Quadrilhas juninas encantam público no São João do Ceará 2019

Com apresentações animadas e bem elaboradas, os quadrilheiros do evento falaram sobre a preparação e as dificuldades para montar um espetáculo retratando temas importantes para a sociedade

Escrito por João Lima Neto , metro@verdesmares.com.br
Legenda: O lavador de carros Nando José é o noivo da quadrilha "Meu Xodó", que se apresentou no aterro com o tema "farinhada"
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

A diversidade de gênero e a vida do sertanejo são destaques entre as temáticas das quadrilhas juninas no São João do Ceará 2019, realizado no Aterro da Praia de Iracema desde a sexta-feira (21). A vida dos quadrilheiros se misturou aos passos de dança no quadrilhódromo durante as últimas noites. As apresentações seguem até este domingo (23).

Aos 21 anos, o cabeleireiro Victor Maia dá vida a Agatha Dias na ala feminina da quadrilha "Só o Mi". Ele diz nunca ter sofrido preconceito, mas acredita que isso é algo presente no meio da dança. "Sei que é uma realidade. Desde que entrei no grupo, danço como mulher. O tema é positivo. Toda quadrilha tem um gay e eles precisam ser representados", considera.

Na avaliação de Maia, a entrada da temática da diversidade por meio das quadrilhas é um alerta para o que se vive em muitos núcleos. Com 20 anos de existência, o grupo do Bairro Papicu adaptou a música "Indestrutível", de Pabllo Vittar, para deixar mensagem contra o preconceito.

"Seja atuante, seja forte. Vamos mudar essa realidade. É mais luta do que sorte. Sim à diversidade", diz uma das letras do enredo da quadrilha neste ano.

O cotidiano no sertão foi a outra vertente explorada no São João do Ceará. A quadrilha junina "Meu Xodó" levou a farinhada como tema central do trabalho em equipe. Além do chapéu de palha e do vestido rodado, a peneira fez parte dos adereços dos dançarinos. Bárbara Araújo, 34, presidente do grupo "Meu Xodó", conta que as temáticas regionais facilitam no processo de criação das coreografias, além de reduzir os custos de figurino. "Buscamos mostrar o Nordeste. Ano passado, falamos do Pau da Bandeira (festa tradicional em Barbalha). Fazemos uma reunião com a diretoria e listamos três temas. O mais bem votado ganha".

Superação

A quadrilha junina "Meu Xodó" leva diferentes histórias de vida no quadrilhódromo. Nando José, por exemplo, divide o dia entre o trabalho em um lava-jato e os ensaios noturnos do grupo. De manhã, água e sabão são as ferramentas dele. De noite, o chapéu de palha e a roupa de noivo destacam a dança do lavador de carros. "No começo era difícil. Senti um pouco de preconceito, mas a gente precisava ultrapassar essas barreiras. Além disso, o desgaste do dia a dia foi outro desafio a enfrentar", explica Nando José.

Quem também se esforça para dançar no São João é a estudante Ariane Oliveira, 18, moradora do bairro Benfica. Há três anos, ela participa do grupo. A intenção de Ariane era ter iniciado mais cedo, mas os preços caros dos vestidos acabou dificultando a atuação da jovem. "Eu ficava vendo desde que eu era pequena e logo me encantei. Dançar em uma quadrilha é um pouco do que o nordestino é".

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