Projeto nas categorias de base do Ceará cria biblioteca e estimula leitura entre os jovens atletas

A proposta envolve a troca do uso do celular pelos livros na sede alvinegra

Legenda: O atleta Pedro Henrique, de 18 anos, está lendo uma biografia do atacante português Cristiano Ronaldo
Foto: Kid Júnior / Ceará

Nos muros da Cidade Vozão, em Itaitinga, está escrito a missão de “revelar atletas e formar cidadãos". Esta é a mentalidade que o Ceará Sporting Club trabalha nas suas categorias de base. E diversas iniciativas internas colaboram com esse processo. A mais recente: fazer com que os jogadores troquem o celular pela leitura quando estão em tratamento no departamento médico.

A medida foi implantada para os atletas que realizam atividades de fisioterapia na sede alvinegra. O objetivo é ampliar a concentração dos jovens no tratamento e estimular o consumo de livros. Assim, a gestão alvinegra abraça a responsabilidade social, dentro do rol dos objetivos do “Time do Povo”.

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"Não sou acostumado a ler, mas quando cheguei no Ceará, achei muito interessante (a iniciativa). Fiz cirurgia, faz tempo que estou tratando, então ainda estou no DM. Li aqui um livro sobre a história do Ceará e conheci mais sobre a história do time”, revelou o atacante Paulo Roberto, de 14 anos.

Atleta da base do Ceará realiza a leitura na base
Legenda: A maioria dos atletas da base do Ceará não tinham o hábito da leitura antes da proposta do clube
Foto: Kid Júnior / SVM

Biblioteca dentro do Ceará 

O repertório de livros é variado e está em construção. Através de doações de escolas e dos próprios funcionários, uma biblioteca está sendo montada. Além do enredo do time, as leituras envolvem biografias de personagens do esporte, quadrinhos, materiais de autoajuda e clássicos.

"Não tinha costume, nunca fui um cara de ler, eu aprendo mais por vídeo, prática, mas me machuquei em dezembro do ano passado, fiz uma cirurgia em fevereiro deste ano e vim para a fisioterapia. Aqui, já li a biografia do Cristiano Ronaldo uma vez e recomecei, para gravar tudo na memória, de pequeno em Portugal até virar esse craque”, explicou Pedro Henrique, de 18 anos.

Instalações da Cidade Vozão, em Itaitinga
Legenda: A Cidade Vozão possui um espaço para recuperação física dos atletas
Foto: Thiago Gadelha / SVM

O atleta, inclusive, prestou vestibular no início do ano e entrou para o curso de Educação Física. O resultado da vida pessoal também é celebrado. Na Cidade Vozão, cerca de 200 jovens treinam por dia. Com cinco campos, além da construção de um sintético, o espaço tem área de 80.000 m².

“Os meninos ficavam nos jogos eletrônicos, em rede social, e não se concentravam no trabalho que a gente fazia. Então tinha um estresse, e o Lucas (da fisioterapia) e eu criamos a iniciativa. No começo, não tinha uma boa quantidade de livros, ele trazia de casa, e depois o nosso assistente social começou a coletar livros em escolas, e aplicamos”, contou o fisioterapeuta Jonathan Matheus.

Atleta da base do Ceará recebe atendimento médico da fisioterapia
Legenda: O fisioterapeuta Jonathan Matheus, do Ceará, estimula os atletas com a leitura de livros
Foto: Kid Júnior / SVM

Regras da Cidade Vozão

O incentivo à leitura faz parte de uma cartilha de regras adotadas na Cidade Vozão. Com alojamento para receber atletas, além de inúmeros testes para a contratação de novos jogadores, o espaço em Itaitinga tem um código de conduta. E esse funcionamento compõe o convívio interno da sede.

"Para o atleta profissional, a rotina e a disciplina têm papéis importantes. Os grandes atletas seguem uma cartilha pessoal de rotina, com sono, alimentação e demais compromissos da vida. Então aqui, criamos uma cartilha, um código de conduta, que compreende o funcionamento do CT, desde horários de refeição à autorização de saídas. São regras para esse CT funcionar e chegar no objetivo que é transformá-los em atletas de alto rendimento”, disse o assistente social Fernando Martilis.

Assim, as estratégias são mutáveis, alinhadas com a gestão. Em momento posterior, o objetivo é expandir a ideia e contribuir em mais frentes, seja com a leitura ou com novas propostas sociais.

DIRETRIZES DAS CATEGORIAS DE BASE DO CEARÁ:

  • Contribuir com a formação cível do atleta, além do aspecto esportivo.
  • Fornecer pelo menos dois jogadores por ano para o time profissional.
  • Mostrar competitividade nos torneios nacionais e regionais.
  • Conseguir convocação de atletas para as Seleções Brasileiras de base.
  • Expandir anualmente o número de captadores e atletas analisados.
  • Renovar o Certificado de Clube Formador (atender os 41 critérios da CBF).
  • Manter de pelo menos 50% dos direitos de qualquer atleta negociado para o clube.
  • Ampliar parcerias com times brasileiros para troca de atletas no mercado.