CPI inicia apuração de crimes contra mulheres

Escrito por Redação ,
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Juazeiro (Sucursal) — A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembléia Legislativa do Estado, que apura crimes de grupos de extermínio no Ceará, esteve na manhã de ontem, em audiência pública na Câmara Municipal deste Município e permanecerá até o dia de hoje na cidade, com a finalidade de realizar levantamentos de dados, por meio de análise de documentos e depoimentos de familiares das vítimas de crimes cometidos contra mulheres na Região. Os crimes estão relacionados, conforme os deputados que compõem a CPI, com o “escritório da morte”, que de 2001 e 2002 esteve sob investigação. Os principais acusados de envolvimento estão presos e alguns deles já condenados.

Estiveram presentes familiares de vítimas, representantes do Ministério Público (MP), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam na defesa dos direitos das mulheres, a exemplo da Casa Lilás, e representantes dos conselhos das mulheres de Crato e Juazeiro do Norte.

Conforme a Comissão, as informações iniciais fornecidas à CPI pela Polícia Federal e Ministério Público dão conta de uma rede criminosa, que pratica assassinatos contra mulheres, está agindo no Cariri. Mesmo não podendo revelar números, os deputados da Comissão afirmam que vão investigar todos os casos.

Os crimes relacionados ao “escritório da morte” no Cariri aconteceram entre os anos de 2001 e 2002, mas a violência contra a mulher na Região chama a atenção pelo número de casos registrados. Ano passado foram cometidos cerca de 20 crimes, conforme entidades de mulheres do Cariri. Este ano, segundo o Conselho da Mulher do Crato, são 12 crimes registrados, inclusive com registro de mais um crime na semana passada em Juazeiro.

Inicialmente, a CPI vai ouvir depoimentos a partir de uma relação elaborada previamente. Na tarde de ontem, foram ouvidos depoimentos em audiência sigilosa, a pedido dos familiares. Também serão enviados à Justiça ofícios para que sejam encaminhadas cópias de processo para averiguação. Também deverão ser pedidos quebra de sigilo telefônico, quebra de sigilo fiscal e até prisão preventiva de qualquer envolvido ou supostamente envolvidos em crimes.

A CPI atua sob três vertentes de trabalho, que são os crimes relacionados ao grupo de extermínio em Fortaleza, assassinato de mulheres, guerra da lagosta e questão da desocupação de terrenos em Fortaleza. A Comissão tem registrado avanços no que diz respeito aos casos investigados, conforme seus membros.

Ioneida de Sousa Lima, irmã de Telma Sousa, vendedora de jóias assassinada no Crato em 2001, afirma que a Justiça não foi feita. “A minha família vem pedindo punição e espero que a Justiça se movimente para isso”. Ela também prestou depoimento junto à CPI. Telma foi morta barbaramente e o crime chocou a população do Cariri. O corpo foi encontrado dias depois e apontou indícios claros de violência sexual contra a vítima.

O representante do Ministério Público, promotor Germano Guimarães, da 1ª Vara de Barbalha, e que também responde pela 1ª em Juazeiro do Norte, disse que muitos dos processos iniciados no ano de 2001, 2002 e 2003 foram julgados. Um deles esteve relacionado ao crime contra Edilene Pinto, vendedora de planos de saúde. Neste caso, foram julgados Sérgio Brasil Rolim, condenado a 28 anos de prisão; também José Moreira Neto, um dos principais acusados de chefiar o escritório da morte, em Juazeiro, a 25 anos; e Leandro Figueiredo, a 24 anos. No Crato existem também os processos de Ana Amélia e Telma. “O andamento dos casos de Barbalha foi rápido, até pela quantidade de provas e indícios, a dificuldade de localizar testemunhas e alguns aspectos, e também pela condição social de alguns dos acusados, como no caso da publicitária Luiza Alexandra, em que foram apontadas algumas dificuldades, pressões e até interferência do poder político”.

Ontem também foi encerrado no Cariri o Encontro pela Vida da Mulher, da Secretaria de Inclusão Social dos Direitos da Mulher e entidades representativas. A temática de discussão esteve voltada ao combate da violência contra as mulheres na Região do Cariri.