Para analistas, "coronavoucher" eleva popularidade de Bolsonaro

O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, além da abertura de crédito para pequenos negócios, é um dos principais fatores que contribuíram para o pico da taxa de aprovação do Governo em pesquisa Datafolha

Escrito por Jéssica Welma ,
Legenda: Bolsonaro intensificou visitas ao Nordeste, como a feita ao Ceará em junho
Foto: PR

O presidente Jair Bolsonaro atingiu, em agosto, a melhor avaliação do seu Governo desde que assumiu o mandato, especialmente no Nordeste. É o que mostra pesquisa Datafolha, divulgada ontem (14).

Além dos 37% dos brasileiros que consideram o governo ótimo ou bom - um aumento de cinco pontos em comparação com a última pesquisa, em junho -, o presidente viu cair sua rejeição em tradicionais redutos de oposição.

Especialistas ouvidos pelo Sistema Verdes Mares destacam mudanças de estratégias do Governo nas últimas semanas nas áreas de comunicação, relações políticas e suporte financeiro à população em meio à pandemia da Covid-19.

Segundo a pesquisa Datafolha, Bolsonaro está com a melhor avaliação desde o começo do mandato. O levantamento mostra que 37% dos brasileiros consideram seu Governo ótimo ou bom, ante 32% na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho.

Também houve queda acentuada na curva de rejeição: caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo no período. Classificaram o governo de regular, por sua vez, 27%, ante 23% em junho.

No Nordeste, a rejeição ao presidente caiu de 52% para 35% na região. O total de avaliações ótimas e boas subiu seis pontos em relação a junho, chegando a 33%, mas ainda a pior avaliação no País.

"As medidas do Governo para combater a pandemia surtiram efeito. Trabalhadores informais perderam a capacidade de ganhar o dinheirinho de cada dia, receberam esse recurso do 'coronavoucher'. As pequenas e micro empresas tiveram acesso a quase R$ 30 bilhões. Isso deu um gás na popularidade do presidente”, disse Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

Auxílio emergencial

O especialista em pesquisas de opinião pública, Marciano Girão da Silva, atrela os índices principalmente ao auxílio emergencial. "Esse auxílio está atingindo camadas da população de segmentos que, antes, não o aprovavam. O impacto, principalmente no Nordeste, é o auxílio emergencial", ressalta. Ele lembra que no início do ano o pagamento do 13º do Bolsa Família também impactou positivamente na avaliação de Bolsonaro.

No Nordeste, lar de 27% dos brasileiros, 45% dos moradores recorreram ao auxílio emergencial, ante 40% no País. A pesquisa mostra que, entre quem fez o pedido do auxílio e o recebeu, 42% acham Bolsonaro ótimo e bom, ligeiramente acima da média geral. Só que 36% dos que não fizeram também acham isso.

Tendência

Para o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia, Cleyton Monte, a melhora na popularidade do presidente mostra-se consistente, em comparação com avaliações anteriores, com tendência a ganhar mais força.

Ele cita como aspectos importantes tanto o crescimento na popularidade como a queda na rejeição, o que se pode atribuir a diferentes fatores.

"O primeiro deles é o auxílio emergencial e mais ainda a possibilidade de um programa permanente de renda básica. (...) Muita gente acompanhou que o Governo Federal tem planos de implantar aquilo que está chamando de Renda Brasil, mais abrangente e com valor maior do que o Bolsa Família. Estamos falando de presente e de futuro, não é somente o auxílio emergencial pago agora", diz Cleyton.

Para o cientista, avaliar apenas do ponto de vista do auxílio minimiza uma discussão que é mais abrangente.

"As medidas do Governo para combater a pandemia surtiram efeito. Trabalhadores informais perderam a capacidade de ganhar o dinheirinho de cada dia, receberam esse recurso do coronavoucher. As pequenas e micro empresas tiveram acesso a quase R$ 30 bilhões. Isso deu um gás na popularidade do presidente”, disse Hamilton Mourão, vice-presidente da República.
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Visitas ao Nordeste

A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e cientista política Monalisa Soares destaca três aspectos que podem ter influenciado para um melhor desempenho nas pesquisas: as viagens ao Nordeste, o reforço na comunicação publicitária do Governo na Região, especialmente pelo rádio; e uma nova estratégia de acomodação política. Além da viagem ao Ceará no fim de junho, para inaugurar a transposição das águas do São Francisco ao Estado; Bolsonaro esteve no Piauí, no fim de julho, logo após se recuperar da Covid-19.

"Há um esforço para distensionar um segmento de oposição mais forte ao governo, que rejeitava mais o governo. Do lado disso, você teve essa ação que os analistas dizem que não tem como estabelecer uma causa direta, mas não tem como deixar de fora que é o auxílio emergencial. Não é causa única, mas é considerável. Outro é relativo à imagem que o presidente começa a assumir de certa acomodação no sistema", ressalta Monalisa, citando como exemplo desse novo relacionamento a nomeação do deputado Ricardo Barros, do PP, um dos partidos que integram o Centrão, para a liderança do Governo na Câmara dos Deputados.

Oposição

Para os cientistas políticos, o avanço de Jair Bolsonaro na taxa de aprovação entre os nordestinos reflete também uma falha da oposição ao presidente em ocupar os espaços. Eles observam “esvaziamento das forças de oposição”.

“As pessoas avaliam um governo também com base nas opções que elas têm disponíveis. A gente não consegue perceber uma liderança de oposição ao governo que consiga unificar um discurso, não conseguiram nem unificar uma pauta de ação em relação contra o governo em relação ao coronavírus”, critica o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia, Cleyton Monte. 

A mudança no comportamento do Governo, principalmente do próprio presidente, na estratégia de comunicação também é apontada por Cleyton.

“Ele (Bolsonaro) não se manifesta mais, está usando menos as redes sociais, está falando menos com os grupos na frente do (Palácio do) Alvorada, não está mais na estratégia de agressão ao Judiciário e ao Legislativo, está se aproximando do Centrão. Há uma percepção, por parte de alguns grupos, de que é como se Bolsonaro estivesse buscando uma normalidade política. Ele está se esforçando para aprovar reformas, diminuiu a ânsia por conflito, por crise. Essa pesquisa também reflete um pouco essa mudança na comunicação”, afirma.

A melhora na avaliação de Bolsonaro coincide com a moderação do discurso do presidente nos últimos meses, que tem abandonado a confrontação pública com outras instituições.

Ontem, ao participar da inauguração de uma escola municipal cívico-militar, na cidade do Rio de Janeiro, o presidente focou seu discurso na educação. Ele lembrou as dificuldades do Brasil na educação e que o País ocupa as últimas posições no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para o presidente, “o que libera um homem e uma mulher é o conhecimento, e devemos investir nisso”.

“Isso não se muda de uma hora para outra, mas onde é quem tem que começar a mudar? Na escola, já que temos bons professores, precisamos dar-lhes meios e autoridade para exercer seu trabalho. É quase como quartel, se não tiver hierarquia e disciplina, ele não cumpre a sua missão”, disse o presidente.

Eventual retorno ao PSL

O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, afirmou que o eventual retorno de Bolsonaro ao partido passaria pela vontade da bancada da legenda no Congresso e que a reaproximação envolve a possibilidade de a executiva nacional do PSL retirar a sanção, imposta a 14 deputados bolsonaristas filiados à sigla, de participar de comissões a que a sigla tem direito na Câmara.

Gentileza

Em uma live na quinta, Bolsonaro afirmou que não poderia “investir 100%” no Aliança, 
legenda que pretende fundar, e cogitou voltar ao PSL, partido com o qual rompeu no final de 2019. Bivar disse que o comentário de Bolsonaro foi uma “gentileza”.

Mourão

O vice-presidente, Hamilton Mourão, creditou a melhora da avaliação de Bolsonaro ao auxílio emergencial e a linhas de crédito para pequenas e microempresas. “As medidas que o Governo tomou para combater a pandemia, elas surtiram efeito. As pessoas que estavam em situação, digamos assim, bem difícil porque eram  trabalhadores informais e perderam a capacidade de ganhar o dinheirinho deles de cada dia, receberam esse recurso do coronavoucher”, disse.

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