Urucum: veja para que serve e benefícios da planta
Com propriedades antioxidantes, planta ajuda a retardar o envelhecimento
Nativo da floresta amazônica, o urucum faz parte da história do Brasil, estando presente no cotidiano do povo sul-americano há séculos - e não é por acaso: além de muito utilizado como corante na indústria alimentícia, o vegetal tem diversas propriedades medicinais.
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Entre seus principais benefícios para a saúde humana, está o combate a doenças cardiovasculares e câncer. Na gastronomia, o fruto dá origem ao colorau, condimento utilizado para adicionar cor e sabor aos alimentos.
Para conhecer melhor o fruto, o Diário do Nordeste conversou com especialistas e descobriu quais as outras propriedades e serventias do urucum.
O que é urucum
Cientificamente conhecido como Bixa orellana L, o urucum é uma planta brasileira e dá frutos conhecidos como “cachopas”, segundo informações do pesquisador Paulo Carvalho*, autor da obra “Urucum: Uma semente com a história do Brasil”.
No país sul-americano, a fruta é cultivada em diferentes regiões, com destaque para a Sudeste, responsável pela produção de 52% das sementes no território, conforme apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021.
Significado espiritual
Velho conhecido dos povos originários, o urucum possui sementes que se transformam em uma espécie de tinta vermelha, utilizada por esses povos durante séculos para pintar-se em cerimônias e batalhas.
Por isso, ele representa um importante elemento na simbologia e no sistema de comunicação visual de diversos povos indígenas do País, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Colorau e urucum são a mesma coisa?
Apesar de muitas pessoas confundirem os dois elementos, colorau e urucum não são exatamente a mesma coisa: Paulo Carvalho explica que o colorau comercializado é, na verdade, um condimento obtido através da junção de farinha de milho com o pigmento extraído das sementes de urucum.
No entanto, vale lembrar que o colorau tradicional é feito misturando milho ou farinha de milho com as sementes do fruto batidas em pilão. A combinação, em seguida, é peneirada, e, só então, fica pronta para consumo.
Benefícios do urucum
Segundo relatado pelo nutricionista Sandoval Albuquerque**, o fruto é rico em carotenoides, betacarotenos, luteína e licopenos, substâncias que garantem ao urucum uma forte ação antioxidante.
Com o efeito, a planta consegue proteger a membrana celular do ataque de radicais livres, combatendo o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como o de próstata, e retardando o envelhecimento.
A professora Mary Anne Medeiros***, coordenadora do Programa Farmácias Vivas e do Horto de Plantas Medicinais da Universidade Federal do Ceará (UFC), também ressalta a presença de flavonoides, compostos que possuem propriedades anti-inflamatórias.
Para que tipo de doença serve?
Por ser um antioxidante poderoso, a fruta é muito eficiente na prevenção e controle de doenças cardiovasculares, diabetes e colesterol alto, patologias normalmente relacionadas ao avanço da idade.
Serve para diabetes?
Como já citado, o consumo de urucum é, sim, benéfico para o tratamento da diabetes. Segundo Albuquerque, o fruto amazônico aumenta a sensibilidade do corpo à insulina, fazendo com que o organismo capte melhor a substância e transforme-a em energia.
Desta forma, a presença de açúcar no sangue é melhor controlada, ajudando a estabilizar a doença.
Semente de urucum
Segundo a obra “Urucum” da Coleção Plantar, coletânea da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a nomenclatura da fruta deriva do tupi “uru-ku”, que significa vermelho, cor do corante natural extraído das sementes da iguaria.
Na indústria, esse pigmento é usado como matéria-prima de corantes alimentícios, fazendo parte, inclusive, dos ingredientes que compõem o colorau, condimento presente no cardápio das famílias brasileiras.
Planta de urucum
Assim como a maior parte da flora amazônica, o urucuzeiro pode crescer bastante, chegando a atingir 6 metros de altura. A árvore tem origem pré-colombiana e costuma ter vida longa, sendo considerada, assim, uma “planta perene”, conforme informado no guia desenvolvido pela Embrapa.
Chá de urucum
Uma das formas de se aproveitar as propriedades do urucum é ingerindo a iguaria em forma de chá. A bebida pode ser preparada com as folhas ou sementes do fruto, possuindo um modo de preparo diferente em cada um dos casos.
Chá da folha do urucum
Na versão da bebida que leva as folhas do fruto amazônico, o ideal é que sejam utilizadas de 8 a 10 folhas para 1 litro de água. Com os ingredientes em mãos, é hora de preparar a bebida, seguindo o “passo a passo” dado pelo nutricionista Sandoval:
“Ferve a água, coloca as folhas, tampa e deixa ali por até 5 minutos em infusão. Infusão é o nome que se dá, exatamente, pelo molho [que se forma], por colocar aquelas folhas em água quente. Não é para ferver [a folha], porque o ferver acaba destruindo alguns compostos”.
Chá das sementes de urucum
Já quando a bebida é preparada com as sementes do urucum, o especialista indica que, antes de levá-las à água, sejam “quebradas” para liberar as substâncias contidas no interior.
Nesta versão, a quantidade recomendada é: 1 colher de sopa de sementes para 1 litro de água. Vale lembrar que a colher de sopa não deve estar muito cheia.
“Por ser um pouco mais dura, eu já aconselho a ferver [a semente]. Deixa ferver por três minutos para conseguir puxar substâncias que tão dentro da semente. Apaga o fogo, coa, e, então, consome”, explicou o nutricionista.
Contraindicações
Por auxiliar na regularização da pressão, não é recomendado que pessoas com pressão baixa ou que façam uso de medicamentos para o quadro consumam o chá, já que a bebida pode diminuir a pressão.
Como tomar para colesterol?
O consumo da bebida pode ajudar a controlar o nível de colesterol no organismo, mas deve ser feito moderadamente: de acordo com Sandoval, a quantidade ingerida diariamente não deve ultrapassar três xícaras de chá.
Vale lembrar que, apesar de natural, o chá de urucum continua sendo uma substância química, e, por isso, deve ser consumido por curto período de tempo: “Eu aconselho usar por 2 ou 3 meses no máximo, parar e, passar três meses sem utilizar, para depois voltar”, recomendou o especialista.
Banho de urucum
Apesar de ser muito conhecido como um tratamento medicinal, o banho de urucum não é um método cientificamente comprovado, fazendo parte, apenas, da medicina popular, segundo Mary Anne. Por isso, a atividade pode apresentar riscos à saúde, e, caso seja feita, exige cautela.
*Paulo Carvalho é doutor em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em corantes para alimentos e atua como pesquisador científico IV do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital).
**Sandoval Albuquerque é nutricionista clínico e especialista em nutrição esportiva.
***Mary Anne Medeiros é mestre e doutora em Química Orgânica de Produtos Naturais e atua como professora de Farmacognosia e Fitoterapia na Universidade Federal do Ceará (UFC), além de ser presidente da Associação Brasileira de Farmácias Vivas.
*sob supervisão de Mariana Lazari