Bolsonaro entrega cerca de 40% das ações prometidas
Chegando à primeira marca do Governo, a maioria das metas traçadas pelo Palácio do Planalto não foi entregue totalmente. Entretanto, muitas já começaram a sair do papel
Passados 100 dias, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não conseguiu executar todas as 35 ações prioritárias do Governo. Levantamento feito pelo Diário do Nordeste, com base em informações oficiais da Presidência da República, aponta que 60% das promessas não foram entregues por completo ou nem foram iniciadas. São 14 pontos entregues em sua integralidade, 16 de forma parcial, ou em execução, e cinco que não serão cumpridos na data estipulada.
Antes de iniciar o mandato, a equipe do presidente elaborou um documento com metas que seriam entregues até o centésimo dia de Governo. No lançamento do documento, intitulado de "Agenda dos 100 Dias de Governo", a equipe do então futuro presidente publicou que o mecanismo "é um moderno instrumento de boa governança pública" e que os critérios adotados para elencar os pontos escolhidos foram "efetividade" e "considerável impacto social".
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A promessa de "Independência do Banco Central", que tem impacto econômico e social, não entrou na pauta do Congresso. Com uma crise no Ministério da Educação, que resultou na demissão do ministro Ricardo Vélez, na última segunda (8), não foi possível lançar o programa "Alfabetização Acima de Tudo".
Por outro lado, o Governo conseguiu executar proposições como a implementação do 13º do Bolsa Família. Também lançou o Plano Nacional de Segurança Hídrica e conseguiu tocar pautas de infraestrutura, como a política de concessões de portos e aeroportos do País.
Em meio às tentativas de executar as ações, o presidente precisou enfrentar uma nova cirurgia para retirar a bolsa de colostomia e passou dias internado para se recuperar do ataque que sofreu na campanha eleitoral. Após receber alta, fez três viagens internacionais oficiais em três meses de mandato. Foi aos Estados Unidos, Chile e Israel.
O ex-capitão do Exército chega ao centésimo dia com um Governo ainda sem base definida na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Os interlocutores escolhidos para fazer a ponte entre o Executivo e o Legislativo ainda não ganharam protagonismo.
A prioridade da gestão, que é a reforma da Previdência, segue a passos lentos na Câmara. Para o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM), a culpa da lentidão é do Governo que não articula os votos. Já para Bolsonaro, o Palácio do Planalto fez a sua parte, criando a proposta e encaminhando ao Legislativo.
Crise política
O clima de ringue entre o Executivo e o Congresso Nacional, que marcou os últimos três meses, travou matérias de interesse do Planalto, como foi o caso da tramitação do pacote Anticrime, patrocinado pelo ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, e gerou consequências administrativas. A Câmara, arredia ao presidente, acabou derrotando o Governo na votação do decreto que alterou as regras da Lei de Acesso à Informação.
Deputados ameaçam, ainda, derrubar o decreto presidencial que retira a necessidade de vistos para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão.
O cientista político Cleiton Monte, da Universidade Federal do Ceará, explica que a dificuldade de diálogo entre o Governo e os parlamentares tem a ver com os discursos adotados pelo chefe do Executivo e pelos comandados no primeiro escalão da gestão.
"As figuras que estão no Governo ainda estão com discurso de campanha. Temos duas esferas diferentes, da eleição e do Governo. Depois da eleição, você vai negociar, articular. O Governo tem um discurso muito conflituoso que dificulta a aproximação dos partidos. Na história do Brasil, o presidente, quando não consegue governabilidade no Legislativo, fica paralisado, não consegue governar", argumenta o professor.
Grupos
Para o cientista político Clésio Arruda, da Universidade de Fortaleza, a dificuldade de negociação é o resultado de um "equívoco" presidencial: "tentar negociação com subgrupos e não com partidos políticos, ou seja, junto a bancadas específicas, como religiosos, ruralistas, ao invés de ir pelos partidos".
O pesquisador argumenta ainda que o caos gerado nessa relação pode ser uma consequência também da falta de habilidade política dos comandados do presidente. "Um Governo que se mostrou não disposto a negociar, talvez por inexperiência dos ministros no campo da política. Falta de disposição para ceder", pontua Arruda.
Em pouco mais de três meses, Bolsonaro sofreu duas baixas ministeriais em meio a turbulências políticas. Em fevereiro, Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, deixou o cargo após denúncias de candidaturas "laranjas" envolvendo o PSL, partido de Bolsonaro. No início de abril, em meio à inoperância do MEC, Ricardo Vélez foi convidado a se retirar do posto depois de um intenso desgaste.
Presidente bolsonaro se recupera de cirurgia
“Cada dia melhor! Hoje já caminhei, fiz atividades respiratórias, exames positivos e funções fisiológicas em plena evolução. Continuamos daqui do hospital despachando como mostrado na foto ontem e utilizando as redes sociais como divulgação de informações de nosso time”, publicou em 6 de fevereiro.
Aproximação com os EUA
“Pela primeira vez em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington. É o começo de uma parceria pela liberdade e prosperidade, como os brasileiros sempre desejaram”, escreveu ao fazer a viagem aos EUA.
Relação do presidente com a imprensa
Sofro fake news diárias como esse caso da ‘demissão’ do ministro Vélez. A mídia cria narrativas de que não governo, sou atrapalhado, etc”, publicou ao negar que trocaria o ministro. Dias depois, Bolsonaro demitiu Vélez.