1.718 pessoas vivem nas ruas de Fortaleza, diz novo censo

População em situação de rua concentra-se no Centro e na Beira-Mar; pesquisa é a primeira em sete anos

Escrito por Redação ,
Legenda: A fase qualitativa do estudo ainda está sendo concluída e deve ser divulgada pela Prefeitura na próxima semana. O objetivo é traçar um perfil socioeconômico dos desabrigados e, a partir disso, elaborar estratégias
Foto: Foto: José Leomar

Foram cerca de sete anos sem que a cidade soubesse, ao certo, a quantidade de pessoas que fizeram de suas ruas moradia. O crescente número de pessoas em situação de rua em Fortaleza era testemunhado apenas com olhares rápidos a praças, calçadas, parques, terminais de ônibus. Agora, enfim, é possível conhecer quantos são os fortalezenses desprovidos de abrigo. De acordo com o censo atualizado da população em situação de rua, realizado pela Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra), 1.718 homens e mulheres vivem sem lar na Capital.

Anunciado em maio deste ano, o levantamento da Prefeitura de Fortaleza é o primeiro desde 2007, quando o governo Federal promoveu pesquisas em 71 municípios brasileiros no intuito de determinar a dimensão e o perfil da população em situação de rua no País. A etapa inicial e quantitativa do diagnóstico local foi concluída neste semestre e revelada, ontem, pelo titular da Setra, Cláudio Ricardo, ao Diário do Nordeste.

Segundo ele, além do total de pessoas desabrigadas, o censo já conseguiu indicar em quais regiões de Fortaleza os moradores de rua estão mais concentrados. Neste cenário, destaca-se o Centro da cidade, em especial a Praça do Ferreira, onde várias famílias estão completamente instaladas há anos.

Dentre as outras áreas, a Regional II também se sobressai, aglomerando, nas imediações do principal ponto turístico da Capital, a Avenida Beira-Mar, protagonistas de uma realidade diferente da qual é transmitida aos visitantes.

A fase qualitativa do estudo, afirma o secretário, está sendo concluída e deve ser divulgada na próxima semana. A partir dos dados, a Setra pretende traçar um perfil socioeconômico de toda a população em situação de rua, com informações sobre idade, gênero, etnia, vínculos familiares, escolaridade, atividade produtiva, tempo de permanência nas ruas e motivos que levaram ao desamparo. "Estamos nos preparando para divulgar um levantamento mais sistematizado ainda neste mês. O que já sabemos é que maioria são homens, em idades jovem, laboral", afirma Ricardo.

Ações

O censo atualizado, explica o secretário, norteará as ações de assistência social promovidas pela Secretaria nos próximos anos. Com base nas informações apuradas, a Setra já tem elaboradas algumas estratégias de ação. Uma delas é a inauguração de dois novos equipamentos de acolhimento para moradores de rua no Centro: o Centro de Convivência para Pessoas Adultas em Situação de Rua, e a chamada Pousada Social.

O primeiro espaço será utilizado para que as pessoas sem moradia possam cuidar da higiene pessoal, trocar de roupa e fazer refeições. O objetivo final, contudo, é oferecer palestras e cursos capacitantes, que possam dar oportunidade de inserção do morador de rua no mercado de trabalho. "A ideia é que possa qualificar o morador de rua para trabalhar nos próprios equipamentos", diz Ricardo. Conforme ele, o local será implantado em um imóvel já adquirido e terá capacidade de atender uma média de 80 a 100 pessoas.

Além do Centro de Convivência, será aberta uma Pousada Social, unidade de pernoite que poderá acolher até 50 moradores e onde estes também serão encaminhados para atividades de qualificação. Segundo Cláudio Ricardo, a Setra pretende ainda, ampliar as equipes de Serviço de Abordagem de Rua (Sear).

"Há uma resistência grande dos moradores de rua, principalmente na Praça do Ferreira, a irem para os nossos abrigos afastados daquele ponto. A solução que encontramos foi criar esses equipamentos na área para atraí-los", afirma.

Fique por dentro

Capital tinha 1.071 moradores em 2007

No último censo de moradores de rua realizado em Fortaleza, no ano de 2007, o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) constatou que haviam 1.071 pessoas nessa situação. Dos 71 municípios analisados, a Capital foi o quinto com a maior quantidade. De lá pra cá, o número sofreu pequena alteração. Conforme o relatório do órgão federal, em todo o Brasil, a população de rua totalizava 31.922 adultos. A pesquisa contemplava apenas os maiores de 18 anos.

De acordo com o censo, 82% dos moradores de rua no País eram do sexo masculino, 53% tinham entre 23 e 44 anos, 52,8% recebiam entre R$ 20 e R$ 80 por semana. Cerca de 35% foram para as ruas por conta de problemas com álcool ou drogadição. Outros 29,8% atribuíram a situação ao desemprego e 29,1% a desavenças com familiares.

Aproximadamente 69% dormiam na rua, 22,1% dormiam em albergues ou outras instituições e apenas 8,3% costumavam alternar entre as duas formas de pernoite.

Em termos de escolaridade, 74% sabiam ler ou escrever, mas 95% afirmaram não estudar. Apenas 2,1% faziam algum curso formal e 1,7% faziam curso profissionalizante. Um total de 17,1% não sabiam escrever.

Vanessa Madeira
Repórter

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