Idioleto antiproverbial de Zé Ferrim
Anos 1970. Zé Ferrim, merceeiro na Rua Japão, bairro Montese.
Torcedor fanático do Ferroviário Atlético Clube. Eleitor do saudoso vereador Narcílio Andrade (1941 - 2018), com foto em abraço quando o político fez-se Rei Momo na Capital, emoldurada e ladeando a do seu Tubarão da Barra.
Mostrava-se letrado e usava particularidades linguísticas de um único indivíduo – o idioleto. Professores do Colégio Presidente Castelo Branco, em cervejadas, o tratavam como “Idioletista Antiproverbial”. Citavam Monteiro Lobato exímio utilizador dessa forma literária e Zé ufanava-se ante as fanfarrices – meias-verdades – dos docentes.
Ojerizava provérbios, tal e qual Seu Lunga odiava perguntas julgadas descabidas. Ao ouvir um, acrescia o que chamava remendo.
Eis alguns anotados por antigos fregueses, chegados ao hoje, com adjunções críticas ou contrárias.
“Se cair, do chão não passa.” - “E se o chão em que você estiver afundar?”;
“Não se catuca onça com vara curta.” – “Não se catuca é com vara nenhuma!”; “Amor com amor se paga”. – “Fale isso a um corno!”;
“Quem espera sempre alcança.” – “Pois fique esperando pra ver!”;
“Para o bom mestre não há má ferramenta.” – “Então, dê a ele um serrote travado e espere o resultado!”;
“O prometido é devido.” – “Diga isso a caloteiro!”;
“Quem avisa amigo é.” – “Mas de quem? E se for do Amigo da Onça da revista O Cruzeiro?”;
“Quem não tem cão, caça com gato.” – “E quem não tem gato, nem bicho nenhum, não caça?”;
“Os últimos serão os primeiros.” – “Vá dizer isso na fila do ônibus!”;
“Querer é poder!” – “Vivo querendo e nunca pude. Papo de doido!”;
“Errar é humano!” – “Explica ao delegado de Polícia!”;
Por final, há dois merecedores de destaque: “A esperança é a última que morre!” – “Mas morre, seu besta!” e
“O Seguro morreu de velho!” – “Pois saiba que o Desconfiado foi ao enterro dele e anda por aí achando graça!”.