a possibilidade de intubação.

Foram necessários apenas três meses para criação e consolidação do protótipo. A rápida criação foi impulsionada pela força-tarefa composta pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), ESP/CE e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/Ceará), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Fortaleza (Unifor). "Esse processo todo levou toda uma caminhada que culmina agora com a apresentação dos resultados clínicos e com a aprovação pela Anvisa, da possibilidade de fabricar e comercializar o Elmo", pontua o idealizador o projeto. 

Autorizado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o teste em pacientes é um dos requisitos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o capacete possa ser produzido em escala industrial. A patente do dispositivo foi registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) ainda em julho.