Obra original de Pablo Picasso é queimada para fazer parte de leilão em NFT; entenda

Grupo destruiu gravura Fumeur V, de 1964. Peça será leiloada em duas versões, inclusive uma com os restos da obra

Escrito por Redação ,
Restos da obra de arte de Pablo Picasso após fogo
Legenda: Leilão ocorrerá na plataforma Unique.One com lance inicial de 500 doláres
Foto: reprodução/YouTube

Um grupo de entusiastas da arte decidiu queimar uma obra original do pintor Pablo Picasso e leiloar a versão digital dela, além dos restos da pintura destruída. Dessa forma, segundo os responsáveis, a peça ficaria "imutável no blockchain" (uma espécie de mercado virtual) pela eternidade. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

The Burned Picasso

O projeto, intitulado The Burned Picasso ("O Picasso Queimado", em tradução literal), foi idealizado pelo grupo Fractal Studios e transformou a obra Fumeur V, gravura feita em 1964, em NFT (token não fungível, do inglês) ateando fogo à peça em seguida. O objetivo do grupo é fazer o quadro "viver para sempre" no blockchain.

Para realizar a façanha, um dos artistas usou uma espécie de lança-chamas acoplado a um botijão para incendiar a gravura.

A ideia original do coletivo era fazer apenas um token do desenho antes de ele ser queimado, mas a gravura e a assinatura do autor permaneceram nos restos do papel. Com isso, o grupo fez dois NFTs distintos.

A obra será leiloada em duas versões até o dia 31 de julho: a versão digital da ilustração original e uma NFT da obra queimada — que concede ao vencedor do leilão a versão original queimada e emoldurada pelo grupo. O leilão ocorrerá na plataforma Unique.One com lance inicial de 500 dólares.

Em texto publicada na página do grupo, o coletivo brinca com os significados do ato de queimar a obra de arte.

"Na verdade, é uma coincidência que o ato físico de ‘queimar’ também esteja relacionado à ‘censura’. Da perspectiva do blockchain, queimar é o que fazemos para transformar o valor de um lado para o outro", afirma o grupo, pontuando que a Fractal Studios, agora, "está dando um passo adiante ao reconhecer a realidade como uma rede".

Manifesto

O coletivo explica, no texto, que ao queimar o Picasso e cunhar seu NFT correspondente, este último se torna uma reserva de valor, e a proveniência da obra de arte passa para a web 3.0. "A destruição do Picasso é necessária para unir seu valor e proveniência a outra versão", assegura o grupo, pontuando que o ato pode "significar coisas diferentes para pessoas diferentes".

Os artistas publicaram manifesto no Medium da UniqueOne.Network, rede de marketplaces de NFT, em prol da valolrzação do mundo digital como parte integrante da realidade humana. O Fractal Studios, ao queimar a obra, estaria dando um passo para incluir a dinâmica do blockchain nas esferas pessoas de valor da sociedade.

O grupo também defende o registro na rede como forma de os grandes nomes da arte sobreviverem aos efeitos do tempo. "Os artistas que idolatramos hoje só são grandes em nossa realidade porque conhecemos eles, sabemos da sua procedência. Mas uma criança não fica sabendo do Kandinsky por osmose", argumentam, defendendo que o conhecimento "tem de ser registrado em algum lugar e transmitido".

"Esquecimento pode levar a uma espécie de morte artística. Em uma revolução tecnológica, essas antiguidades e grandes obras que sobrevivem através da transformação digital podem escapar do esquecimento", ressalta o grupo.

O que é NFT

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o NFT funciona como uma certificação de propriedade ligada a um produto digital, como uma imagem ou um meme. No mundo físico, o documento seria equivalente à escritura de uma casa.

O NFT é considerado um criptoativo: tem a promessa de valer algo no futuro. Uma criptomoeda, por exemplo, é diferente, dado que esta tem cotação diária. O fato de ser não fungível denota que a peça é insubstituível. Conforme o portal, a lógica difere da moeda: enquanto uma nota de R$ 5 tem o mesmo valor que cinco moedas de R$ 1, o NFT é exclusivo.

As transações de NFT ocorrem em uma rede descentralizada de internet nomeada ethereum (da criptomoeda ether). Nela, as informações ficam registradas e com inviolabilidade garantida pela criptografia. 

No primeiro trimestre de 2021, o mercado que movimenta o ativo digital cresceu 131 vezes se comparado ao mesmo período do ano passado. Ao todo, foram transacionados 2 bilhões de dólares (cerca de R$ 10,4 bilhões), a maioria para o pagamento de obras de arte milionárias.

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