Delegado Da Cunha fala em delação premiada, manda recado a Dória e ameaça chefe da Polícia Civil
Agente está afastado do cargo desde o último mês de julho, quando passou a ser investigado por encenar operações e enriquecimento ilícito
Suspeito de encenar ações policiais em São Paulo para alimentar o canal no YouTube, o delegado Carlos Alberto da Cunha, o 'Da Cunha', 43, prometeu fazer delação premiada caso seja punido no processo em que ele é investigado por enriquecimento ilícito. Além disso, ele confrontou o governador de São Paulo, João Dória (PSDB) e o chefe da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes.
Ao comentar os inquéritos abertos contra ele, durante uma transmissão nas redes sociais, na última terça-feira (21), o agente afirmou que está com a mochila pronta a espera da polícia.
“Não precisa chutar a porta, é só tocar a campainha que a gente abre. Agora, se esse crime acontecer, a volta vai se chamar delação premiada. Porque eu cometi algum crime? Não, mas eu sei de tanta coisa", disse, sem especificar a que se referia. "Não tenho certeza absoluta porque ainda não investiguei, mas sei de se tanta coisa".
O delegado fez críticas à gestão de João Dória, apontando que as investigações têm finalidade política. Segundo declarou, Dória teme que ele se torne o novo governador de SP nas eleições de 2022.
“O Dória está com medo que esse preto aqui vire governador. É para me deixar inelegível. O medo do sistema é que um homem negro de 44 anos vire o governador do estado de São Paulo”, disse.
O delegado-geral da Polícia Civil de SP, Ruy Ferraz Fontes, também foi citado por Da Cunha, que o acusou de assédio moral e abuso de autoridade. O delegado ameaçou o chefe da Instituição.
"É melhor você me prender rápido. Se você não me prender e eu me tornar governador, eu nem sei o que vai acontecer contigo. Eu vou te colocar para trabalhar em um lugar que você seja útil", alertou.
Afastamento
Da Cunha foi afastado do cargo em julho deste ano após a Corregedoria abrir uma série de procedimentos contra ele, a maioria por suposto uso indevido das redes sociais. Em seguida, ele pediu licença sem vencimento e se filiou ao MDB com intuito de disputar um cargo eletivo.
A Promotoria apura o suposto enriquecimento ilícito de Da Cunha. Os promotores desejam apurar se ele usou a estrutura da Polícia Civil para proveito próprio, como ganhar dinheiro monetizando vídeos de operações oficiais, o que seria irregular.
As ofensivas policiais, no entanto, eram apenas encenadas por Da Cunha, que tinha essa conduta para ganhar seguidores nas redes sociais, segundo denúncia de policiais civis.
Uma das operações fraudadas ocorreu na comunidade de Nhocuné. Um homem que seria submetido ao "tribunal do crime" foi libertado pelo delegado e o suspeito, preso.
Na operação realizada na comunidade paulista, a vítima já fora libertada momentos antes por outros polícias civis, identificados como Patrick e Ronald, mas foi instruída a voltar para o cativeiro, em poder do sequestrador, para que a simulação em que o delegado é responsável pela prisão fosse filmada.