Enem teve questões técnicas e nível da prova foi mediano, avaliam professores
Para edição de 2019, havia expectativa de mudanças no conteúdo e restrição dos chamados "assuntos polêmicos". Professores não identificaram grandes alterações no estilo da prova, mas tematização das questões foi mais técnica
A primeira etapa da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, realizada ontem (3), não teve grandes mudanças do ponto de vista do estilo, e o nível de dificuldade das questões foi considerado mediano, segundo professores ouvidos pelo Diário do Nordeste. No entanto, a tematização das questões, sobretudo das Ciências Humanas, teve algumas alterações. Professores analisam que o Exame, embora tenha abordado alguns temas tradicionais, apresentou questões mais técnicas. O que pode ser considerada uma tentativa de afastamento das questões "polêmicas ou de carga ideológica".
No Ceará, candidatos realizaram o Enem em 119 municípios. O Estado teve 294.994 pessoas inscritas no Enem 2019. Além de resolver 90 questões de múltipla escolha sobre Ciências Humanas, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, os estudantes também produziram a Redação cujo tema foi "Democratização do acesso ao cinema no Brasil". O assunto surpreendeu professores, mas agradou pela relevância.
As expectativas eram altas sobre possíveis alterações nas provas do primeiro dia do Enem 2019, pois, questões de edições anteriores do Exame, principalmente, de Ciências Humanas foram alvo de questionamento do atual Governo que havia manifestado insatisfação com temas considerados polêmicos e/ou de conteúdos considerados ideológicos.
Esse foi também o primeiro Enem que contou com uma comissão que fez a leitura transversal dos itens do Banco Nacional de Itens (BNI) para a montagem das provas. Estabelecida pelo Governo Federal através da Portaria 244, de 19 de março de 2019. A Comissão, dentre outros, contou com representantes do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Diferenças
Para o professor de História do Colégio Farias Brito, em Fortaleza, Nilton Sousa, "do ponto de vista de estilo, da concepção filosófica do Enem desde que ele surgiu, as questões continuaram sendo analítico-interpretativas". Mas, a tematização foi diferente. Um exemplo disso é a ausência de questões que falassem sobre gênero. "Trouxe temas mais recorrentes, mais tradicionais", acrescenta.
O diretor de Ensino e Inovações Educacionais do Sistema Ari de Sá (SAS), Ademar Celedônio, reitera que a prova foi "sem polêmicas, factual e eclética". Para ele, "as questões seguiram um padrão tradicional mais próximo de uma avaliação técnica e conteudista". A parte de Linguagens teve questões longas que remeteu a padrões anteriores do Enem, avalia ele.
Em relação à Redação, na avaliação da consultora pedagógica do SAS, Giovana Costa, o tema surpreendeu, mas está no repertório dos alunos. Ela destaca a relevância do assunto e a possível qualidade das redações já que há disparidades nas condições de acesso ao cinema no Brasil e isso pode gerar bons argumentos.
Além disso, o professor de Redação do Farias Brito, Daniel Victor Teixeira, explica que, apesar de ser um tema do eixo cultural, com uma certa linha de raciocínio fácil, a Redação demanda que o candidato tenha um repertório qualitativo de outras áreas do ensino para valorizar a escrita.