Delegado e inspetor da Polícia Civil são investigados por integrarem complô contra gestão da Ciopaer
Conversas particulares de um tenente-coronel foram compartilhadas entre agentes de segurança do Ceará. A suposta trama já era investigada pelo Ministério Público Estadual
Um delegado e um inspetor da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) passaram a ser investigados pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) por suspeita de participarem de um complô contra a gestão da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). A suposta trama, que envolve servidores públicos, já era investigada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
A portaria que instaurou o Processo Administrativo-Disciplinar (PAD) contra os dois policiais civis foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) da última terça-feira (23).
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Conforme a publicação, um tenente-coronel da Polícia Militar do Ceará (PMCE) lotado na Ciopaer teve o sigilo telefônico e telemático violado, através de uma invasão ao aplicativo WhatsApp do oficial, que estava aberto em um computador da Coordenadoria, em dezembro do ano passado. Outro tenente-coronel da PMCE é suspeito de cometer o crime.
A investigação preliminar aponta que "foram capturadas imagens da tela do computador da sala de instrução, contendo conversas particulares" do tenente-coronel, além de áudios que foram baixados.
Esse conteúdo teria circulado através de redes sociais entre diversos oficiais militares, policiais civis, chegando ao conhecimento do Exmo. Senhor Secretário de Segurança, posto que o conteúdo foi utilizado em denúncias anônimas registradas no site Ceará Transparente."
O delegado da Polícia Civil teria sido um dos servidores públicos a receber e a compartilhar "esses dados capturados ilegalmente". E o inspetor, que trabalhava na Ciopaer, "teria repassado as informações via WhatsApp a Oficiais Militares, os quais apresentaram pedido de apuração ao Comando-Geral Adjunto da Polícia Militar utilizando o conteúdo capturado de forma ilegal", segundo a portaria.
Tenente-coronel denunciado por acesso ilegal
O Ministério Público do Ceará denunciou um tenente-coronel da PMCE, em julho deste ano, por ter acessado ilegalmente conversas íntimas de outros dois colegas, dentre eles o atual comandante da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas.
O tenente-coronel Sílvio Marcos Santos Assunção foi denunciado pela Promotoria de Justiça Militar por violação de recato. O crime acontece quando é violado, mediante processo técnico, o direito ao recato pessoal ou o direito ao resguardo das palavras que não foram pronunciadas publicamente.
De acordo com a acusação, a conduta se agrava porque o denunciado apresentou requintes extremos de "deslealdade e quebra dos ditames de hierarquia e disciplina" para com um par, outro tenente-coronel, e o coronel aviador comandante da unidade. A Justiça recebeu a denúncia dias depois, o que tornou o acusado réu.
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Entenda a suposta trama contra a gestão da Ciopaer
As autoridades apuraram que o denunciado se deparou com o WhatsappWeb de uma das vítimas, ainda logado em um computador na Ciopaer. Além de ler as mensagens, "fotografou e baixou arquivos de áudio contidos na referida conversa, para posteriormente divulgar tais mídias indevidamente em outros tantos sítios no mundo virtual", diz um trecho da denúncia do MPCE.
O teor da conversa mantida entre as vítimas diz respeito a uma fotografia postada por um coronel da PMCE nas redes sociais. Na foto, o oficial está na companhia de outros PMs e de um delegado da Polícia Civil.
De acordo com o documento obtido pela reportagem, na conversa do Whatsapp, as vítimas falavam que "faltou só as grades nessa foto, inferindo-se, portanto, que ambos os militares vítimas mantinham consigo opinião pessoal de que os policiais seriam criminosos, portanto, deveriam estar reclusos em estabelecimento prisional".
O delegado que estava na imagem já foi coordenador da Ciopaer.
O conteúdo teria sido repassado para um drive e, posteriormente, colocado em dois pen drives e entregue a um coronel e a um inspetor. Para o MPCE, ficou claro que "o objetivo da violação do sigilo e posteriormente do próprio vazamento afigura-se dentro de um contexto de tendenciar forças para um dos lados do complô".
Consta em documento obtido pela reportagem que o próprio tenente-coronel denunciado teria reconhecido a existência dessa trama e que presencia na Ciopaer disputa pelo poder, entre os grupos lá existentes.