Barragem do Cocó sangra e moradores sofrem com inundações neste domingo

A barragem foi construída para conter o excedente de água no período mais intenso da quadra chuvosa em Fortaleza, evitando alagamentos em bairros vulneráveis

Escrito por Theyse Viana ,
Legenda: Rua Avaré, no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza
Foto: Foto: Leábem Monteiro

Manhã de domingo com chuva é, para muitos, alento – teto, cama, cobertor e folga formam, aparentemente, o quarteto perfeito. Para tantos fortalezenses, porém, a água afoga o sossego. Foi assim para os moradores do entorno da barragem do Rio Cocó, localizada no bairro Jangurussu, cuja capacidade máxima foi atingida e transbordou, provocando alagamentos em diversas residências, após chuvas de 30 milímetros na Capital, conforme registros da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Os poucos móveis abrigados nos barracos de madeira, às margens do rio, precisaram ser suspensos em tijolos. Vídeos gravados por moradores registraram o momento em que a água começou a subir e se aproximar das casas. O gestor de seguros Neto Rodrigues, 25, morador do bairro, relata que o problema é antigo. “A barragem está construída, estão aumentando a vazão e a água vem subindo. Já é a segunda vez. A Prefeitura veio em algumas residências, mas não em todas. A gente nem compra nada, por medo de perder tudo. Não dorme à noite nem faz feira”, lamenta.

As perdas materiais – que tiram o sono e geram um desconhecimento do que é dignidade e qualidade de vida – também são contabilizadas pela dona de casa Neci Pereira, que mora no Conjunto Palmeiras há 23 dos 45 anos de idade, e afirma que há 18 não aconteciam inundações na região. “O rio não enchia como agora, com essa barragem, que qualquer chuvinha enche. A gente é que sofre, porque a água sobe e entra nas casas. A casa da minha filha ficou pelo meio de água, ela perdeu um guarda-roupa novinho. Muita gente perdeu as coisas”, relata Neci.

Legenda: Avenida Valparaíso, no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza
Foto: Foto: Leábem Monteiro

Para a também dona de casa Mariana Cardoso, 29, cuja voz carrega o cansaço das noites de apreensão, a esperança por alguma providência se resguarda apenas no divino. “A água bateu na janela e entrou em casa. Perdi minhas roupas, alimentos, colchão foi junto… Só acontece isso no inverno, agora a gente espera é que não chova. Só Deus pra gente se recuperar”, diz, endossada pelo morador Josimar de Carvalho, 55, cuja rotina é prejudicada por uma soma de prejuízos.

“Perdi dois guarda-roupas, sofá, geladeira… Não perdi meus aparelhos porque trepei antes da água entrar. Tenho quatro filhos pequenos, de 9, 12, 15 e 16 anos, e me preocupo com eles. Por causa da minha deficiência, não consigo emprego pra arranjar o alimento”, declara Josimar, que perdeu uma das pernas em um acidente na construção civil, em que atuava como servente.

Legenda: Rua Santa Rita, no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza
Foto: Foto: Leábem Monteiro

Segundo a coordenadoria das Regionais da Prefeitura, a Defesa Civil, entre sábado (9) e às 18 horas de domingo (10), não registrou nenhuma ocorrência grave. Conforme a assessoria da coordenadoria, a Defesa Civil segue trabalhando em regime especial no monitoramento das áreas de risco. A Prefeitura informa ainda que o Cuca do Jangurussu já está preparadod para receber famílias, caso haja alguma ocorrência grave e tal procedimento seja necessário. 

Barragem
Com capacidade máxima de armazenamento de mais de 5 milhões de m³, a barragem do Rio Cocó foi construída para conter o excedente de água no período mais intenso da quadra chuvosa em Fortaleza, evitando alagamentos em bairros vulneráveis. No total, o investimento foi de aproximadamente R$ 105 milhões. 

Questionada sobre o atual funcionamento da barragem, a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), responsável pela operação do equipamento, informou que o volume de água que segue para o Rio Cocó é o que está transbordando e acrescenta que "após as chuvas recentes a barragem voltou a verter (transbordar), com registro de 20 cm de vertimento". O órgão assegura que não houve alterações nas comportas nos últimos dias e que a água continua sendo liberada em vazões mínimas.

A nota diz ainda que "a Cogerh trabalha alinhada com a Defesa Civil para fazer a liberação controlada da água e aguarda direcionamento para fazer a operação das comportas".

 

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