Acervo ferroviário guarda memória histórica do Ceará

Escrito por Redação ,
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Foto: Alex Pimentel
Das cargas e passageiros ao transporte da história, a malha ferroviária do Ceará expõe riquezas culturais

Baturité. Quem haveria de imaginar que a malha ferroviária a se ramificar por todo o Estado a partir do fim do século XIX, além de cargas, passageiros e progresso, haveria de transportar a cultura e a história pelos trilhos do tempo. Quase dois séculos e meio depois muitas das velhas estações, espalhadas por todo o Interior cearense preservam a nostalgia e as riquezas arquitetônicas de outrora. Algumas já foram transformadas em espaço cultural, como no município do Crato. Outras aguardam inspeção de arquitetos e historiadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para se perpetuarem como acervo público nacional. Juntos, os prédios formam um riquíssimo patrimônio imobiliário.

A história desse diversificado acervo, que se formou no Interior cearense com a expansão ferroviária, tem início com a construção da via férrea de Baturité, em 1872, considerada pelo senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil (Senador Pompeu) a primeira empresa do Ceará com especulação lucrativa e obra patriótica. A estação foi inaugurada em fevereiro de 1882, no reinado de D. Pedro II. Funcionou como ponta de linha durante oito anos. Era a primeira grande obra arquitetônica da estrada de ferro, erguida estrategicamente no Maciço para escoamento da produção cafeeira da região. A Maria Fumaça chegava e partia dali cheia de sacos de café.

Na medida em que a malha ferroviária da Rede de Viação Cearense (RVC) avançava sertão adentro, pequenos lugarejos iam se transformando em vilas e cidades, entornando as estações, algumas delas com traços imperiais, construídas a partir de contrato assinado entre a Companhia e o Governo Provincial do Ceará. Muitas delas guardam até hoje suas características originais. Do marco de inauguração ao símbolo da poderosa Rede Ferroviária Federal S/A (Rffsa), que assumiu operacionalmente a RVC a partir de 1957, seus prédios seculares transpiram história por meio de suas reforçadas alvenarias, algumas com paredes com mais de 60cm de largura.

Quatro anos antes de sua extinção, em janeiro de 2003, por força de medida provisória, a Rffsa já havia cedido termo de permissão de uso de alguns de seus imponentes imóveis à Prefeitura de Baturité. O município era o primeiro a conquistar o direito de transformar um de seus mais belos complexos no primeiro espaço cultural do Estado. A sede da Fundação de Cultura e Turismo de Baturité passava a funcionar ali, na Estação Ferroviária, aos 14 de abril de 1999. Um sonho conquistado pelo arquiteto José Airton Cabral, através de projeto de lei aprovado dois anos antes pelos vereadores daquele município serrano.

Novas funções

Desde então, outras estações, armazéns, depósitos e casas de turma, pertencentes ao patrimônio da Rffsa, estão passando a ter outras funcionalidades. Neles estão sendo criados espaços culturais e históricos. Essa constatação está sendo feita pelo guia turístico Davis Jales Leite, membro da Fundação de Cultura de Baturité desde sua criação. Ele realiza estudo sobre a história da Estrada de Ferro no Ceará. A pesquisa não tem prazo para conclusão. Mas o pesquisador pretende aprontar os levantamentos cronológicos até a implantação do Memorial Ferroviário, previsto para o aniversário de emancipação do município, comemorado aos 9 de agosto.

Quando está na Ilha Digital Jaime Pereira Carlos, que passou a funcionar no início do mês passado ao lado do Salão de Artes Chico Sobrinho, no Armazém da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité (CCVFB), como é mais conhecida a estrutura imóvel da Rede Ferroviária, o pesquisador busca mais informações na rede mundial de computadores. Pretende esclarecer tudo. Cita como exemplo a história da Maria Fumaça, monumento do primeiro centenário da Estação Ferroviária de Baturité, comemorado aos 2 de fevereiro de 1982, que está sendo restaurada. A máquina a vapor, fabricada em 1921, nunca circulou nas ferrovias da região.

Pesquisa patrimonial

Além dele, historiadores e representantes de movimentos sociais organizados também navegam pela internet em busca de informações sobre o império imobiliário e ferroviário formado pela Rffsa. Quem se interessa pelo assunto reclama que é difícil obter esclarecimentos sobre a situação desse patrimônio. Quantas estações existem? Quais delas estão preservadas? Quantas já foram transformadas em centros culturais e históricos? Quais são as mais importantes? Onde estão localizadas? São algumas questões que o pesquisador busca responder em seu estudo.

Alex Pimentel
Colaborador


Mais informações:
Secretaria do Patrimônio da União (SPU), Gerência Regional no Estado do Ceará
(85) 3878.3701
clesio.saraiva@planejamento.gov.br

CONQUISTA

1999
foi o ano em que passou a funcionar a sede da Fundação de Cultura e Turismo de Baturité, na Estação Ferroviária. Um sonho conquistado pelo arquiteto José Airton Cabral