O que está em jogo na definição da pré-candidatura do PDT ao Governo do Ceará
Após semanas de crescente tensão, partido tenta chegar a acordo antes de precisar recorrer a votação do diretório regional
Está marcada para esta segunda-feira (18), às 17 horas, a reunião do diretório regional do PDT para tentar resolver o impasse que, há semanas, tensiona a base governista no Ceará: quem dos quatro pré-candidatos será o escolhido ou a escolhida para disputar o Governo, a governadora Izolda Cela, o ex-prefeito Roberto Cláudio, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, ou o deputado federal Mauro Filho?
Por mais que a disputa se concentre nos nomes de Izolda e Roberto Cláudio, o cenário segue aberto para os outros dois pré-candidatos e, até mesmo, para um quinto elemento. Vale lembrar que, em 2018, o então deputado estadual Camilo Santana (PT) não constavam na lista de pré-candidatos do PDT.
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Em entrevista ao repórter Felipe Azevedo, do Diário do Nordeste, no domingo (17), o presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo, deu detalhes de como deve ser a dinâmica da reunião.
"Nós vamos tentar chegar num consenso até o limite. Caso não consigamos, vai ter uma votação. São 84 membros do diretório regional, e vai ter uma votação aberta para decidir quem será o nosso candidato ou candidata. A votação vai ser presencial", pontuou Figueiredo.
Diante do desgaste que a disputa tem gerado tanto internamente no PDT como com os aliados, o presidente estadual tem tentado emplacar um cenário de apoio a qualquer que seja a pessoa escolhida.
"Vários partidos já manifestaram esse consenso - de dizer que independente de ser a Izolda ou Roberto Cláudio, que são os dois principais candidatos hoje, 'nós apoiaremos'.
(...) O PT ainda tem uma certa resistência, mas nós estamos trabalhando para isso. Em não sendo possível, nós vamos decidir no voto", diz o deputado.
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O que está em jogo
Um dos principais temores é que haja um rompimento na base governista a partir da decisão. Partidos como PT, MDB e PP já declararam que vão avaliar a permanência na aliança caso Izolda Cela não seja a escolhida.
A governadora tem o apoio declarado do ex-governador Camilo Santana, de pelo menos 60 prefeitos e de 28 deputados estaduais que assinaram manifesto em favor dela.
O ex-prefeito Roberto Cláudio soma apoios do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT) e de vereadores do maior colégio eleitoral do Estado, e de partidos como o PSB.
Os presidentes do PSD, Domingos Filho, e do Cidadania, Alexandre Pereira, já se manifestaram pela permanência na base independentemente de quem seja o candidato ou candidata.
Ponto de conflito na disputa Izolda x Roberto Cláudio, o PT já tem se articulado para a possibilidade de rompimento com o PDT e possível palanque próprio.
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Mesmo assim, na última sexta-feira, em visita à Assembleia Legislativa, um dos líderes do partido, o deputado federal José Guimarães, adotou tom pró-aliança, apesar de ter sido um dos primeiros a declarar apoio público a Izolda.
"Nossa preocupação primeiro é garantir a aliança e, segundo, unificar em torno do nome. Só temos duas coisas no Ceará bem definidas, que é o Lula candidato (a presidente da República) e o Camilo (candidato a) senador. Tudo o mais está em aberto. Nós temos uma opção política, não é veto a ninguém, não tenho direito de sair vetando fulano ou sicrano. É uma construção política que temos que fazer com o PDT", afirmou.
Agendas separadas
Apesar do tom de parceria interna, na última sexta-feira (15), Izolda Cela e Roberto Cláudio estiveram na cidade do Crato, onde acontecia a feira agropecuária ExpoCrato, mas não se encontraram.
A governadora esteve acompanhada de Camilo Santana e de deputados federais e estaduais e, fugindo de polêmicas, manteve o discurso de unidade e disse que "a nossa palavra sempre foi defendendo a união pelo Ceará, a ampla aliança".
Poucas horas depois, a pouco mais de dois quilômetros da feira, Roberto Cláudio reuniu apoiadores no restaurante Monarca, dentre eles o próprio presidente estadual do PDT, os deputados federais Pedro Augusto Bezerra e Eduardo Bismarck e do estadual Marcos Sobreira.
O ex-prefeito ponderou que as agendas na região foram uma "boa coincidência". "Eu e Izolda somos do mesmo partido, compartilhamos o mesmo projeto. Não é uma disputa é uma dinâmica partidária", disse.
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Pontos de conflito
Enquanto isso, a ausência do senador Cid Gomes (PDT) segue gerando incômodos e expectativas.
Um post do prefeito de Sobral, Ivo Gomes, irmão mais novo de Cid, rendeu especulações neste final de semana. Nas redes sociais, ele relembrou discurso que fez na Assembleia Legislativa, quando era deputado, contra Domingos Filho, no período em que os grupos romperam.
“O último pronunciamento que fiz, alguns anos atrás, foi uma denúncia sobre o descarado aparelhamento político do Tribunal de Contas dos Municípios. Prefeitos e outros políticos estavam sendo achacados e chantageados. A chantagem consistia em aprovar ou desaprovar contas em troca de apoios a outros políticos. Fui até processado por ter feito essa denúncia. Mas o fato foi tão grave q meu partido, pouco tempo depois, liderou o processo de extinção do órgão”, escreveu Ivo.
O PSD tem tentado garantir a vice na chapa governista. O colunista Inácio Aguiar registrou a mobilização nos bastidores entorno da publicação.
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Na noite de ontem, Ivo voltou a usar as redes para repercutir bastidores políticos. Ele tentou encerrar boatos de tensão entre Cid, Camilo e Izolda.
"A proximidade das decisões naturalmente eleva as tensões e produz boatos de toda natureza. Um deles é de que nosso senador Cid estaria ausente do processo de escolha em virtude de um falso conflito com o ex-governador e nosso futuro senador Camilo Santana e/ou com a governadora Izolda Cela. Esclareço que a relação entre eles permanece a mesma. De sempre! Tudo que se disser ao contrário disso é tentativa de intriga", escreveu o irmão mais novo de Cid e Ciro Gomes.
Ontem, André Figueiredo também falou sobre a presença de Cid nas discussões e disse que o senador não está ausente.
"O Cid, mesmo distante, ele tem participado. Ciro mais presente, mas Cid também tem omitido opinião", pontou.
Na semana passada, Figueiredo chegou a dizer que Cid havia delegado ao irmão Ciro Gomes, pré-candidato a presidente pelo PDT, as articulações sobre a escolha da pré-candidatura.
"Independência do PDT"
Na quarta-feira, dia 20, começam as convenções para oficializar as candidaturas partidárias para 2022. O próprio PDT marcou convenção para o domingo, 24, em Fortaleza, no mesmo dia em que o PSD programou seu evento em Tauá. O PT deverá se reunir no sábado (23), mas ainda não está confirmado se será convenção ou encontro de lideranças.
No fim das contas, todos esperam o desenrolar da reunião do PDT nesta segunda-feira. Até lá, fica o recado de André Figueiredo sobre a autonomia do partido em tomar decisões.
"(...)O PDT é autônomo, né? Tem autonomia para decidir quem será o candidato e evidentemente apresentar para os partidos aliados. E assim nós conseguirmos construir essa unidade", ressaltou.
Figueiredo também descarta racha entre os pré-candidatos e afirma que "todos os quatro já se comprometeram publicamente a dizer que quem for o vencedor do diretório terá o apoio dos outros três".