Busca ativa em residências reduz casos de coronavírus em cidades do interior cearense

Estratégia da ação descentralizada é defendida pelo Comitê Científico do Nordeste para prevenção e contenção da Covid-19

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: A ação tem gerado redução nos índices de disseminação do novo coronavírus
Foto: Washington Gomes

crescimento de casos do novo coronavírus em áreas urbanas e rurais do interior cearense impõe uma estratégia de realização de busca ativa por pacientes com sintomas da doença e isolamento daqueles que tiveram contato com infcetados no âmbito familiar, na vizinhança ou no local de trabalho. Essa estratégia é defendida pelo coordenador do Comitê Científico do Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis, que assessora os governadores da região.

Para o pesquisador, o enfrentamento ao novo coronavírus deve ocorrer de forma descentralizada. “Estamos em uma batalha biológica, e o vírus vem por várias frentes, por isso temos de ter estratégia de enfrentá-lo de forma ampla, em uma verdadeira guerra de trincheira”, pontuou. 

“Não basta apenas reforçar o atendimento nos hospitais e fazer lockdown”.  
 

O município de Quixadá, no Sertão Central, segue a orientação do Comitê e vem obtendo bons resultados, após pico de casos da Covid-19. “Temos cinco equipes que fazem esse trabalho nos bairros e na zona rural”, explica a secretária de Saúde, Juliana Câmara. “Os resultados já aparecem de forma satisfatória”.

De acordo com dados da Secretaria da Saúde de Quixadá, o Município registra atualmente 2.591 casos confirmados do novo coronavírus. Na primeira quinzena deste mês, foram 343 casos novos. Em igual período de junho passado, o número foi de 631. Essa queda de 55% está relacionada, segundo a Secretria da Sáude municipal, ao trabalho da busca ativa. 

“Os dados mostram que o trabalho de busca ativa está dando certo, os casos vêm diminuindo”, pontuou Juliana Câmara. “A gente chegou a acompanhar 800 pessoas em casa, mas agora caiu para 70 pacientes, o que mostra redução do contágio”.

Legenda: As equipes contam com enfermeiros, agentes comunitários e médico
Foto: Washington Gomes

As seis equipes seguem rotas diárias e dispõem de enfermeiros e agentes comunitários de Saúde. Uma dessas equipes tem um médico. Há também acompanhamento diário por telefone e vídeo chamada entre os pacientes e a unidade básica de Saúde. Veículos foram colocados à disposição dos profissionais para facilitar o deslocamento.

Se houver necessidade de medicamentos, as equipes levam até as residência e, em caso de agravamento, o paciente é encaminhado para o hospital. “Chegamos a ter 15 picos de casos graves, mas reduzidos e todos os óbitos que tivemos foram de pacientes idosos e com comorbidades”, disse Juliana Câmara.

A aposentada Francisca Barreto, moradora da zona rural de Quixadá, é uma das que recebe medicamentos de uso contínuo e orientações a partir da visita semanal da agente de Saúde, Maria Alves. “Meu marido está acamado e eu não posso deixá-lo sozinho. Então essa visita dos profissionais é importante demais. Eles dão um bom apoio”, disse. 

Metogolodia replicada

Outro exemplo de realização de busca ativa ocorre na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará. Por lá as atividades também ocorrem de forma descentralizada. Os agentes de Saúde fazem o trabalho de visita domiciliar, aplicam questionários sobre a situação de cada morador, aparecimento de sintomas da doença e colhem outras informações.

Quando há casos suspeitos ou confirmados, equipes com enfermeiros são acionadas para fazer acompanhamento inicial e monitoramento posterior por telefone – chamada de vídeo ou de áudio, além da orientação do bloqueio e cumprimento da quarentena.

De acordo com o secretário da Saúde do Município, George Xavier, o trabalho tem apresentado bons resultados.  “O número de curados tem sido maior do que os de confirmados nos últimos dez dias”, comparou.

“Evitamos agravamento da doença e o acompanhamento precoce facilita o combate e prevenção ao novo coronavírus”
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A profissional da saúde, Débora Oliveira, que integra equipe de trabalho de busca ativa, explica a importância da busca para frear o crescimento exponencial de casos no Sul do Estado. “Quando surge um caso novo, o bloqueio familiar é importante para evitar a disseminação do vírus para outras pessoas”, observa a enfermeira. “O monitoramento a cada dois dias evita que em caso de agravamento, o paciente permaneça em casa, esperando melhoria dos sintomas”.  

Segundo dados da Vigilância Epidemiológica de Iguatu, na noite desta quarta-feira (15), o Município registrava 38 óbitos e havia 1397 casos confirmados. No início do mês, havia uma média de 40 novos casos diários, mas agora caiu para cerca de 30.  

Agentes de saúde

Na linha de frente do trabalho de busca ativa estão os agentes comunitários de Saúde. Aqueles que apresentam riscos para o coronavírus não integram as equipes de busca ativa, os demais seguem o trabalho diário com proteção individual e atendimento no pé da calçada. São eles que levam medicamentos de uso contínuo para os pacientes idosos e com comorbidades – diabetes, hipertensão e outras doenças.  

A criação dos agentes de Saúde foi uma ideia que nasceu na cidade de Jucás por iniciativa do casal Carlile Lavor, médico sanitarista, e Míria Lavor, assistente social, no início da década de 1980. De forma experimental, foi implantada a semente de uma ação que germinou e deu frutos.

Ao assumir a Secretaria da Saúde do Estado, em 1987, Carlile Lavor, implantou o programa no Ceará que mais tarde se tornou nacional e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Atualmente, Carlile Lavor coordena a unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Ceará. “Fiz uma carta recente aos agentes de Saúde, mostrando a importância deles na pandemia”, frisou. “Alguns, no início, estavam com medo, mas também não havia equipamentos de proteção individual”.

Lavor também expressou recomendações preventivas. “Os agentes de Saúde fazem muito bem o trabalho da orientação à vacinação, ao aleitamento materno e à redução da mortalidade infantil”, pontuou. “Agora estão diante de um novo desafio”.

Carlile Lavor lembra que visitas domiciliares foram realizadas na Inglaterra e em outros países com bons resultados durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, os agentes de Saúde conhecem todas as famílias e o esforço agora é para conversar, convencer sobre os cuidados preventivos, uso de máscara e o isolamento que todos da casa devem ter”.

“Não há dúvida, os agentes de Saúde são fundamentais porque fazem acompanhamento dos pacientes com comorbidades, se eles têm sintomas e como estão”, observou a presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Sayonara Moura. “É um trabalho de prevenção e promoção em saúde com monitoramento diário”.

 

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