Nossa colheita olímpica
Finalizada a Olimpíada na Cidade Luz, é oportuno refletirmos sobre algumas questões. A participação brasileira terminou com a conquista de 20 medalhas, inferior apenas, desde o princípio das competições olímpicas da era moderna, ao resultado de Tóquio, em 2021. Naquela competição obtivemos 21 medalhas, recorde nacional, número importante que revela evolução na qualidade de nossos atletas, se comparado aos das primeiras edições olímpicas, quando a conquista de uma ou duas medalhas já era, por si só, motivo de grande alegria para nós.
De lá para cá, mudanças têm se registrado. Já tivemos algum crescimento, mas ainda muito há de ser feito para que os atletas e o esporte brasileiro alcancem maior relevância no cenário mundial. Destaque-se que, entre nossas medalhas conquistadas nos jogos de Paris, 12 resultaram da participação feminina, assinalando, pela primeira vez na história do país, a vitória das mulheres em relação aos êxitos masculinos. Foi maravilhoso ver as brasileiras Rebeca Andrade e Beatriz Souza brilharem na ginástica olímpica e no judô, respectivamente, além de Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia, todas elas ganhando as tão almejadas medalhas de ouro! Além disso, conquistamos medalhas inéditas em esportes onde jamais havíamos alcançado êxito, como a de prata na marcha atlética, obtida pelo brasiliense Caio Bonfim, e outra prata no surfe feminino, com a gaúcha Tatiana Weston-Webb. Foi também a primeira vez em que, na ginástica olímpica e no judô por equipes, alcançamos medalhas. Enfim, avanços significativos.
Neste breve balanço de nossa performance em Paris, quero lamentar que, no futebol feminino, tenhamos perdido o ouro para a equipe norte-americana, agora campeã olímpica pela quinta vez – e, em três ocasiões, como há pouco, sobre a seleção capitaneada pela alagoana Marta. Mas há que se ver a disparidade existente entre o futebol feminino nos Estados Unidos e a estrutura existente no Brasil. Para que tenhamos uma ideia, 70% das mulheres que jogam futebol no mundo o praticam na nação da América do Norte. São quase 10 milhões de pessoas! Enquanto, nos EUA, 1,5 milhão de jogadoras registradas têm idades abaixo dos 18 anos, no Brasil são menos de 3 mil. Enquanto temos, aqui, apenas 1.300 técnicos habilitados para dar aulas no futebol feminino, nos Estados Unidos são 72 mil profissionais.
Sendo esta a realidade, vê-se que a prata conquistada pelo Brasil, pela terceira vez, novamente contra as norte-americanas, foi um esplêndido resultado. Porém, considerando-se a população brasileira e o potencial que temos para expandir nossos limites olímpicos, é necessário que continuemos a investir nos nossos atletas, com estrutura, investimento e estímulo. Daí certamente advirão muitas outras conquistas. Avante, Brasil!
Gilson Barbosa é jornalista