Cidades do interior não contam com serviço de transporte coletivo
De acordo com especialistas em mobilidade urbana, recomenda-se aos municípios com mais de 70 mil habitantes que disponham de transporte público. Oito cidades com tal perfil não contam com este tipo de modal
A locomoção urbana está se tornando cada vez mais difícil nas cidades do interior cearense que apresentam expansão populacional. Especialistas em mobilidade urbana recomendam a implantação de linhas regulares de transporte coletivo em cidades com mais de 70 mil habitantes. No Ceará, oito municípios que possuem mais de 70 mil moradores não dispõem de transporte público.
Quixadá e Quixeramobim, cidades vizinhas no Sertão Central, são exemplos. Elas refletem o drama de quem está morando cada vez mais longe dos centros comerciais e não possui transporte próprio para se deslocar.
Com mais de 80 mil habitantes cada, a maioria concentrada nas áreas urbanas, Quixadá não possui regulamentação e nem linhas regulares de transporte coletivo.
No Município, não demorou muito para os moradores do Residencial Rachel de Queiroz, estabelecidos no local desde novembro passado, perceberem a importância do serviço. No maior habitacional do "Minha Casa Minha Vida" no interior do Estado, residem cerca de 1.400 famílias. Pouco mais de 5 km separam o residencial da área comercial da cidade, mas a buraqueira na principal via de acesso levou os mototaxistas a se afastarem. Quem ainda aceita realizar o transporte sobre duas rodas está cobrando o dobro.
Para os moradores, o lugar é o chamado "perto longe". Não fica tão distante da cidade, mas para quem não dispõe de transporte coletivo, com preços mais acessíveis, a caminhada é exaustiva. Por esse motivo, um grupo de taxistas criou o serviço personalizado para o conjunto habitacional. Atualmente, 18 carros atendem aos moradores.
Segundo o secretário de Cidadania, Segurança e Serviços Públicos de Quixadá, Higo Carlos Cavalcante, o Município já está trabalhando para a implantação de seis linhas regulares de transporte coletivo na cidade.
Um engenheiro de Trânsito será contratado para elaborar os estudos das rotas, incluindo o funcionamento da área de embarque e desembarque no Centro. Uma das rotas previstas contemplará a área do Rachel de Queiroz. Haverá ainda uma linha circular para ligar todos os bairros.
Com 79.081 habitantes, a situação em Quixeramobim é bem diferente, apesar de também terem sido construídos conjuntos residenciais populares, que expandiram a sua área urbana a mais alguns quilômetros.
Todavia, de acordo com o diretor operacional da Autarquia Municipal de Trânsito de Quixeramobim (AMTQ), Fernando Ivo de Sousa, a maior parte da população está concentrada na zona rural, mais de 60%. O Município tem ainda a maior frota de motocicletas da região, são 17.579, o equivalente a 70% de todos os veículos em circulação.
Por esse motivo, a implantação de rotas urbanas de ônibus não é tão urgente. Com aproximadamente 102 mil habitantes, Iguatu, polo da região Centro-Sul cearense, também não dispõe de transporte público. Projetos de lei já foram discutidos e aprovados na Câmara de Vereadores, mas nunca saíram do papel.
Falta regulamentação da lei. Quem mora nos bairros periféricos depende do serviço de mototáxi. Muitos fazem esforço para adquirir motos. Outros preferem o uso da "velha" e boa bicicleta como meio de locomoção.
O comerciário Francisco Gomes, morador do bairro Altiplano, usa a bicicleta diariamente para ir ao trabalho. "É mais econômico", observa. "Até hoje, não entendo por que Iguatu ainda não tem coletivos como outras cidades do interior", comenta.
A aposentada Louzanira Souza faz o percurso a pé entre o bairro João Paulo II e o Centro da cidade, a cerca de 4 km. "Estão cobrando R$ 6 de mototáxi e não tenho condições de pagar sempre".
Cidades estruturadas
O deslocamento coletivo de quem depende do transporte público em Sobral, no Norte do Estado, é feito por cerca de 10 micro-ônibus e 14 vans, cuja tarifa custa, em média, R$ 1,80. A concessão é dada pela Prefeitura para este tipo de serviço dentro da cidade.
Outras alternativas de transporte são os mototáxis. Há 753 veículos cadastrados que cobram, em média, R$ 3,50, podendo aumentar, dependendo do horário ou distância. A alternativa mais em conta é o VLT, com tarifa de R$ 1, subsidiada pela Prefeitura.
O Metrô de Sobral interliga parte da cidade, por meio das linhas Sul (7,2 km de extensão) e Norte (6,7 quilômetros). São aproximadamente 1,5 mil passageiros transportados por dia, de acordo com levantamento da empresa.
De acordo com Saulo Passos Ramos, coordenador de Mobilidade de Sobral, "sete novas linhas de ônibus estão incluídas no nosso Plano de Mobilidade Urbana em execução para melhorias da oferta de transporte à população. As linhas serão integradas ao VLT, por meio de uma estação multimodal, unindo os transportes ferroviário e rodoviário, com uma única passagem", adianta o coordenador.
No Cariri, o transporte intermunicipal é realizado pela empresa Viametro. Há linhas ligando Juazeiro do Norte às cidades de Barbalha, Crato e Missão Velha.
Na terra do Padre Cícero, também há 12 linhas urbanas que ligam o Centro e alguns bairros periféricos. Além disso, o VLT faz a rota entre Crato e Juazeiro. Diariamente, cerca de 42 mil usuários utilizam o transporte público em Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha e Missão Velha.
Por isso, há um ano foi implantado o Bilhete Único Metropolitano do Cariri para que os passageiros possam fazer a integração nos ônibus intermunicipais em um intervalo de até duas horas, pagando uma única tarifa. Para sua implantação, o Governo do Estado investe cerca de R$ 6,5 milhões por ano.