De tráfico de drogas a homicídios: 35 líderes de facções criminosas no Ceará foram presos em 2024
"Sabemos que há uma estreita relação entre esses membros retirados de circulação e os crimes violentos", disse o delegado titular da Draco Alisson Gomes
Homicídios, tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e crimes contra a administração pública. Em 2024, a Polícia Civil do Ceará prendeu 337 integrantes de facções criminosas. Destes, 35 tinham papel de chefia dentro das organizações.
O balanço foi divulgado pela PCCE nesta sexta-feira (3), que informou ainda ter havido aumento de quase 40% nas capturas, comparado ao ano de 2023, "quando 242 indivíduos foram retirados de circulação". As prisões aconteceram dentro e fora do Ceará, também indicando "a asfixia financeira de grupos criminosos".
O titular da Especializada, delegado Alisson Gomes, disse em entrevista ao Diário do Nordeste que "entendemos como liderança todos aqueles com poder de mando dentro da organização. Sabemos que há uma estreita relação entre esses membros retirados de circulação e os crimes violentos. Tiramos de circulação os chefes que mandam praticar os crimes, quanto os subordinados, os que executam os homicídios".
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Policiais da Delegacia de Repressão às ações Criminosas Organizadas (Draco) apreenderam no último ano 52 armas de fogo e 9.701 munições de diversos calibres, este, número que chega a ser quatro vezes maior do que em 2023.
"A unidade especializada da Polícia Civil promoveu, ainda, a representação de bloqueios de contas bancárias dos alvos em que resultou um total de mais de R$ 37 milhões. O objetivo foi promover a asfixia financeira e descapitalização de grupos criminosos, que muitas vezes usam valores adquiridos de forma ilícita, para lavagem de dinheiro, adquirindo bens, imóveis e veículos de luxo. Ainda durante o ano de 2024, mais de R$ 3 milhões em veículos foram apreendidos"
RELEMBRE ALGUMAS DAS ÚLTIMAS PRISÕES:
Uma das prisões destacadas pelo titular da Draco foi a de 'Nem do Parazinho'. José Joaquim Benício Lopes é apontado como chefe da facção criminosa Comando Vermelho (CV) no distrito de Parazinho, em Granja, Interior do Ceará. Com a prisão e a apreensão do celular dele, a Polícia deflagrou a operação Captum, nos meses de janeiro a abril do ano passado.
- Setembro: Uma ofensiva da PCCE resultou no cumprimento de um mandado de prisão preventiva em desfavor de um homem, de 40 anos, investigado por integrar um grupo criminoso e apontado como autor de homicídios ocorridos no bairro Praia do Futuro. A captura ocorreu no bairro Bom Jardim.
- Outubro: Capturado o chefe de grupo criminoso em condomínio de alto padrão na Região Metropolitana de Fortaleza. Contra o homem de 35 anos havia mandado de prisão preventiva em aberto. Ele foi preso em Maracanaú
- Novembro: Um homem de 35 anos, suspeito de envolvimento no tráfico internacional de drogas, foi preso em um shopping de Fortaleza. Ele ainda é apontado pelos investigadores como chefe de um grupo criminoso carioca com atuação nos bairros Serviluz e Vicente Pinzon.
- Dezembro: Com apoio da Coin/SSPDS, policiais civis capturaram chefe de grupo criminoso e elucidaram o homicídio na Região Metropolitana de Fortaleza.
No total, foram 24 operações, dentre elas a operação 'Demote', que chegou a 15ª fase em dezembro e resultou em 18 suspeitos presos, em Fortaleza, Região Metropolitana, Beberibe e Jijoca de Jericoacoara.
HOMICÍDIOS
Apesar do aumento das prisões em 2024, o número de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) cresceu no Ceará nesse período. Conforme dados parciais disponibilizados no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), o Estado registrou pelo menos 3.151 mortes violentas no ano passado, até o dia 20 de dezembro (números dos últimos 11 dias do ano ainda não foram divulgados). Os anos de 2023 e 2022 terminaram com 2.970 homicídios, cada.
Um dos principais crimes ocorridos no ano foi a Chacina de Viçosa do Ceará, que deixou oito mortos e dois feridos, em uma praça no Município que fica na Região Norte do Estado, na madrugada do dia 20 de junho último. Criminosos abordaram as vítimas, que se encontravam no local, mandaram elas ficarem enfileiradas e efetuaram os disparos. Pelo menos dois suspeitos de participarem do crime - inclusive o mandante - foram presos pela Polícia, em outros estados brasileiros, enquanto fugiam.
Fontes ouvidas pelo Diário do Nordeste apontam que o principal motivo para a volta do aumento de homicídios é o acirramento da guerra entre as facções criminosas no Ceará, nos últimos anos.
Um policial que atua na Inteligência da SSPDS analisa que "esses índices (de homicídios) apontam exatamente a movimentação das organizações criminosas". "Em 2019, quando houve aquela série de ataques, estávamos vivenciando o auge das disputas. Na ocasião, tínhamos PCC (Primeiro Comando da Capital) ao lado da GDE (Guardiões do Estado), contra o CV (Comando Vermelho)", lembra.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará destacou que "mantém, ininterruptamente, seus esforços direcionados à redução dos indicadores de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) em todo o território cearense. A SSPDS tem desenvolvido diversas iniciativas com o objetivo de reforçar a atuação das Forças de Segurança no combate às mortes violentas em todas as regiões do Ceará".