Prefeitura de Juazeiro colocará bloqueios para evitar que fiéis subam ao Horto na Sexta da Paixão

A tradicional caminhada até a Estátua do Padre Cícero que acontece há mais de um século pela primeira vez será cancelada.

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@svm.com.br
Legenda: Colina do Horto deve ficar vazia na Semana Santa
Foto: Foto: Toni Sousa

Em virtude da pandemia da Covid-19, a tradicional subida do Horto, em Juazeiro do Norte, não acontecerá nas próximas quinta-feira e sexta-feira, dias 9 e 10 de abril. A Secretaria de Turismo e Romaria (Setur) informou que os acessos serão interditados com a presença de agentes de segurança. A caminhada, que acontece na Semana Santa desde a época em que o Padre Cícero (1844-1934) era vivo, reúne milhares de pessoas. 

Este não é o primeiro evento religioso afetado pela pandemia do novo coronavírus. A Semana Padre Cícero, que marca o aniversário do sacerdote, no último dia 24 de março, também foi cancelada, assim como atividades litúrgicas, culturais e debates.  

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Em Juazeiro do Norte, os contágios já têm ocorrido de forma comunitária. Conforme último boletim da Secretaria Municipal de Saúde, a terra do Padre Cícero contabiliza três casos confirmados de Covid-19 e 44 suspeitos. Outros 17 pacientes foram descartados com o novo coronavírus.  

O secretário de Turismo e Romaria, Júnior Feitosa, reforçou a importância respeitarem esse período de isolamento social. “Haverá um novo momento em que vamos definir a data para ocorrer a tradicional subida.

A ocasião requer prevenção de contágios e é importante seguir as orientações das autoridades sanitárias e do Município, para que todos tenham a sua saúde preservada e das outras pessoas”, orienta. 

De acordo com Júnior, a suspensão do evento se deu em acordo com a Diocese de Crato e com a ordem dos Salesianos. “Neste momento, precisamos unir forças no combate à pandemia e que a população permaneça em suas residências. Em breve, poderemos estar juntos e manter esta tradição”, completa.  

Tradição 

O pesquisador e professor Renato Casimiro conta, através da tradição oral, que esta caminhada até o Horto surgiu porque o próprio Padre Cícero frequentava o local. “Ali era um oratório privativo. Era uma capelinha da residência dele. Ele se recolhia ali. De modo particular, nestes período de Páscoa, era um momento que ele ia para lá”, acredita.  

Legenda: Historicamente o local fica repleto de fieis durante a Semana Santa
Foto: Foto: Antonio Rodrigues

Com isso, muitos romeiros acabavam subindo o Horto para encontrar o Padre Cícero. “Era um momento de reclusão, de oração”, define. O professor acredita que o trajeto trouxe elementos de celebração católica como a Via Crúcis.

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“O romeiro sempre fez muitas analogias de Juazeiro, como o Horto ao Horto das Oliveiras, o Santo Sepulcro. A cidade ter essa imagem de Nova Jerusalém. Consideravam o rio Salgadinho como um Rio Jordão. São imagens da construção deste imaginário”, explica. 

Renato justifica que cada lugar do mundo há uma celebração diferente durante a Semana Santa. “Entre Jardim e Barbalha há a tradição dos penitentes, e o autoflagelo”, exemplifica. “No caso de Juazeiro, era esse recolhimento que durava só na sexta, mas hoje tem gente que inicia até na quarta. Foi se transformando”, acrescenta.  

O cancelamento do evento, que “nasceu da informalidade”, como define Casimiro, é a primeira vez em toda a história de Juazeiro do Norte. “Nunca houve isso. Já passamos por coisas muito severas, como a cólera, varíola, gripe asiática, gripe espanhola. Tivemos surtos mundiais, mas nunca uma coisa que o governo declarasse isolamento social. Havia recomendações”, enfatiza.  

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