Metrópolis ingovernáveis

Passado mais de duas décadas, a RMF tornou-se um lugar dividido e contraditório, de gestão complexa, beirando a ingovernabilidade

Escrito por José Borzacchiello da Silva , https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/
Professor Geografia - UFC-PUC-Rio e pesquisador do Observatório das Metrópoles
Legenda: Professor Geografia - UFC-PUC-Rio e pesquisador do Observatório das Metrópoles

As discussões em torno da necessidade de implantação de um sistema de governança metropolitana têm encontrado vários entraves na Região Metropolitana de Fortaleza, criada em 1973. Há um descompasso entre a gestão da capital e o amplo espaço metropolitano constituído de 19 municípios, com 3.903.945 milhões de habitantes, ou seja, 44,4% da população do Ceará, segundo os dados do Censo 2022 do IBGE. Fortaleza conta com 2.428.678 moradores.

 
A constatação do crescimento desordenado das cidades agrava, consideravelmente, a qualidade de vida, aguça o desejo do planejamento metropolitano capaz de reduzir parte das mazelas. Em1999, é aprovado o Fundo de Desenvolvimento e o Conselho Deliberativo da RMF, para adequação administrativa dos interesses metropolitanos e apoio aos agentes responsáveis pela execução das funções públicas.

Passado mais de duas décadas, a RMF tornou-se um lugar dividido e contraditório, de gestão complexa, beirando a ingovernabilidade. Em sua desorganização organizada, uma aparente lógica parece esconder a dinâmica que circunscreve favelas, cortiços e afasta os conjuntos habitacionais para a periferia. Ao mesmo tempo, essa lógica especulativa concentra espigões residenciais e comerciais, desenhando um novo perfil para a cidade. Um forte movimento político e econômico depreende a cidade da nação atribuindo-lhe uma autonomia semelhante as das cidades-estado do passado. 


O planejamento urbano, concebido como instrumento de governabilidade e de gestão do território, é constituído de um conjunto de técnicas de origens interdisciplinares. Não dá para compreender porque a RMF continua acéfala quanto ao planejamento de seu processo de crescimento. Fortaleza conheceu diversas propostas de planejamento urbano, não tendo implantado nenhuma de forma integral. Experimentou um pouco de cada uma, resultando num arremedo de planejamento. É neste contexto que surge o Planejamento participativo com seus princípios e métodos comprometidos com a produção de uma cidade melhor. Ninguém conseguiu provar que o planejamento faz mal à cidade. Ele pode não resolver a gama de problemas que afetam a vida cidadã, mas que atenua, atenua.

Esse é o princípio dos que pensam cientificamente a cidade na perspectiva de resolver, senão, atenuar os efeitos de seus principais problemas que afetam a vida urbana.

Christine Muniz é presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Seção Ceará (SBOT-CE)
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