Sobreviventes depõem no 1º dia do segundo julgamento da Chacina do Curió: 'já foram atirando'

Vítimas não fatais da matança foram as únicas a falar para o júri nesta terça

Escrito por Matheus Facundo e Emanoela Campelo de Melo , seguranca@svm.com.br
Júri da Chacina do Curió
Legenda: Júri do Curió foi retomado nesta terça-feira (29), para o julgamento de mais oito policiais
Foto: Nadson Fernandes

O primeiro dia do segundo julgamento da Chacina do Curió, nesta terça-feira (29), foi marcado pelos depoimentos de dois sobreviventes da matança: um homem vítima de diversos disparos de arma de fogo enquanto conversava com um amigo na calçada de casa, e um jovem de 26 anos, retirado de casa e ameaçado por supostamente conhecer duas pessoas apontadas como traficantes na região. 

A primeira vítima sobrevivente também depôs no primeiro julgamento Ele contou que levou cerca de cinco tiros: "Foi muito tiro. Na coluna, no ombro, na barriga, embaixo do braço. Fiquei com lesão medular". 

Ele relatou ao júri do Curió que ficou dois meses 15 dias hospitalizados. Conforme o homem, ele foi surpreendido no caminho para casa, após sair de seu trabalho em uma pizzaria.  

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Segundo o testemunho, os disparos foram feitos por ocupantes de um celta branco que usavam balaclava para cobrir os rostos: "Gritaram: 'é agora' e já foram atirando". 

Ele acredita que só não faleceu pois "se fingiu de morto". Atualmente ele conta que faz uso de medicação controlada. 

Sobrevivente foi confundido com assassino de policial 

O segundo sobrevivente, o jovem de 26 anos, foi retirado de sua própria casa por cerca de sete policiais acharam ele parecido com a pessoa que matou o policial Serpa — caso que teria culminado na Chacina —. 

"Na época eu tinha cabelo loiro e perguntaram por mim. Entraram na minha casa e eu disse que não tinha nada de errado. Mandaram eu ficar de pé, pegaram meu celular, eu desbloqueei. Um amigo meu me mandou mensagem mandando eu ficar esperto porque tinha Polícia rodando na área. Aí quando eles viram essa mensagem me tiraram de dentro de casa e o policial botou a arma na minha cabeça", conta. 

O que se seguiu, de acordo com o depoimento, foram momentos de terror psicológico. O jovem foi colocado em um carro e eles começaram a andar pelas ruas da região, procurando por um rapaz chamado "Curió".

No meio do caminho, ele viu ambulâncias com diversas pessoas sendo socorridas. Nesse momento, um dos policiais disse: "Olha aí o que dá com quem fica fora na rua fora de hora". Ele conta ainda que os PMs colocaram uma arma em sua boca. 

Julgamento longo 

A expectativa é de que a segunda parte do julgamento seja ainda mais longa, com previsão de dez a 12 dias, visto que serão ouvidos os oito réus, 12 testemunhas de acusação e defesa e seis vítimas sobreviventes. 

Estão em julgamento policiais militares:

  1. Francinildo Jose da Silva Nascimento;
  2. Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes;
  3. Gerson Vitoriano Carvalho;
  4. José Haroldo Uchoa Gomes;
  5. Josiel Silveira Gomes;
  6. Ronaldo da Silva Lima;
  7. Thiago Aurélio de Souza Augusto;
  8. Thiago Veríssimo Andrade Batista de Moraes.
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