Ivermectina e chá de boldo: defesa de tratamento precoce para Covid tensiona clima entre deputados

Embates ocorreram na esteira do decreto que estabelece lockdown em Fortaleza; deputados discutiram em tom acalorado sobre a recomendação de medicamentos para combater o vírus

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com.br
Deputados Acrísio Sena, Delegado Cavalcante e Renato Roseno
Legenda: Acrísio Sena e Renato Roseno rebateram Delegado Cavalcante na tribuna da Assembleia
Foto: Arquivo DN

Um debate sobre o possível tratamento precoce para a Covid-19 tensionou os ânimos entre deputados estaduais durante sessão nesta quinta-feira (4), na Assembleia Legislativa do Ceará. A discussão tomou ares mais acalorados quando Delegado Cavalcante (PSL) sugeriu uso do medicamento ivermectina, além de opções caseiras como lambedores e chá de boldo para combater a doença.  

Os embates ocorreram na esteira do decreto que implementa o lockdown em Fortaleza por 14 dias, a partir desta sexta (5). Parlamentares da base do Governo elogiaram a medida, enquanto deputados de oposição criticaram a decisão, justificando consequências econômicas pelo fechamento do comércio.

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Embate

Ao usar a tribuna, o oposicionista Delegado Cavalcante fez críticas ao governador. “Não conheço uma cidade no Ceará que tenha adotado uma medicação preventiva (...) que faça o paciente não chegar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva)", afirmou.  

O deputado do PSL lembrou ainda o tratamento ao qual que escolheu se submeter quando contraiu o vírus: "Tem a medicação tradicional que eu usei quando tive Covid, que é o lambedor, o chá de boldo, o antibiótico caseiro. Isso é um vírus. (...) Nós estamos no período chuvoso, e a umidade faz se espalhar”, argumentou.  

“O tratamento precoce que vossa excelência cita serve precocemente para lombriga e para piolho, não para Covid", rebateu o deputado Acrísio Sena (PT), usando a tribuna em seguida. "Pergunte à comunidade científica”.  Acrísio disse ainda que a postura de Delegado Cavalcante reproduz falas de crença e de vontade pessoal. “Cadê a cloroquina, que foi produzida aos milhões? Não tem serventia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que não tem serventia nenhuma". 

Assim como a ivermectina, a cloroquina foi classificada como ineficaz no tratamento contra a Covid-19 pela OMS.  

Reação

Assumindo a tribuna, o deputado Renato Roseno (Psol), também oposicionista, classificou a postura de Cavalcante como “mentira, manipulação e deboche”. Em tom acalorado, Roseno disse que “se utilizar de um mandato público para mentir deveria ser crime”.  

"É mentira que tratamento precoce feito por drogas que não são cientificamente comprovadas pode resolver", rebateu. "Não dá para tratar de maneira educada ou tranquila,tamanha mentira, manipulação e deboche”, completou.  

Ainda houve tempo para uma tréplica de Delegado Cavalcante. Da bancada, ele rebateu os dois colegas que o antecederam, e direcionou a fala para Renato Roseno: “Vocês não têm moral para nada. Querem fazer politicagem contra o presidente, o presidente é arrochado. Eu mereço respeito, o senhor me respeite”, respondeu.

Ao final, Cavalcante saiu em defesa de Jair Bolsonaro (sem partido), elogiando sua postura no combate à pandemia. O parlamentar também comentou ser minoria na Casa em defesa do chefe do Executivo Nacional. "(Bolsonaro) foi o homem que sustentou o Brasil por nove meses com auxílio emergencial. (...) Nessa Casa são 41 aliados do governador,  um bolsonarista, dois que aqui acolá defendem e outro que nem aparece, e fica tudo nas minhas costas. Eu sou um burro de carga", completou. 

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