Preso é grupo prioritário?

Escrito por Thiago Krubniki , tkrubniki@gmail.com

Entramos em 2021 com a esperança de sermos vacinados e, dentro do possível, retomarmos a normalidade. Mas um grupo específico, de cerca de 800 mil pessoas cujo contingente é de maioria negra e pobre, precisa de mais que um retorno.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo; e as condições, na maioria de suas prisões, são ideais para a disseminação de uma infecção respiratória: confinamento em celas mal ventiladas, sem iluminação solar e superpopulosas, acompanhadas da insuficiência dos serviços de saúde.

Essas características, segundo o Ministério da Saúde, levam um preso a ter vinte vezes mais chance de desenvolver tuberculose ativa do que a população em geral, por exemplo. Com a Covid-19 não seria diferente: o vírus se propaga com maior rapidez em ambientes com maior densidade populacional.

Para complementar, com as medidas de isolamento social e as visitas suspensas, os familiares se viram impedidos de entregar itens de higiene e alimentos.

O raciocínio, então, seria simples: pessoas presas estão aglomeradas e com acesso à saúde deficitário; logo, a incidência da doença seria alta dentro das unidades prisionais; sendo assim, com o grande fluxo de pessoas que passam diariamente por essas unidades, a cidade, bairro ou região no entorno poderia ser muito prejudicada.

Esse é o argumento que talvez convença um pouco mais de leitores da importância de colocarmos a população carcerária como grupo prioritário para a vacinação ou de soltarmos quem pode ser solto ou quem nem deveria estar preso, como recomendou o CNJ ainda em março.

Talvez colocando dessa forma, mostrando que pode, sim, afetar alguém além dos corpos não passíveis de luto depositados em nosso sistema prisional, surta algum efeito, pois argumentar na linha dos direitos humanos, hoje em dia, é confundido com bandeira política.

Thiago Krubniki
Cientista social

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