Policial militar que matou jovem em delegacia de Camocim respondeu a outros processos por agressão
Um inquérito militar foi arquivado, mas outro caso segue tramitando na Justiça estadual.
O policial militar George Tarick de Vasconcelos Ferreira, 33 anos, que assassinou a tiros um jovem de 19 anos dentro da Delegacia Regional de Camocim, na madrugada do último domingo (6), já respondeu a outras duas acusações de agressão física.
Conforme documentos oficiais aos quais o Diário do Nordeste teve acesso, em outubro de 2018, durante uma abordagem do Batalhão de Policiamento de Rondas Intensivas e Ostensivas (BPRaio) da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no município de Granja, George e mais três policiais militares teriam agredido uma adolescente e seu namorado após supostamente invadirem o domicílio do rapaz à procura de drogas e armas.
A garota relatou que levou um tapa - sem identificar qual PM fez isso - ao dizer que não sabia de droga alguma, além de ter sido ordenada a levantar a roupa íntima para atestar a presença de substâncias ilícitas. Enquanto isso, ouvia as agressões sofridas pelo namorado.
A situação só teria sido resolvida após a chegada de um tio do rapaz ao local. Após o tapa, a garota ficou com um hematoma. Ela também teria machucado a mão ao ser ordenada a procurar drogas no telhado da casa.
O caso resultou num Inquérito Policial Militar (IPM). Porém, num segundo depoimento, a jovem confirmou que o agora ex-namorado vendia drogas; que ele foi preso no dia das supostas agressões porque os policiais encontraram drogas e uma espingarda na residência; e que não teria escutado nenhum ataque ao rapaz.
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Nos depoimentos de defesa, os quatro PMs foram unânimes em relatar que receberam uma denúncia sobre venda de drogas no local; que o rapaz autorizou a entrada deles na residência; e que não praticaram nenhuma agressão contra os dois jovens.
O IPM concluiu que não foi possível encontrar indícios de materialidade do crime de abuso de autoridade e não pediu o indiciamento dos investigados. Em julho de 2020, a Justiça Estadual do Ceará decidiu arquivar o inquérito, após parecer favorável do Ministério Público do Estado (MPCE).
Segunda briga
Já em julho de 2021, um homem foi à Delegacia de Camocim relatar que George chegou à casa dele, à paisana, e deu-lhe um soco no rosto, "sem motivo aparente e sem provocação".O homem adicionou fotos das lesões sofridas e disse que temia pela segurança dele e da família.
Uma testemunha também afirmou em depoimento que George teria questionado porque o homem o estaria encarando. Após um bate-boca e o soco, o homem teria empurrado o PM. Em seguida, pessoas próximas separaram a briga.
No depoimento de defesa, o PM disse que foi à casa do homem para falar com o pai deste, quando teria sido agredido verbalmente. Nessa hora, confirma que entrou "em vias de fato" com o homem, mas que não desferiu nenhum soco.
Atualmente, este caso ainda tramita na Justiça cearense.
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Homicídio em Camocim
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no caso da morte no último domingo, George e a vítima, identificada como Mateus Silva Cruz, foram levados à delegacia de madrugada após se desentenderem em uma festa na praia de Camocim.
O relatório policial conta que os envolvidos na discussão estavam sentados num banco de um corredor externo da delegacia, aguardando atendimento, quando o policial sacou sua pistola funcional e efetuou diversos disparos contra a vítima, que morreu instantaneamente.
O policial foi preso em flagrante por homicídio e está à disposição da Justiça. Ele também vai ser investigado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
Nesta segunda, Tarick teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.
Vítima também respondia
Mateus Silva Cruz também tinha um processo aberto contra ele na Justiça cearense. Conforme denúncia do MPCE, o rapaz teria desacatado, agredido verbalmente e ameaçado guardas civis municipais no Centro de Camocim, em dezembro do ano passado.
No dia 1º de fevereiro, a Comarca de Camocim deu 10 dias para o réu responder à acusação, mas ele foi morto antes do esgotamento do prazo legal.