Relógio da Praça Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, é recuperado

O relógio, construído entre 1909 e 1931, é um dos únicos no mundo que marca as fases da lua

Escrito por Antonio Rodrigues / Valéria Alves , regiao@svm.com.br
Juazeiro do Norte
Legenda: O maquinário do relógio está agora na parte baixa da coluna e pode ser visto através de uma porta transparente
Foto: Antonio Rodrigues

Última etapa da reforma da Praça Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, a recuperação da Coluna da Hora, que inclui o restauro do relógio, foi concluído e entregue à população, nesta segunda-feira (23). O equipamento é um dos três confeccionados na cidade pelo artesão e mecânico Pelúsio Correia de Macedo, afilhado do fundador da cidade, e tem como peculiaridade ser um dos únicos no mundo que marca as fases da lua.

O trabalho de recuperação do relógio foi feito sob o comando do mestre Geraldo Ramos Freire, relojoeiro e sineiro, que aos 80 anos, com a ajuda dos seus filhos, aceitou entregá-lo em pleno funcionamento, depois de anos parado e sem passar por uma manutenção especializada.

O historiador e pesquisador do Cariri cearense, Roberto Júnior, acredita que o relógio foi construído entre 1909 e 1931 e, originalmente, além das funções normais, ainda marcava dias da semana, do mês e o dia 29 de fevereiro a cada quatro anos. “Uma máquina muito complexa e, podemos dizer, a obra-prima do mestre Pelúsio. Por isso, ter de volta funcionando, é uma alegria muito grande”, exalta.

A própria Coluna da Hora foi planejada especialmente para abrigar este relógio, sendo um importante projeto do escultor italiano Agostinho Balmes Odísio, que mudou-se para Juazeiro do Norte após a morte do sacerdote e foi responsável por outras obras na cidade, como a estátua do Padre Cícero em tamanho real erguida no largo da Capela do Socorro. “Deixou esse legado tão importante para a cidade”, acredita Roberto.

Mudança

Dessa vez, o maquinário do relógio está na parte baixa da Coluna e pode ser acessado por uma porta transparente, facilitando a manutenção e a visibilidade, dando à população a oprotunidade de acompanhar toda a complexa mecânica. “A pessoa só acompanhava o movimento dos ponteiros e não via todo processo por trás. Qualquer pessoa no mundo poderá ter acesso ao patrimônio, que é único”, exalta o pesquisador.

Responsável pela obra, o mestre Geraldo Ramos, que topou aceitar o desafio de comandar sua restauração mesmo com idade avançada, exaltou o resultado: “Satisfação grande. Ver ele parado era uma tristeza. Ter de volta é bom para a cidade, para todo o mundo. Este é um dos melhores relógios do país, porque é uma réplica do Big Ben, de Londres, mas essa tem o diferencial que foi feita por gente comum, de nós”, brinca o mecânico.

O filho do mestre Geraldo, Marcos Aurélio Freire, que trabalhou na restauração com a orientação do pai, detalha que o relógio não apresentava graves defeitos, mas precisava de muitos ajustes. “Ele não funcionava a hora, as fases da lua. Essa reforma da praça veio em um bom momento, porque deu para fazer todo esse restauro necessitado. Agora, deu uma nova vida e vai durar muito tempo e, enquanto estivermos vivos, vamos dar esse cuidado, esse carinho”, antecipa.

Marcos detalha que o relógio tem uma peculiaridade: todo seu funcionamento acontece de forma mecânica, ou seja, não precisa de fonte externa de energia. Sua fonte é o próprio peso do relógio, que usa da gravidade para movimentar toda engrenagem. “Isso que é a beleza, uma coisa de muito tempo e ainda funciona de forma bela. É uma coisa de valorizar o que o ser humano já produziu de conhecimento”.

A restauração da Coluna da Hora, e consequentemente de seu relógio, fez parte da reforma da Praça Padre Cícero, que também incluiu a recuperação do traçado original da praça, nova iluminação, a inserção de piso intertravado no entorno, obras de drenagem, paisagismo e jardinagem, além da construção da Alameda Juazeiro – Centro Gastronômico Rita Araújo da Silva. O investimento total foi de R$ 4,5 milhões.