Localização da nascente do Rio Jaguaribe pode ser alterada

Pesquisadores da Cogerh se uniram a estudiosos de outros órgãos e têm feito levantamentos na área

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,

Iguatu. Nos livros de Geografia do Ceará e nos mapas oficiais sempre foi ensinado que a nascente do Rio Jaguaribe fica localizada na Serra da Joaninha, no município de Tauá, na região dos Inhamuns. Essa origem do maior e mais importante curso de água do Ceará pode estar errada. As dúvidas foram apontadas por técnicos do escritório regional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), nesta cidade.

Após visitas à área, entrevistas com moradores e levantamentos em mapas de cursos de rios e riachos na região, técnicos do escritório regional da Cogerh, levantam dúvidas e apontam outras possibilidades para a principal origem. “Mediante o trabalho em campo abre-se uma possibilidade de uma definição mais precisa e atualizada da nascente”, disse o analista em gestão de Recursos Hídricos da Cogerh, Anatarino Torres.

O técnico da Cogerh defende a realização de novos estudos para definição correta da nascente do Rio Jaguaribe, cujo nome tem origem na língua indígena Tupi e significa “no rio das onças”. Torres explicou: “muitos rios têm várias nascentes, mas existe aquela principal, que deve ser a que apresenta uma calha mais extensa e mais larga”.

A dúvida surgiu há cerca de dois meses, após a definição do projeto Cílios do Jaguaribe, que foi lançado recentemente nesta cidade, pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Cogerh e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

O objetivo do projeto Cílios do Jaguaribe é começar um trabalho de recuperação da matar ciliar em área de seis hectares (ha) na nascente do Rio Jaguaribe e 20 ha em trecho urbano desta cidade, na região Centro-Sul cearense. “É preciso ter uma definição da nascente e da área a ser recuperada com o plantio de mudas nativas do Semiárido”, disse o secretário Executivo da SRH, Aderilo Alcântara.

Os técnicos da Cogerh já realizaram, nas últimas semanas, duas visitas ao município de Tauá, percorrendo trechos da Serra da Joaninha, os rios Trici e Carrapateiras, afluentes do Jaguaribe, riachos, fazendas, em busca de uma definição mais precisa da origem do curso d’água. “Há controvérsias sobre a nascente do Jaguaribe em publicações, definição de marco zero e entre os próprios moradores”, observou Torres. “Alguns denominam de Jaguaribe um riacho, que seria uma das nascentes”.

Historicamente, a Serra da Joaninha, em Tauá, seria a nascente do Jaguaribe, a partir do Rio Trici. O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) apresentam cartografia das décadas de 1970 e 1980, corroborando com a tradição geográfica.

No município de Tauá, no alto sertão cearense, há um marco zero, instalado a cerca de 5Km da sede urbana, no encontro dos rios Trici e Carrapateiras, como indicativo da nascente do Jaguaribe. “Acredito que a origem é em outras regiões, mais elevadas, e não nesse ponto, que é mais um atrativo turístico”, observa Torres. “Não queremos polemizar, mas contribuir para uma definição mais precisa da nascente do Jaguaribe”.

Diferentemente da bibliografia, nas proximidades das localidades de Santa Tereza, Livramento, São João e Grossos, onde há um sangradouro de um açude, populares apontam como uma possível nascente. Outros indicam que a nascente do Rio Trici seria a lagoa de Santiago, que daria origem ao Jaguaribe.

Há também o Riacho da Timbaúba e outros que não têm nome na cartografia e poderiam ser o ponto inicial do Trici. O mapa do Ipece aponta para a localidade de Bezerros e dois riachos, um deles denominado de Croá, como origem.

Carrapateiras

Observando rios e riachos, Torres defende uma proposta diversa para a nascente do Jaguaribe. O olhar volta-se para o Rio Carrapateiras, por estar em uma área mais elevada em relação ao nível do mar em comparação com o Rio Trici, e por apresentar maior extensão e calha mais larga.

Segundo a cartografia do Ipece, a nascente do Carrapateiras estaria na Serra da Lagoa Seca ou Serrote dos Morros, em direção ao município de Mombaça. “O leito do Rio Carrapateiras tem extensão de cerca de 106Km é bem maior do que a do Trici, que tem comprimento em torno de 82Km”, compara Torres. “O Trici está a 600 metros do nível do mar e o Carrapateiras a 700m”.

O Grupo de Trabalho que estuda a definição final do projeto Cílios do Jaguaribe tende a definir a área do Rio Carrapateiras como nascente do Jaguaribe. “Acredito ser mais viável”, disse Torres. “A bacia hidrográfica do Carrapateiras é muito maior do que a do Trici”. Mardônio Mapurunga, coordenador de Núcleo Técnico; e Gutemberg Fernandes, técnico, trabalharam com Torres no levantamento de informações para definição da nascente do Jaguaribe.

Intermitentes

A maior parte do ano, os afluentes do Jaguaribe permanecem secos. Somente no período chuvoso (primeiro semestre de cada ano) a água escorre pelas calhas e córregos. Essa característica seca, que se diferencia de parte da região do Cariri onde há ‘nascente’ e ‘olho d´’água’ ao longo do ano, dificulta a indicação da origem do velho Jaguaribe. Por ter seus braços e calha principal sem água por longo período, o Jaguaribe ficou conhecido como o maior rio seco do mundo.

Segundo a Cogerh, a Bacia do Rio Jaguaribe ocupa mais de 50% do território cearense; está dividida em Alto, Médio e Baixo Jaguaribe; e ainda inclui as bacias dos rios Salgado e Banabuiú. O Jaguaribe tem 633Km de extensão e tem foz no Oceano Atlântico, na divisa dos municípios de Aracati e Fortim.