'Ndrangheta: conheça a máfia italiana que tinha negócios no Ceará e foi alvo de operação da PF

A organização criminosa teria aberto restaurantes e pizzarias em território cearense. Um chefe da máfia já havia sido preso na Paraíba, e um comparsa revelou relações com facções brasileiras

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em Fortaleza, Eusébio e Aquiraz, no Ceará; e em Natal, no Rio Grande do Norte
Legenda: Policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em Fortaleza, Eusébio e Aquiraz, no Ceará; e em Natal, no Rio Grande do Norte
Foto: Divulgação/ PF

A máfia italiana 'Ndrangheta está presente no Brasil. Informações públicas sobre a atuação do grupo criminoso em território brasileiro começaram a surgir em 2021. Nesta quarta-feira (4), a Polícia Federal (PF) e a Polícia Internacional (Interpol) deflagraram a Operação Calábria, que revelou a presença da máfia também no Ceará - onde estaria acontecendo lavagem de dinheiro.

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mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Fortaleza, Eusébio e Aquiraz, no Ceará; e em Natal, no Rio Grande do Norte. As ordens judiciais foram expedidas pela 32ª Vara da Justiça Federal em Fortaleza.

A reportagem apurou que, entre os alvos dos mandados, estão italianos e brasileiros. A 'Ndrangheta teria aberto empresas (principalmente restaurantes e pizzarias) no Ceará para "lavar" o dinheiro ilícito da máfia.

A Polícia Federal divulgou que "as investigações revelaram um esquema de abertura e administração de empresas de fachada por contadores e advogados. Muitas dessas empresas estavam registradas em endereços únicos ou fictícios, e foram utilizadas para transferir recursos ilícitos vindos da Europa". 

O objetivo seria lavar dinheiro no Brasil, especialmente no Ceará, além de viabilizar a obtenção de vistos de investidor e cidadania brasileira para estrangeiros envolvidos."
Polícia Federal
Em publicação

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Conforme a PF, a investigação no Ceará começou com uma notícia-crime enviada pela Guardia di Finanza, órgão especial de polícia da Itália. O relato apontou movimentações financeiras suspeitas entre a Itália e o Brasil, envolvendo italianos suspeitos de participarem de "uma das maiores organizações criminosas do mundo, originada no país europeu".

Os alvos da investigação são suspeitos de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, crimes financeiros e contra a ordem tributária. As penas podem somar até 30 anos de prisão, segundo a Polícia Federal. O material apreendido será analisado para aprofundar as investigações contra a organização criminosa.

O nome da Operação Calábria faz referência a uma região no sudoeste da Itália, famosa pelas praias e que é o berço da organização criminosa 'Ndrangheta. O nome da máfia é proveniente do grego "andragathia", que significa coragem e lealdade.

Ligação com facções brasileiras

Outra operação policial que tinha como alvo a 'NDrangheta foi deflagrada em dez países - inclusive no Brasil -, no dia 3 de maio deste ano. A Operação Eureka foi coordenada pela Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol), segundo publicação do portal G1.

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ordens judiciais (entre mandados de prisão e mandados de busca e apreensão) foram cumpridas na Itália, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Eslovênia, Romênia, Bélgica, Panamá e Brasil.

Apontado como um chefe da 'NDrangheta e conhecido como "o rei da cocaína de Milão", Rocco Morabito foi preso junto do comparsa Vincenzo Pasquino em João Pessoa, na Paraíba (estado vizinho do Ceará), em maio de 2021. Morabito havia fugido da prisão no Uruguai por duas vezes, em 2019 e 2007, de acordo com o site Uol.

Em julho de 2022, Morabito foi extraditado para cumprir uma pena de 30 anos na Itália. Em fevereiro de 2023, foi a vez de Pasquino ser extraditado.

Conforme reportagem do jornal O Globo, Vincenzo Pasquino decidiu colaborar com a polícia italiana. Ele revelou que representou a máfia 'Ndrangheta em negociações com as facções brasileiras Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) por parcerias para enviar cocaína de portos do Brasil para a Europa.

Em um depoimento, Pasquino detalhou inclusive que se reuniu em Aracaju (Sergipe) com um traficante brasileiro que saiu de Brasília (Distrito Federal) e que depois passaria por Fortaleza, segundo a matéria jornalística.

A máfia italiana teria tentáculos em todos os continentes do mundo, com um faturamento anual de aproximadamente R$ 300 bilhões, oriundos principalmente da venda de cocaína.

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