11,71 acidentes com escorpiões são registrados por dia no Ceará

A proximidade do período de pré-estação chuvosa, onde ocorre o maior número de casos, acende um alerta de prevenção para a população. Nesse período, os animais buscam as casas como abrigo

Escrito por Antonio Rodrigues , antonio.rodrigues@svm.com.br
Legenda: No período chuvoso, os escorpiões saem dos esconderijos e buscam refúgio em locais secos

A Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) registrou 3.574 picadas de escorpiões de janeiro a outubro de 2020. Este número acompanha a tendência dos últimos cinco anos, onde as ocorrências superaram a marca de 3 mil. Com a proximidade do período de pré-estação chuvosa, entre dezembro e janeiro, a tendência é que os casos cresçam, pois nesta época os animais se deslocam para áreas mais quentes e acabam entrando nas casas.  

Com 3.574, o Ceará tem uma média de 11,71 acidentes com escorpiões por dia, em 2020. O mês de janeiro, que antecede a estação chuvosa, lidera com 877 ocorrências, seguido por fevereiro, onde houve 651 casos, e março com 595. Por outro lado, o último mês de outubro teve o menor índice de picadas, somando 69.  

Nos últimos cinco anos, o número de ocorrências cresceu no Ceará, passando de 2.882, em 2015, para 3.922 (2016), seguido para 4.284 (2017), 5.090 (2018) e 6.587 (2019). A menos de dois meses do fim do ano, dificilmente 2020 superará o ano passado, mesmo assim há preocupação. Segundo estimativa da própria Sesa, com base nos dados dos últimos anos, os incidentes envolvendo escorpiões representam 70% dos acidentes com animais peçonhentos no Estado.  

O biólogo Dewison Silfarney explica que nos períodos mais quentes os escorpiões estão em processo reprodutivo e estarão dando à luz aos filhotes no período mais chuvoso. “Acontece que a maior parte destes animais vive em locais que acabam ficando inundados pela água e tendem a sair procurando novo abrigo e acabam encontrando com humanos e ocasionando acidentes”, descreve.  

Esses aracnídeos podem ser encontrados em lugares variados, como esgotos, entulhos, cemitérios, bueiros ou dentro das casas. “Os animais já estão nas residências ou na região peridomiciliar. Quando tem as mudanças ambientais, tentam se realocar”, detalha o biólogo. 

No Ceará, há duas espécies comuns “de interesse médico”, como classifica Dewison. A Tityus serrulatus (escorpião-amarelo), muito comum no Brasil, que só não ocorre na região Norte; e o Tityus stigmurus (escorpião-amarelo do Nordeste), que é originalmente do Nordeste, mas já se encontra em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “Elas podem causar desde dor no local até óbitos, principalmente em crianças”, explica. “Temos outras espécies que trazem prejuízo a saúde humana, de cães e gatos, mas são estas as mais perigosas”, adverte. 

Ao se deparar com um animal como este, o ideal é capturar vivo e realocar para uma área de floresta ou mata, mas muitas pessoas não tem habilidade e isso pode ocasionar outros acidentes. “Infelizmente, se não tem como coletar e realocar, terá que fazer o óbito do animal. Jogar álcool 70% nele pode ser uma alternativa. Ele se reproduz de uma forma peculiar e faz com que tenha uma população grande e, por isso, as chances de acidentes com criança e idosos são muito maiores”, detalha o especialista. 

Cuidados

A prevenção é importante. “É preciso entender que eles são atraídos para ter abrigo e alimento. Onde tem calor, umidade, locais que acumulam lixo, condições de reprodução. Ideal é evitar entulho, acúmulo de lixo, evitar aparecimento de baratas, que são os principais alimentos dos escorpiões”, sugere o biólogo.  

A Sesa orienta que é importante limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede, jardins, quintais e terrenos baldios. Não depositar ou acumular lixo, entulho e materiais de construção. Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés é fundamental. Além de combater os insetos que são alimentos para escorpiões e aranhas.

Se for picado, Dewison ressalta que é importante coletar o animal, “de preferência inteiro. Isso vale para qualquer animal peçonhento”, reforça. A partir disso, levar para o hospital, onde vai ser identificada a melhor forma de tratamento. “Se for picado por uma outra espécie, já vai saber se precisa de soro antiescorpiônico. O fato de coletar, garante a vítima atendimento específico e mais rápido. Se tiver foto, também já ajuda muito”, completa.

Não se deve aplicar nenhum tipo de medicamento natural no local picado. A orientação é apenas lavar com água e sabão e seguir para o hospital. De preferência, com a amostra dele para ser identificada a espécie.

Segundo a Sesa, o Ceará possui unidades especializadas nas cinco macrorregiões de saúde do Estado: Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte; Hospital Regional Norte, em Sobral; e Instituto Dr. José Frota, em Fortaleza. Além deles, a Maternidade Maria José, em Quixadá, e Hospital Regional Casa e Saúde de Russas também prestam o serviço. Nessas unidades, o paciente poderá receber doses de antiveneno, que é indicado apenas em casos moderados ou graves, cabendo ao médico fazer o diagnóstico.