Núcleo de Arqueologia leva pesquisas ao Interior do Ceará

Escrito por Redação ,
Objetivo do grupo de estudos ligado à Uece é também expandir a quantidade de pesquisas na área

Russas. Há 20 anos, o hoje intitulado Núcleo de Arqueologia e Semiótica do Ceará (Narse), ligado à Universidade Estadual do Ceará (Uece), vem se dedicando a difundir pesquisas e levar o conhecimento de Arqueologia a estudantes universitários e comunidades no Interior do Ceará.

Lagoa do Coronel, em Jaguaretama, é tida como um "museu a céu aberto"

Grande parte das pesquisas se concentrou na região do Sertão Central e agora entra em uma importante fase de expansão.

O núcleo surgiu em 1993 como Núcleo de História e Arqueologia do Sertão Central (Nhasc), uma unidade da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), em Quixadá, e se constituiu com o primeiro centro de estudos arqueológicos do Estado do Ceará.

Acervo

As pesquisas neste período estavam voltadas para a arte rupestre, etnologia, museologia e preservação patrimonial e tinha a coordenação da professora Marcélia Marques. Há um ano, o Nhasc passou a ser denominado de Narse. As pesquisas realizadas ao longo de duas décadas, principalmente nos municípios de Quixadá e Quixeramobim, resultaram no acervo de arte rupestre, composto por gravuras e pinturas realizadas em rochas.

Os resultados de alguns dos estudos da região estão registrados no livro "Materiais e saber na arte rupestre", de autoria da professora Marcélia. Dentre as várias descobertas, Marcélia destaca alguns dos sítios escavados, que são objetos de estudo de estudantes universitários da Uece, para projetos de monografia.

Quixeramobim

"O sítio de pinturas e gravuras rupestres Lagoa do Fofo, em Quixeramobim, está sendo objeto de estudo do aluno Adriano Azevedo, onde é abordada a dimensão da resignificação deste sítio pela população que vive nas proximidades e no distrito de Encantado, numa perspectiva da Arqueologia Pública", afirma.

Outros sítios de extrema importância destacados por Marcélia é o sítio de gravura rupestre Pedra do Letreiro, também em Quixeramobim, que possui mais de 800 grafismos distribuídos no leito e no suporte de uma cachoeira do riacho Mofumbo. A pesquisa também é objeto de estudo num projeto que será submetido a um programa de mestrado pela aluna Vládia Lima.

Os sítios encontrados no Sertão Central apresentam importantes singularidades, provocando novas perspectivas nos estudos da arte rupestre. As pesquisas nos sítios Lagos do Fofo e Serrote da Fortuna, em Quixeramobim, enfocaram a composição das pinturas em rochas. "Pudemos perceber que os pintores pré-históricos incorporaram elementos da própria rocha na composição de suas pinturas. Constatamos que foram realizadas diferentes técnicas de incisão na rocha, de acordo com o grau de dureza delas", ressalta Marcélia.

Preservação

A região em que abriga os sítios se apresenta como verdadeiros museus a céu aberto, estando sujeito às ações naturais ou humana, daí a importância em estimular a consciência das populações que habitam a região para preservação do patrimônio cultural e histórico. Partindo dessa perspectiva, o Narse desenvolveu um projeto de extensão no município de Quixadá, na localidade de Juatama, intitulado "Guardiões do Sertão Antigo: Arte Rupestre e Preservação Patrimonial no Sertão Central do Ceará", onde professores e estudantes da escola próxima a Fazenda São Francisco irão conhecer os processos que causam destruição nos sítios Pedra Corisco e São Francisco.

Serão ministradas ainda oficinas de arte a partir da técnica da pintura com o dedo, semelhante ao modo de pintar dos artistas pré-históricos. Esse projeto está em fase inicial, onde os alunos Vital Silva e Fernanda Alana, da Feclesc, estão realizando os trabalhos de levantamento bibliográfico e cartográfico.

Dentre as ações realizadas pelo Narse, o núcleo realizou documentação da arte indígena Tremembé, na localidade de Varjota, em Itarema, no período entre 1997 e 2005. Os estudos resultaram em publicações e apresentações em congressos no Peru, na Argentina e na Colômbia.

Arte indígena

Marcélia explica que a singularidade da arte indígena Tremembé reside em pintar com pigmento natural, extraído do lagamar, no rio Aracati Mirim.

Em maio deste ano, as pesquisas foram retomadas com o objetivo de documentar o acervo de arte concebida pela índia Tremembé Navegante.

Na paisagem de Quixadá foi dado foco para preservação. Em 1995, houve um abaixo assinado solicitando o tombamento e criação de um Parque Nacional. Marcélia, juntamente com alunos do então Nhasc, colheram algumas assinaturas e enviaram para o Iphan. Tempos depois, o arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphin iniciou os estudos na região, que posteriormente, veio a ser tombada pelo Iphan em 2004, como Parque Nacional dos Serrotes de Quixadá.

ELLEN FREITAS
COLABORADORA

FIQUE POR DENTRO

Entenda o trabalho do arqueólogo

A Arqueologia é a ciência que estuda as culturas e os modos de vida dos seres antepassados através da análise de vestígios materiais. Estuda sociedades extintas, através dos restos materiais, sejam móveis (objetos de arte) ou objetos imóveis (estruturas arquitetônicas). Em seu campo de atuação incluem-se as intervenções feitas pelo homem no meio ambiente.

Mais informações

Núcleo de Arqueologia e Semiótica (Narse/Uece)
Professora Marcélia Marques
E-mail: marceliamar@terra.com.br

Vale do Jaguaribe na rota dos sítios

Russas.
Pela primeira vez estudos arqueológicos de mega fauna serão realizados na região Jaguaribana. A pesquisa interdisciplinar é parte do projeto "Lagos do Sertão", organizada pelo Núcleo de Arqueologia e Semiótica do Ceará (Narse), ligado à Uece, em parceria com a Universidade Federal do Ceará, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e Fiocruz.

A professora Marcélia Marques falou na Câmara Municipal de Vereadores Jaguaretema sobre a importância das descobertas. Recentemente, o Iphan reconheceu sítios arqueológicos em Alto Santo, e em Nova Jaguaribara

As pesquisas coordenadas pelo Narse iniciaram em Jaguaretama, a 240 km da Capital cearense, a partir de estudos preliminares sobre a existência de mega-faunas. Os indícios surgiram a partir da população da comunidade Serrote do Mato, perto da Lagoa do Coronel, onde perfurações na área para construção de cacimbas deram conta da existência de possíveis ossos de animais gigantes. A pesquisa pretende se expandir para municípios circunvizinhos, onde também há indícios.

Convênio

Na última sexta feira, 5, a arqueóloga coordenadora do projeto, Marcélia Marques, assinou convênio com a Prefeitura de Jaguaretama para realização de pesquisas no município.

O projeto "Lagos do Sertão" será enviado ao do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que autoriza as escavações em áreas reconhecidas como patrimônio histórico nacional. Segundo Marcélia, a perspectiva é que as pesquisas iniciem em novembro deste ano.

A superintendência do Iphan no Ceará confirmou a presença de expressivo conjunto de sítios arqueológicos de gravuras rupestres pré-históricas, localizados na região do Médio Jaguaribe, nos municípios de Alto Santo e Nova Jaguaribara.

A confirmação veio logo após a descoberta gravuras em pedras, residentes na região. O caso foi levado ao Instituto para averiguação.

Riqueza histórica

Segundo o superintendente Ramiro Teles, são inúmeros painéis formados pela presença de figuras de morfologias diferenciadas, de difícil reconhecimento aos olhos do observador atual, mas segundo ele, são representadas raras figuras humanas, animais e vegetais.

Ele ressalta também que as rochas sobre as quais foram executadas as manifestações gráficas sofrem intenso processo de intemperismo que ocasiona o seu desplacamento e que sítios desta natureza são identificados em todas as regiões do Ceará, associados a cursos d´água permanentes ou intermitentes.

Ainda de acordo com o superintendente, o Iphan incluiu no seu planejamento do ano de 2014, um projeto de Diagnóstico, Documentação e Divulgação do Patrimônio Arqueológico local, o qual será licitado no segundo semestre de próximo ano.

"O intuito é promover o cadastramento, o estudo, a preservação e divulgação desse conjunto de sítios da região Jaguaribana", afirma Teles.

Descobertas

Recentemente, o Iphan reconheceu sítios arqueológicos nas comunidades de Lagoa Grande e Recanto, no município de Alto Santo, e Mandacaru, em Nova Jaguaribara. Ramiro Teles juntamente com a arqueóloga Verônica Viana estiveram nas áreas para realizar os primeiros levantamentos, com o registro fotográfico da área além do mapeamento por GPS.

O mapeamento geral da área será realizado no segundo semestre de 2014 e os territórios serão catalogados no Cadastro Nacional dos Sítios Arqueológicos (CNSA). Mesmo assim, ele ressalta que estas áreas encontradas em Jaguaribara e Alto Santo, após o preliminar reconhecimento, pertencem ao Patrimônio Histórico Nacional.

As pesquisas do Narse têm o intuito de difundir e preservar os patrimônios históricos das regiões em que atuam. Está sendo elaborado convênio entre a Uece e a Universidade de La Plata, na Argentina, para aprofundar as pesquisas em antropologia.