Em 2022, o Verdão do Cariri retornará, após cinco anos, a uma competição nacional disputando a Série D do Brasileiro. Já o Leão do Mercado encara, pela primeira vez em sua história, a terceira divisão do Campeonato Cearense
Rivalidade que nasceu há 58 anos, Icasa e Guarani se consolidaram, ao longo de sua história, como dois dos mais tradicionais clubes do interior do Estado. O Verdão do Cariri, somando sua criação em 1963 e o desempenho após ser refundado em 2002, já foi campeão cearense em 1992 — título dividido com Ceará, Fortaleza e Tiradentes — e cinco vezes vice-campeão. Já o Leão do Mercado, soma 37 participações na elite estadual e um vice-campeonato, em 2011.
Após se acostumarem a dividir o protagonismo no Cariri, os dois times de maior torcida de Juazeiro do Norte vivem cenários completamente diferentes. Após sucessivos rebaixamentos, o Icasa voltou à Série A do Campeonato Cearense este ano e, de quebra, após o acesso do Atlético Cearense para a Série C do Campeonato Brasileiro, herdou uma vaga à Série D nacional em 2022, competição que disputou pela última vez em 2016.
Por outro lado, o rubro-negro, rebaixado da elite cearense em 2019, amargou uma nova queda no ano passado e disputará, pela primeira vez em sua história, a Série C do Campeonato Cearense, competição que começa neste domingo (24). Além disso, o Guarani viu outro time juazeirense se destacar: o Cariri Futebol Clube, fundado em 2019, já está um degrau acima, disputando a Série B. Outro rival, o Crato, assim como o Icasa, estará no Campeonato Brasileiro da Série D de 2022.
Otimismo
O Icasa foi do céu ao inferno em pouco tempo. Em 2013, o sonhado acesso à elite do futebol brasileiro bateu na trave, terminando em 5º, apenas um ponto atrás do Figueirense. Nos anos seguintes, amargou três rebaixamentos consecutivos. O último, em 2016, na Série A do Campeonato Cearense.
Nos três anos seguintes, o Icasa disputou a Série B do Campeonato Cearense, mas sequer ficou próximo de brigar por um acesso. A melhor colocação foi um quarto lugar em 2018. A mudança aconteceu ano passado. Sob o comando do técnico Washington Luiz, foi campeão da segundona de forma incontestável e, em 2021, retornou à Série A.
Neste ano, o Icasa entrou como um dos favoritos à chegar às semifinais, mas o agravamento da pandemia da Covid-19 obrigou o clube a se desfazer de quase todo seu elenco e do próprio treinador. Com um sétimo lugar na fase final e apenas três pontos conquistados, a sonhada vaga na Série D, a partir do acesso do Atlético Cearense, foi um presente “fora de hora”.
Isso devolveu o otimismo dentro do Icasa, que se organiza para disputar a Taça Fares Lopes e brigar pelo título que dará a oportunidade de disputar a Copa do Brasil já no ano que vem. Para a competição, a grande novidade é a volta do treinador Flávio Araújo, um dos grandes ídolos do clube. Vice-campeão cearense em 2005 e 2007 com o próprio Verdão, ele também foi responsável pelo acesso à Série B do Campeonato Brasileiro, em 2009, e manteve o clube no segundo patamar do futebol nacional, alcançando a 12ª colocação no ano seguinte.
Flávio Araújo era o grande sonho da diretoria. No final de 2019, já havia acertado o seu retorno, mas a crise econômica gerada com a pandemia da Covid-19 impediu sua volta. “Ele é capacitado, vencedor, vários acessos e para a gente é o que há de melhor. Não deu certo naquela oportunidade, mas finalmente conseguimos”, comemorou o presidente Francisco Leite Bezerra, o França Bezerra.
Acertado com o Bahia de Feira para 2022, Flávio Araújo aceitou o convite para disputar apenas a Taça Fares Lopes e recolocar o Icasa na Copa do Brasil, torneio que não disputa desde 2015. “Ele já tem contrato com o Bahia e ficará só esses meses”, confirmou França. Para o projeto do ano que vem, ainda não há um nome para substituí-lo. “É uma coisa a se pensar ainda. Nosso foco primeiro é a Fares Lopes”, completou.
O treinador desembarcou em Juazeiro do Norte nesta sexta-feira (22) e já começa a trabalhar com os jogadores a partir deste sábado. O Icasa já confirmou 18 contratações, que chegam à terra do Padre Cícero nos próximos dois dias. “Cerca de 80% é indicação do Flávio, o restante já era indicação nossa”, detalha o presidente. “O foco, claro, é o título. Não tem outro, mas vai nos ajudar a nos preparar para a Série A do Cearense, que começa em janeiro”.
O elenco do Icasa, até agora, conta com o seguintes jogadores: Goleiro: Izaias; zagueiros: Anderson, Albert, Adriano Cleiton e Rafael; Volantes: Rogério, Gustavo, Diego e Breno; Laterais: Jader, Leandro Mendes, Nigéria e Índio; Meias: Frank Leandro e Be Orebó; Atacantes: Caíque, Huan e Júnior Goiaba. O Verdão do Cariri está no Grupo B da competição, junto com Atlético, Guarany de Sobral, Pacatuba e União. A estreia está prevista para o próximo dia 3 de novembro, contra o Pacatuba, fora de casa.
Luta jurídica
Fora de campo, o Icasa mantém uma disputa jurídica contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na qual conseguiu decisão favorável, no último mês de setembro, com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) para a penhora de R$ 52 milhões da entidade.
O Verdão move ação contra a CBF desde 2014, alegando escalação irregular do atleta Luan, do Figueirense, na Série B do ano anterior, sendo prejudicado por não ter sido promovido à Série A, mesmo com a mentora do futebol brasileiro tendo admitido o erro na escalação do jogador.
A Justiça havia condenado a CBF para pagamento da dívida ao Icasa no prazo de 15 dias, mas ambos entraram em um consenso para suspender o processo por 180 dias e negociarem um acordo. O prazo acabou, um acordo não foi feito e, agora, o trâmite do processo prossegue, com o deferimento da penhora contra a CBF.
Segundo o presidente França, o impasse ainda vai durar muito tempo. “Não é fácil. Isso causará uma negociação e todo mundo vai perder de alguma forma”, detalha. A diretoria acredita que a melhor saída é uma negociação com a CBF, já que a celeridade ajudaria o Icasa a sanar dívidas trabalhistas que acumulou nos últimos anos, num valor estimado de R$ 19 milhões. “O Icasa não pode perder muito tempo. Se abrir um leque, vamos negociar com todos os credores”, antecipa o dirigente.
Para 2022, a diretoria não trabalha na expectativa de receber o valor pago pela entidade. Por isso, o Icasa espera contar com um grande aliado: a volta do Romeirão, que passa por reforma e será ampliado para um público de 17 mil pessoas, se tornando uma das mais modernas arenas do interior do Brasil. Segundo a Superintendência de Obras Públicas do Estado (SOP), a obra alcança 78% de execução e o estádio deve ser entregue até o início de 2022.
“Nós vamos trabalhar no ano que vem com parceiros e esperamos que a Arena Romeirão inaugure. Sabemos que o Icasa é um time de massa, de torcida. Lotando o estádio, tira os prejuízos. Então, a gente projeta em cima dessas rendas e patrocínio. Com nosso torcedor é outra história. É outro nível”, acredita o presidente do Icasa.
Reconstrução
Bi-campeão da Taça Fares Lopes em 2012 e 2016, o Guarani esteve dez anos consecutivos na Série A do Campeonato Cearense (entre 2010 e 2019), um feito que nem o próprio Icasa alcançou desde que foi refundado, em 2002. Hoje, vive o momento mais difícil de sua história, desde que se profissionalizou em 1973.
O primeiro passo para retomar o protagonismo no interior do Estado começa neste domingo, contra o Quixadá, na primeira rodada da Série C do Campeonato Cearense. Integrante do grupo B, o Leão do Mercado também enfrentará Arsenal, Esporte Limoeiro e o Campo Grande, também de Juazeiro do Norte, nesta primeira fase.
Para comandar o time, o rubro-negro aposta num velho conhecido de sua torcida: Lamar Lima, ex-jogador do Guarani, campeão da Taça Fares Lopes, em 2012. Este será o seu terceiro trabalho como técnico, profissão que iniciou este ano no Crato, levando o Azulão da Princesa à Série D do Campeonato Brasileiro de 2022.
O elenco conta com jogadores conhecidos do futebol local, como os volantes Guto, ex-Icasa, e Da Silva, de passagens por outros times da região como o próprio Guarani, Barbalha, Icasa e Cariri; e o atacante André Cassaco, ex-Horizonte e Pacajus. “A montagem do elenco foi distribuída com jogadores experientes e a juventude. Trago experiência, mas jogadores de muita resistência, velocidade e intensidade que exige a Série C”, explica Lamar.
Até agora, o Guarani já tem 19 jogadores contratados regularizados. São eles: os goleiros André e Fábio; os zagueiros Keven, Bruno Mohamed e Léo Ceará; os laterais Elvis e Ray; os volantes Da Silva, Guto, Denis Baiano, Isaú, Israel e Natal; os meia Laertes e Chuva; e os atacantes André Cassaco, Dagson, Zé Lopes
e Leandrinho.
"Alguns já joguei junto e fui campeão da Taça Fares Lopes, como Elvis. Outros trabalharam como Keven, Ray. A maioria conheço e toda contratação foi passada por mim para dar aval ou não. Alguns rejeitei porque não fazia o perfil para um time competitivo, conheço o perfil e o comportamento fora das quatro linhas”,
detalha o técnico.
Nas primeiras semanas de trabalho, Lamar apostou em treinos físicos junto com os treinos técnicos e de fundamentos. Na sua avaliação, o trabalho foi positivo. “Estamos muito bem. Os dados matemáticos que avaliam a parte física mostram isso. Na terceira semana, já temos um sistema de jogo definido e os jogadores vieram nas características que gosto de impor: velocidade e intensidade”, completa.
Antes da competição, o Leão do Mercado realizou dois jogos-treino contra o time do Barbalha, que disputará a Taça Fares Lopes. Na primeira partida, venceu por 1 a 0, enquanto na segunda sofreu um revés por 2 a 1. “Foi um adversário difícil, mas deu para ver a intensidade do nosso trabalho e também identificar as falhas que temos que corrigir. A derrota trouxe esse momento de identificar as fragilidades, ver onde o time estava sendo mais agredido. No geral, gostei do que foi apresentado”, elogiou.
Ídolo do Guarani, de quem ganhou o apelido de "Príncipe Rubro-negro", Lamar evita comparações entre o atual momento do Leão do Mercado e o de seu maior rival, o Icasa. “Me identifico com o Guarani, sei do seu peso, sua tradição e a responsabilidade é muito grande. Acredito que a maior pressão vem de vestir essa camisa e levar para a Série B que o momento do Icasa. Os jogadores vão encarar essa competição também com a projeção que podem ter e dar tudo para levar ao acesso”, acredita o treinador.