Civis inexperientes se armam para defender Kiev na linha de frente: 'temos que parar o inimigo'
Presidente da Ucrânia orienta a população a defender a capital do País e distribui armas aos civis
Sem qualquer experiência militar, mas com o desejo de proteger o país, voluntários civis pegam em armas para defender Kiev, capital da Ucrânia, na linha de frente. Em meio à aproximação do cerco inimigo, os voluntários se prepararam para o combate com a Rússia durante a tarde de sexta-feira (25) e início de sábado (26).
Vestindo jeans, roupas esportivas, tênis ou uniformes, esses voluntários da "defesa territorial" agora são onipresentes na cidade, reconhecíveis pela pequena braçadeira amarela, ou apenas uma fita adesiva, que usam em volta do braço esquerdo.
Em uma cidade praticamente fantasma, o constante ir e vir desse grupo é óbvio, por vezes, se destacando mais do que os militares regulares. Isso porque no cenário da guerra, basta ter entre 18 e 60 anos e ter passaporte para servir. Nenhum treinamento é necessário.
Civilians in Ukraine are being given arms to fight the Russian army.
— Mir Mohammad Alikhan (@MirMAKOfficial) February 25, 2022
Pakistanyo. Value your Armed Forces. There would be no Pakistan without them. Watch and learn.
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LINHA DE FRENTE
Após a intensificação da ofensiva russa à Kiev, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, convocou a população a pegar em armas e defender o país. Com esse chamado, dezenas de ucranianos se apresentaram para receber um fuzil Kalashnikov em um ponto de distribuição da capital ucraniana.
Caminhões militares cheio de caixas de armas está sendo usado para entregar as armas. Em meio a isso, o Ministério da Defesa tem aumentado os pedidos de alistamento emergencial nas brigadas de "defesa territorial".
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ALISTAMENTO VOLUNTÁRIO
Considerando o cenário de tensão, o historiador de 35 anos, Yuri Kortshemni, não hesitou antes de se oferecer para ajudar. Ele faz parte dos moradores bairro de Obolon, no norte de Kiev, que decidiu pegar em armas.
Os voluntários civis deste distrito estão na linha de frente. Esse quartel-general está localizado a poucos metros do local onde um comando de três veículos blindados supostamente russos espalhou o medo, abrindo fogo contra um civil e esmagando um carro.
Yuri, que nunca havia segurado uma arma nas mãos, não hesitou antes de juntar a um batalhão de civis pronto para defender Kiev metro a metro do inimigo russo. "Eles distribuíram rifles, carregaram para nós e aqui estamos", disse Yuri Kortshemni.
Já o eletricista Volodimir Moguila explica: "eles nos deram armas em um escritório de alistamento militar. Agora, a situação é tal que não podemos esperar pela convocação".
O homem, com já tem certa idade, mantém o rifle balançando no casaco, enquanto rola um pneu velho pela beira de uma estrada para reforçar uma barricada improvisada ao lado de um tanque ucraniano.
PERSISTÊNCIA
Enquanto aguardam o ataque russo, os voluntários inexperientes se ocupam em receber um treinamento militar rudimentar e improvisado no estacionamento adjacente.
"Temos um inimigo muito poderoso à nossa frente", justificou o seu comandante, com o nome de guerra "Bob", um engenheiro informático de 51 anos com um olhar azul penetrante, portando um fuzil de assalto nas mãos.
Este armamento "não é suficiente para deter os helicópteros, nem para lidar com tanques", lamentou, pedindo à comunidade internacional que forneça armas ao seu país.
"Temos que parar Moscou, temos que parar o inimigo".
Por sua vez, o voluntário Roman Bondertsev, que decidiu lutar "para não ficar parado em casa" enquanto a Rússia invadia seu país, diz estar pronto para defender sua cidade metro a metro, seja qual for o cenário. Mas ele também não tem muitas esperanças.
"Eu nunca segurei uma arma em minhas mãos até hoje. O que você quer? Vamos tentar o nosso melhor", explicou, com o semblante claramente abatido. "E se eles me matarem, haverá outros dois prontos para tomar o meu lugar", concluiu em tom de promessa.